sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Escavações

 Escavações
por maneco nascimento
 

Dia 11 de setembro de 2012, no aniversário de 11 anos de derrubada das Torres Gêmeas, a cidade de Teresina recebeu + uma estreia de espetáculo da área de dança. O Grupo Art Dança garimpou nova empreitada, batizada de Buraco”. A apresentação deu-se no novo palco do Teatro do Boi – Complexo do Matadouro, às 19h30, para um público bastante atraente e concentrado.

Na desconstrução, de arquitetura argamassada, operários da dança erigiram novas malhas cênicas ao repertório do Grupo. Dessa feita houve nova engenharia à cena exposta. Com concepção e coreografia de Samuel Alves, criador convidado, o coletivo de dança experimentou outro material edificado dentro de canteiro de obra já contumaz de trabalho

Segundo release,
 trata-se de desvendar conflitos entre liberdade e isolamento. Refletir que embora haja conquistas, descobertas, criações, o homem permanece preso em si próprio. Segundo o tratamento de discurso à dramaturgia, mesmo que o homem desbrave limites, quebre barreiras e paradigmas, continua vivendo num vácuo, mergulhado nos próprios conflitos. As conveniências sociais que norteiam o ser humano criariam um buraco e debelá-lo seria vencer o nosso inimigo: nós mesmos!

Buraco” tem direção geral de Francisco Moreno, coordenador do Grupo Art Dança; desenho de luz, de Renato Caldas. A concepção de figurino é também assinada por Samuel Alves. 

A dramaturgia coreográfica de S. Alves aborda a liberdade de ilustrar imagens e corpos introspectos em representações de medos, frustrações, alegrias e livre pensar para comportamentos fugazes, ou detidos em sensações afeitas a qualquer geração em gênero e arbítrio, inclusive a dos jovens intérpretes bailarinos.

O rito de passagem, dramática, da cena se dá no procênio, com cortina fechada para, em seguida, mergulhar num canteiro de obras demarcado, no palco, por fitas de sinalização zebrada. Essa entrada já demonstra uma boa novidade. As movimentações de baixo plano sob o mapa da fita sinalizadora da construção, uma vida sendo domada à fuga do buraco, dado e impressionismo de recepção particular meu. 

De
 imagens ilustrativo-pedagógicas de “rastejamento” e conquista de corpos eréteis, uma teoria da evolução em fugas e eterno retorno à cratera das próprias existências conturbadas a emblemas de anatomias experimentadas. Romper as fitas do canteiro de obras, outro movimento à frente e para o alto da conquista do novo mundo.

Na desconstrução de sentidos óbvios, as cavas prospectadas aos novos alicerces se utilizam de signos da construção civil, como cones zebrados e os figurinos em listras horizontais florescentes que também causam bom efeito em contraponto com a luz. 

O corpo que dança a escrita coreográfica é composto por Alex de Jesus, Eduardo Ananias, Edimária Araújo, Maiara Castro, Isabela Martins, Wilames Portugal e Denis Aurélio. Uma juventude que viceja tônus e curiosa força determinada para resultado estético comum. Elementam simbiose de atração ao público.

Alex de Jesus e Edimária Araújo formam, na montagem, um duo bonito de ver. Ele é, destacadamente, corpo e mente + empertigado e anatomia visivelmente afinada para dança e virtuose concentrada ao belo e plástico do movimento apreendido. 

Edimária Araújo também parece muito à vontade com a experiência escolástica de aprendiz de magia da dança. + concentração dentro da arte e fora da vaidade particularizada, talvez lhe dê régua e compasso melhor apurados.

Todo o conjunto que interpreta a nova peça do repertório do Art Dança compete à mesma finalidade, alçar liberdade e representar fuga do Buraco das existências comezinhas da dramaturgia apresentada e arbitrar cultura multiplicada à força da práxis artística de melhor escolha.

Tá ai um novo projeto na rua. Sem ruas a percorrer não há caminhos a conquistar, nem palco para brilhar. Francisco Moreno que facilita a dança a esses jovens bailarinos, desde que tinham suas primeiras aspirações adolescentes, sabe em que vem aplicando investimento.

Escavações protegidas por engenharia de buscas, pesquisas de raízes d’aldeia e ciência a mens sana corpore sano engenham patrimônio e arquitetura edificados para corpos em que não há cataclismo da desrazão e insensibilidade que os abalem.

Buraco realiza uma ponte de escape engenhosa e delibera escavações para salto da natureza criativa e criadora. É bem, compõe arte.


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