quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Coração Cativado


Coração cativado
por maneco nascimento

Da fábula “O Pequeno Príncipehá uma passagem em que, no diálogo da raposa e o príncipe, fica claro que a confiança e amizade devem ser cativadas. É a lição que o animal deixa ao homenzinho.

Na comemorada data de aniversário do Theatro 4 de Setembro, início deste mês, entre as diversas atrações programadas houve a exibição de um curta metragem, dirigido e roteirizado por Franklin Pires, a partir de uma experiência mantida com crianças de uma cidade do interior do estado, durante uma oficina de iniciação ao teatro para crianças e adolescentes.

O filme, “Coração Saltimbanco” em que o articulista cultural transforma em ficção uma, sua, tirada de enredo natural, reúne para objeto de imagem em movimento e conta com a ativa participação de elenco nativo e personagens reais da história filmada. A trama, uma história do convite a um ator de Teresina para ministrar uma oficina de iniciação teatral numa cidade do interior do Piauí.

Do grupo de crianças reunido para o evento, dá-se que o ministrante ao facilitar processo para montagem deO Pequeno Príncipeacaba por escolher um pequeno, que não sabe ler, para protagonizar o exercício cênico. O menino desiste do projeto e é só então que o facilitador do curso descobre que a resistência do menor em não continuar seria por não ser alfabetizado.

No uso da metalinguagem do teatro dentro do cinema e da ficção inserida em experiência da vida real, Franklin Pires organiza uma história comovente e se apropria de seus dotes de roteirista e diretor de cinema e teatro para fechar gancho de brincar de realismo lúdico.

O elenco que compõe a fita, a criança, a mãe, o pai, a professora e os colegas de sala de aula emprestam suas próprias vidas para ilustrar a ficção. De atores profissionais só mesmo Bid Lima e Franklin Pires que fazem parte do apêndice dramático como emenda justificada do ato ficcionado. 

À explicação do deslocamento do ator ao interior para ministrar oficina, o roteiro o transforma em protagonista de espetáculo sem público. O convite à oficina seria o deus Ex-machine da peça, em cartaz, que não atrai público.

O desempenho do elenco real, sem nenhuma aptidão elaborada para cinema, demonstra a fragilidade com que corajosamente é lançado em exercício profissional de ator. Mas a atuação não compromete o filme, dá uma verdade sem maquiagem, nem empostação que hibridize arte realizada.

As licenças poéticas do diretor roteirista são comoventes, cativam quem enxerga na fita a humanidade captada pelas lentes do vídeo. A raposa fala pelas lentes do amor reproduzido através da câmara mágica do cinemim. A lição apreendida, amizade, carinho, respeito, verdade do mundo real com suas dificuldades, mas de rara beleza do simples e comum em cotidianos, por vezes embrutecidos por ouvidos moucos.

“Coração Saltimbanco” de F. Pires, uma mensagem fabular de coração cativado pela força da arte experiência e da cultura descentralizada do paradigma acadêmico e de convenção.

Consegue, o filme, reinventar a própria fábula nesse rincão de desigualdades em que vive o homem brasileiro e que, à força da insistência em escrever sua história, alcança planeta natal num salto de fantasia.


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