A vida é assim
por maneco nascimento
Por mais que existam teorias materialistas
e discursos distanciados, de melhor aceitação da morte, sempre há alguns que ou
guardam certa intranquilidade com o tema, ou se chocam e levam algum tempo para
“aceitar” o inalterável, o tempo de vida para a morte natural da espécie.
Então, para tratar de desaparecidos da
cena brasileira, na semana, vou apropriar-me das expressões para entradas e
saídas do hospital e eufemizar como instrumentos de viagem ao imponderável.
Nesta semana, tivemos duas baixas. O Brasil perdeu dois
grandes artistas da cena cultural nacional, um grande ator e um grande autor. Para
nós que, por vezes, temos certa dificuldade de conviver com a natureza da morte,
morrer é uma baixa. Por outro lado, aos crentes na vida
pós-morte, a subida espiritual poderia ser identificada como uma alta, rumo às
estrelas. Jorge Dória e O. G. Rego de Carvalho concluíram seu tempo terreno e
receberam passaporte ao tempo da Luz.
(jovens Jorge Dória e O. G. Rego/divulgação)
(grande Jorge Dória/divulgação)
“Jorge Dória, nome artístico de Jorge Pires
Ferreira (Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1920 —
Rio de Janeiro, 6 de novembro de 2013),
foi um ator brasileiro.
Filho de militar, nasceu no bairro de
Vila Isabel, Rio de Janeiro. Estreou no teatro em 1942 e
no cinema em 1948,
com o filme Mãe.
Iniciou sua carreira na televisão em 1953,
atuando em uma novela da TV Tupi, Delícias
da Vida Conjugal. A carreira na TV consolidou-se a partir da
novela E nós, Aonde Vamos?, da TV Rio, quando já era um ator
consagrado no cinema e no teatro.
Atuou nas peças A Gaiola das Loucas (seu maior
sucesso como protagonista no teatro brasileiro), O Avarento, Escola de Mulheres, A
Presidenta, A Morte do
Caixeiro Viajante, entre outras.” (www.wikipédia.com.br/acesso
9.11.2013, às 15h 29)
O. G. Rego de
Carvalho era um homem sobrecomum, sempre na dele, querido pelos leitores. Eu mesmo,
em minha timidez de abordar grandes homens, me forcei a cumprimentá-lo certa
vez. Não poderia me privar de dirigir uma palavra a um dos escritores
piauienses + admiráveis. De leitura não fácil de primeira vista, mas de uma completude,
inteligência e rebuscado escrito que envolve o leitor curioso. Adoro sua
literatura.
(Ulisses e O. G. Rego de Carvalho/divulgação)
“Orlando Geraldo Rego de Carvalho (Oeiras, a 25 de janeiro de 1930
– Teresina, 9 de novembro de 2013), foi e é um escritor brasileiro. 1 Bacharel em Direito, professor e
funcionário aposentado do Banco do Brasil, O. G. Rego integrou o Grupo
Meridiano e pertence à Geração 45. Juntamente com o poeta H Dobal e o crítico M. Paulo Nunes, lançou em 1949 a
revista ‘Caderno de Letras Meridiano’, um marco dentro do Modernismo Piauiense. Foi ocupante da
cadeira número 6 da Academia
Piauiense de Letras. Residia em Teresina.
Sua obra mais marcante é Rio
Subterrâneo, quando o escritor expõe de forma crua as neuroses, conflitos, medos, loucura e solidão
de seus personagens.1
Principais obras, Ulisses Entre o
Amor e a Morte, 19531; Amarga
Solidão, 1956; Rio Subterrâneo, 19671; Somos Todos Inocentes, 19711; Como e Por Que Me Fiz Escritor, 1989;Ficção Reunida, 20011” (www.wikipédia.com.br/acesso
9.11.2013, ás 15h41)
O. G. quando ainda visto na rua,
deslizava discreto, sem nunca querer chamar a atenção, cumpria seu caminho de
vida apropriada. Não precisava ser rasgado na rua, sabia de sua obra e sua hora.
Nos eventos, era de poucas palavras,
quando provocado, mas contundente em sua economia de se fazer entender. Parecia
nos prospectar para personagem de sua ficção, mas só discrição e educação em manter-se
em seu silêncio e sua compostura poética e intelectual da prosa moderna.
Dória nos deixou dia 6 de novembro, O.
G. dia 9, três dias depois da ida do ator. O prosador partiu no mesmo espaço
tempo em que outro artista piauiense das letras rumou ao cosmo. Torquato Neto,
consta, despediu-se da vida entre o fim da noite do dia 9 e a madrugada do dia
10 de novembro de 1972. Orlando Geraldo, dia 9 de novembro de 2013. Transcende no dia
do aniversário de outro artífice da literatura nacional, de cepa piauiense.
Talvez nada os aproxime, senão uma data. Ou tudo os torne únicos, a arte de
escrever.
A vida é assim. Um dia para nascer, outro
para morrer. Jorge Dória e O. G. Rego de Carvalho ganharam alta desse canteiro
de passagem e foram assentar-se nos campos do Senhor.
Como vaticina o dito popular “Daquela
que de novo se safa, de velho não se escapa”. Nossos queridos nasceram,
cresceram, procriaram, plantaram sua arte e evoluíram para efeito de redenção.
Saudades de Dória e de O. G. Rego de
Carvalho. Que melhor nos despeçamos, destes artistas, com toda alegria. Porque de alta dessa
provação, estão em Alta fidelidade do Divino.
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