quarta-feira, 23 de julho de 2014

Louvores de chegada

porque a vida acontece
por maneco nascimento

"(...) Louvando o que bem merece/Deixo o que é ruim de lado//E louvo, pra começar/Da vida o que é bem maior/Louvo a esperança da gente/Na vida, pra ser melhor/Quem espera sempre alcança/Três vezes salve a esperança! (...)" (Louvação - Gilberto Gil)

Hoje, comemora-se na cidade o aniversário de alguém do nosso "mètier" artístico. O artista Francisco Antonio Vieira, natural de Teresina, Piauí, é da cidade verde como quem construiu a própria história à dispersão ou interesse público, enquanto fazedor de tramas e dramas e comédias na arte do fingimento.
(ator piauiense faz 50 anos, hoje./imagem face F. Pellé)

Morador do bairro Matinha, local onde Teresina veio em expansão de crescimento, ao sair dos territórios primitivos da Vila Velha do Poti, o artista começa carreira na antiga Escola Técnica Federal do Piauí - ETFPI, nos laboratórios de teatro estudantil fomentados pelo professor Francisco Gomes Campos e Paulo de Tarso Batista Lubório. Ali, entre outros exercícios do exercício de atuar, fui testemunha de montagem, para dramaturgia de cena e textual confeccionada por Paulo Libório, "Louvores de Chegada".

(Pellé e sua mãe/image face F. Pellé)

Texto pregoeiro de moção religiosa, "Louvores de Chegada" atraía a atenção do público pela dinâmica dramática e alarde juvenil dos jovens ingressos do teatro estudantil. Francisco Pellé está entre os atores e já se percebe uma energia atomizando ecos de chegada à carreira teatral. Depois, foram muitas as iniciativas e trabalho continuado de repertório à assinatura do artista.

Com passagem pelo Grupo Raizes de Teatro, como outros colegas da mesma geração, atuou em espetáculos como "O Auto do Corisco"; "Miridan"; "Elzano, os Últimos Dias". Mas foi no Harém Pictures de Teatro, criado na Mostra Chico Pereira da Silva, em 1985, que Pellé vai sedimentar a ponte ao mundo das estrelas da cena local. 

No Grupo Harém de Teatro, a memória e história do teatro de Teresina e do Estado guardam tempo a registros do ator, em carreira do Grupo que ajudou a criar. No repertório, "Raimunda Jovita na Roleta da Vida"; "Os Dois Amores de Lampião antes de Maria Bonita, só agora revelados" e "Raimunda Pinto, Sim Senhor!, a peça fenômeno de público e permanência em cena, 19 anos de estrada. Os textos de carpintaria invejável, do piauiense de Campo Maior, Francisco Pereira da Silva.

Francisco Pellé conseguiu com a peça, em que protagonizava a personagem Raimunda Pinto, uma nordestina leporina que migra ao Rio de Janeiro para vencer na vida e se tornar enfermeira, talvez seu maior trunfo de popularidade e ascendência profissional, pelos prêmios, menções, concorrência e disputa acirrada com colegas dos palcos brasileiros. 
(Francisco Pellé, cidadão do mundo e da cena/image face F. Pellé)

O Grupo e o ator chave do espetáculo receberam vários prêmios e o espetáculo percorreu grande parte do Brasil, em festivais, mostras, encontros teatrais e congressos da cena brasileira. Tornou-se uma referência do teatro piauiense por onde passou. Pellé estava lá com seu histrionismo particular e sua marca de ator.
(exercitando o drama em estúdio/image face F. Pellé)

Também armou picardias e dramas em "O Auto do Lampião no Além"; "Nabucodonosor, ou Morte no fim da Tarde"; "Dois Perdidos numa noite suja"; "Quando as Máquinas Param", "Macacos me mordam - A Comédia"; "Abrigo São Loucas", entre outras imersões do ato de seu ator e método.
(Pellé, Castro e Fefê, em Abrigo São Loucas/acervo Harém)

Dá vida o que é bem melhor de ser aproveitado e apropriado à invenção da personagem é a consciente construção da personagem. Francisco Antonio Vieira sabe que na vida pra ser melhor há espaço e espírito à esperança que está na gente e nas gentes forjadas à cena para que se alcance as gentes que recepcionam a obra que estiver sendo ampliada à compreensão do público. Isso é teatro regurgitado e poesia saltando dos versos, palavras e falas e criando ponte entre o artista e seu público.

Quem insiste, sempre consegue. Três vezes "merde" ao teatro de Francisco Pellé que já carimbou borderô na memória e história da cena local e não está prosa. Está em exercício de sempre ensino aprendizagem de uma das profissões + complexas da história da humanidade. A arte de fingir e convencer no fingimento. A mímesis da vida em licença poética, construtivismo estético.
(Maria Francisca, Maria Fernanda e Maria de Castro - Abrigo São Loucas/acervo Harém)

Octávio Paz, em sua obra prima, O Arco e a Lira, no capítulo dedicado a O Poema, defende linguagem; o poema, linguagem erguida;  a poesia; a beleza e as palavras. Para o cientista e pensador cultural, o poeta e o leitor seriam dois momentos de uma mesma realidade que, numa alternância que não seja exatamente cíclica, sua rotação engendra a chispa, que é a poesia.

Para contexto cênico, há que haver no teatro, também, a tentativa revolucionária que se apresente como recuperação da consciência alienada, e sobretudo o que essa consciência conquistada realiza no mundo e na natureza. Abra lampejos no espectador, ponte entre a criação cênica e a recepção do ato teatral.

"transtornar os termos da velha relação, de modo que não seja a existência histórica que determine a consciência, mas o inverso." (Paz, Octavio. O Arco e a Lira. trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. 368 p./[pag. 44] Coleção Logos)

E se, no princípio a palavra é verbo que encarna mágica em cena, que se faça teatro! Parabéns ao ator de teatro Francisco Pellé que completa 50 anos de vida, boa parte deles dedicado ao teatro. Merde!
(Maria Francisca[Pellé] é Abrigo São Loucas/acervo Harém)

Evoé, falas do artista dessacralizado em Baco!

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