sábado, 29 de outubro de 2011

Bem-me-quer, mal...

Bem- me- quer, mal...
por maneco nascimento
Alguns meses atrás, o noticiário nacional trouxe contumaz notícia sobre operação da polícia do Rio de Janeiro. Dessa vez envolvia o desaparecimento de uma criança, + uma entre as tantas que sofrem delitos oficiais nas franjas dos grandes centros urbanos brasileiros.
O menino Juan Moraes, de apenas 11 anos, morador da comunidade Danon, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, sofreu ação de queima de arquivo incidental, 20 de junho de 2011, após estar em área reimosa de operação policial, proximidade do beco onde teria ocorrido o assassinato de suposto traficante, Igor de Souza Santos.


(manifestação em Copacabana: Ong Rio pela Paz/foto: Bruno Boppe - Futura Press)

Sete é o número de policiais militares, lotados no 20º. BPM (Mesquita) que estavam na área de “conflito”. Quatro estão presos por terem envolvimento direto no incidente de morte e desaparecimento de cadáver de Juan e de disparos contra seu irmão W. Uma vizinha da criança e também moradora da comunidade Danon, em entrevista ao Jornal Nacional, assegurou que:
"Primeiro eles mataram o bandido, logo após o 'Juanzinho' saiu correndo, eles mataram o Juan e correram atrás do irmão do Juan. O que aconteceu, eles mataram o Juan, esconderam debaixo do sofá e trinta minutos depois eles pegaram o Juan e jogaram dentro da viatura. No dia seguinte eles vieram e queimaram o sofá para não ter provas", afirmou a testemunha. (“RJ: termina reconstituição da morte de Juan em Nova Iguaçu”, 09 de julho de 2011, 05h07, atualizado 18h31. Terra/O DIA online)
Na troca de tiros entre polícia e traficantes da Baixada Fluminense, em junho, o menino foi morto e depois o corpo jogado para perecer, de novo, em área longe do convívio dos parentes e amigos. A ossada de Juan foi achada, depois de investigações e cobrança social. Também sofreu contradições de identificação do corpo, confundido com o de uma menina pelo serviço do posto regional do IML – Instituto Médico Legal, de Nova Iguaçu.
(área de reconstituição da morte de Juan, em Danon/Nova Iguaçu//foto: Jeferson Ribeiro - Futura Press)
 A história de junho volta à tona porque o corpo teve que ser exumado para novos exames, de DNA, que debelassem todas as dúvidas sobre o cadáver. Depois de dias de espera para resultados de justiça forense, a ciência venceu. Os exames de tipagem genética por DNA, cadavérico e antropológico, solicitados por advogado de defesa de um dos PMs, fecharam todos os círculos de dúvidas.
(polícia em local da reconstituição da morte de Juan/acervo: NeroPhotoSnapViewer.File9)
A menina encontrada é mesmo o menino Juan, localizado próximo a ponte sobre o rio Botas. No último dia 28 de outubro de 2011, sexta feira, depois de um mês, pode a criança descansar, pelo menos a matéria, em paz. Foi novamente enterrada, no cemitério de Nova Iguaçu, dessa vez só com a presença de policiais. A família, no serviço de proteção de testemunha, viverá a verdadeira prisão. Os quatro policiais, detidos, seriam também suspeitos de 34 crimes em operações policiais.**
(enterro de Juan, pela segunda vez, acompanhado por policiais/acervo: NeroPhotoSnapViewer.Files9)
A Defensoria Pública do Rio pode ter esclarecido “(...) graves contradições técnicas e distorções ocorridas durante o inquérito policial (...)”* e outras questões técnicas que serão usadas em juízo. Agora, aguardar-se os desdobramentos da justiça para crime de morte, “ocultação” de cadáver e abuso de autoridade estabelecida em terras de polícia voluntariosa e dada a extermínios.
O Rio maravilha e suas praias, de turismo urbano, perfeitas é também de periferias assustadas. E, às vezes, vítima do estigma de que todo favelado é bandido e que o bom Brasil não nasce, também, nos morros e favelas. Bem-me-quer fugir dos tiroteios e dos crimes de vigário geral, da candelária e de todas as baixadas na mira policial.
(campanha pelo desaparecimento de Juan/foto: Jadson Marques - Futura Press) 
Mal-me-quer, as desigualdades sociais, o ralo fundo da corrupção e seus desdobramentos que alimentam a violência, a usura, a perfídia e os crimes (im)perfeitos à traição das gentes, algumas bem simples, filhas do Brasil, terra alegris.
“Sei que nada será como antes...”, amanhã quem sabe haveria + justiça social e noticiários menos encharcados de sangue de vítimas, sejam elas anjos ou decaídos.

·         Material de pesquisa: * O Diário de Cuiabá, na web, sábado, 20 de outubro de 2011.
                                 O DIA online
                                  ** Reportagem do Bom Dia Brasil, 27 de outubro de 2011

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