sexta-feira, 22 de julho de 2011

Violência por nada!

Violência por nada!
por maneco nascimento
A novela da Globo, “Insensato Coração”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, enreda em temas paralelos ao foco Léo e Norma a questão das relações de aceitação e negação da homoafetividade no seio coletivo e doméstico nacional da teledramaturgia.
Com cuidados e estratégia de denúncia e discussão, os telenovelistas vão conduzindo o tema que não poderia jamais sair mesmo da pauta social, até porque tevê também tem seu papel sócioeducativo. Exemplos de agressões moral e física já tiveram seu espaço de drama e sofrimento, apresentados à expiação do público mass media, na ficção.
Agora quando o assunto sai das páginas do folhetim e passa a preencher as policiais, ai a sociedade inspira cuidados e vigilância. Pai e filho, segundo dados e informações apresentados na imprensa nacional, foram agredidos por rapazes enquanto visitavam uma exposição agropecuária, no município de São João da Boa Vista, interior de São Paulo.

(foto: Luis Cleber/Agência Estado)

“Um autônomo de 42 anos teve parte da orelha arrancada durante a briga e seu filho sofreu lesões leves. Segundo a vítima, morador da cidade vizinha de Vargem Grande do Sul, o motivo da confusão foi ele e seu filho terem sido confundidos com homossexuais. Os rapazes, funcionários de uma serralheria no município, negaram que o motivo da briga tenha sido preconceito.” (Tatiana Fávaro d’O Estado de São Paulo/estadão.com.br/22 de julho de 2011)
“Segundo informações da equipe de investigações, as versões de ambos os agressores são semelhantes. O primeiro rapaz, de 25 anos, detido na terça-feira, disse que o autônomo deve ter se confundido, já que ele não teria dito nada sobre homossexualismo.” (Idem)
“Segundo o autônomo, ele abraçou o filho e um grupo de amigos começou a tirar sarro e a perguntar se eles eram gays. ‘Aí começou aquele empurra-empurra, que depois dispersou. Mas deu cinco minutos e eu senti uma pancada por trás, bem no queixo’, afirmou”. (Idem)
Na reportagem de Tatiana Fávaro, ainda há mais detalhes que colocam o país em estado de estarrecimento e vigilância. Os jovens e energéticos rapazes não negam a agressão contra pai e filho, mas negam a homofobia. O de 25 anos diz ter bebido e só se deu conta de arrancar parte da orelha após o ocorrido.
O colega do agressor voraz disse ter tentado apartar a briga no primeiro momento, mas em nova investida ao local participou da quizila. As câmeras do circuito interno da Feiraregistraram o primeiro confronto, o do empurra-empurra. Os médicos que atenderam os agredidos acharam mais plausível que a orelha tenha sido decepada com objeto cortante. Mas na versão de registro policial a agressão foi de mordida. E que mordida furiosa!
Em matéria de televisão, no começo da semana, se dava conta de que, entre os dados mais novos sobre assunto e os + perto do ocorrido, há algumas informações que completam o quebra cabeça do ato à violência praticada. Um grupo de sete jovens agressores e uma segurança do evento com 150 agentes, entre iniciativa privada e polícia militar.
No blog do Assis Filho, data da terça-feira, 19 de julho de 2011, a notícia fecha com a reportagem da televisão. “O delegado do 1º. Distrito da Polícia Civil de São João Boa Vista, Fernando Zucarelli, disse que foi aberto um inquérito e que já está tentando identificar os possíveis autores. A homofobia ainda não consta como crime no código penal brasileiro, mas, além da agressão, os jovens também podem responder por discriminação.”

Completa o blogueiro: “A organização da feira informou que vai colaborar com as investigações e que, no momento em que ela ocorreu, pelo menos 150 seguranças e policiais militares patrulhavam o evento.”

Entre o vácuo que envolve o momento da agressão e a fuga do flagrante, muitas versões e evidências viram poeira sobre os olhos da sociedade. De certo é que sendo gays ou não, nenhum cidadão de qualquer parte do mundo tem que virar saco de pancadas depit boys”? “skin head” e homofóbicos.

As sociedades não precisam conviver com “modelos” sociais, de grupos fechados, que disseminem apologias de violência metaforizada sob a égide de cães agressores, diferenças de peles e cabeças raspadas, ou assassinos de homossexuais.

Na novelaInsensato Coração”, a personagem de Louise Cardoso, mergulhada no exemplo de sofrimento e discriminação incrustado no cotidiano comenzinho de muita gente, dá um depoimento de ter ido visitar o filho de um amigo que sofreu agressão e teve o rosto quebrado por um chute do agressor e “tudo por nada”, reitera.

O personagem do filho, que assumiu a orientação sexual à mãe, responde que na rua eles se garantem, que o difícil mesmo é enfrentar o preconceito dentro de casa. O discurso dos autores abre a reflexão sobre garantias sociais, ou falta delas e aponta que assim como na ficção a vida real tem que ser discutida em todos os âmbitos, sejam o familiar ou o coletivo.

 A vida real é + dura que o romantismo da ficção, mas é na vida que se pratica soluções humanas para efeito de evolução social. Não há como sermos vencidos pela intolerância, discriminação e emparedamento social, aprisionados a paradigmas envelhecidos e a olhar fundamentalista.




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