quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Louvando o que bem merece..."

 “Louvando o que bem merece...”
por maneco nascimento



Nem tanto ao céu, nem tudo à terra. Outro dia, ouvi alguém dizer numa reunião de trabalho “
ninguém é todo bom ou todo mau”. Esse divisionismo do caráter humano e cria da dualidade comportamental, por vezes, se sustenta, embora não devesse ser regra de conduta explorada. Os da terra poderiam querer todo o céu e os do céu poderiam urgir à apropriação de toda a terra não tão disponível assim, pacatamente.

De certo é que
 a ascese nunca foi obra fácil e os santos purgaram velhas culpas em nome da redenção da alma e em expiação da solidariedade aplicada ao outro, talvez como passaporte a tempos de limpo espírito, ou natureza de bondade fora do maniqueísmo do bom e do mau.

Nesses últimos dias,
 embora vivamos as mesmas e triviais cenas e notícias de violência do homem lobo da própria espécie (Hobbes), a banalidade do morde e assopra o cadáver, também convivemos com os desdobramentos do fogo de poder e política do país de mensaleiros, da era Lula. 

Estamos em dias de julgamento, pelo STF (céu supremo da justiça mortal), do caso mensalão, aquela empresa de cortesias generosas financiadas com o recurso público, que colhia apoio em democracia petista no congresso nacional.
 
(Julgamento do caso mensalão/foto de  Beto Barata/AE)


 convivemos com parlamentar que teria ganhado na loteria federal + de duas dezenas de vezes; presidente da república que pediu que o Brasil usasse verde e amarelo e o país amanheceu de preto e cara pintada; parlamentar que se livrava de seus detratores com serra elétrica; prefeito sendo assassinado por desconfiar de manobras de impostos públicos na prefeitura de sua jurisdição; negociatas e acordos com dinheiro público vazando de cuecas, meias, malas e caixas de estorno de mercado “livre” da punidade.

País sui generis,
 o Brasil é também de ex-presidente petista que não acredita na existência do mensalão. Dos fatos às circunstâncias já tivemos que conviver com as marolas, firulas e a politização dos fatos públicos, ou sinalização do desvio de conduta pública, orquestrados pela imprensa. Segundo os apontados no olho do furacão do mundinho corrupto, a imprensa seria intrometida e direcionada.

Por sorte,
 leis da mordaça e da imprensa não tiveram lugar de destaque em nação insistente em ser democrática. Bem que houve boas intenções em limitar o poder da imprensa, ou também da luz investigativa do CNJ, por exemplo. Mas todo inferno também está cheio de boas intenções.

O Brasil sempre será país para ser lembrado como terra de futebol, samba, mulata, generosidade, povo alegre e hospitaleiro e, + recentemente, de economia em franca ascendência, desbancando velhas economias. 

Também
 não poderá ser esquecido como país de altos índices de crime no trânsito, especialmente porque o brasileiro é um motorista bêbado; violência doméstica e sexual e terra de corrupção ativada com a quase certeza cultuada de “green card” da impunidade.

Mas esperem,
 há algo de muito novo no fim do túnel. A Ficha Limpa parece ser um ótimo começo. O julgamento do mensalão, também. E para louvação do que mereça ser louvado, louvemos os rumos que devem tomar esse julgamento no Supremo Tribunal Federal, com sua Corte de centrados senhores da lei de última instância.

E
 louvar boas iniciativas é lei, então louvemos Roberto DaMatta que, em seu artigo “Na porta do Céu”, publicado em O Estado de São Paulo e, no estadão.com.br/cultura, datado de 05 de setembro de 2012, às 3h12, nos mostra fábula da chegada de um mortal ao céu, enquanto transversaliza com os incômodos que vêm causando esse julgamento do STF, de características à exemplaridade jurídica para boa parte dos brasileiros.

E
 aponta, em seu texto: “Outro dia, um velho e querido amigo petista reclamou comigo da ‘politização’ do caso. Mas como poderia ser de outro modo se tudo o que era do PT (e da chamada ‘esquerda’ em geral) – do café da manhã aos desfiles carnavalescos e os jogos de futebol, sem esquecer o amor e o sexo – era (ou deveria ser) politizado? E como não ter desdobramentos políticos se o caso começa precisamente motivado por uma perspectiva da política e do poder? (...)” (DaMatta, Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de 2012, 3h 12)

E
 continua o articulista, “Por outro lado, essa politização está contida pelas etiquetas legais e pelos procedimentos jurídicos. Ninguém deseja destruir ninguém e muito menos um partido com a importância do PT. Agora, julgar aquilo que surgiu como engodo coletivo e como um plano para evitar o jogo liberal e igualitário de ganhar para depois perder e, em seguida, ganhar novamente, como sendo um evento trivial seria não somente leviandade, mas uma fuga dos desafios que a democracia demanda da sociedade brasileira (...)” (DaMatta, Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de 2012, 3h 12)

País livre para ter quem julgue o mensalão como inexistente, um mito popular. Às vezes do saci, ou caipora? Mas, como em toda democracia, há espaço também para os céticos, pragmáticos e científicos que, na aritmética das provas, discorda da inexistência do mensalão, acredita que haja justiça não viciada e vota para que mensaleiros com nomes, rostos, endereços e contas bancárias rechonchudas, mesmo que em nome das mulheres e laranjas, não escapem de justiça exemplar. O país vota um crédito na justiça.

Roberto DaMatta encerra seu ótimo artigo nos apresentando exemplo de que podemos ser país probo e livre, “Por isso, não há como fugir dessas duras viagens pelos labirintos das verdades e das mentiras. Por mais que isso aflija os que estão no mais alto poder e os que lá estiveram e se sentiram como deuses; ou fantasiaram o mundo como um circo de cavalinhos e pensaram que todos eram otários.” (DaMatta, Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de 2012, 3h 12)

Louvando o que bem merece, deixando o ruim de lado...” (G. Gil). Que louve-se o livre pensamento!

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