terça-feira, 22 de maio de 2012

O Silêncio de Bom Jesus


O Silêncio de Bom Jesus
por maneco nascimento

No último dia 6 de abril de 2012, período litúrgico da semana santa, um grupo de atores de Teresina deslocou-se à cidade de Bom Jesus do Gurgueia. Naquela cidade, há pelo menos sete anos, o diretor Franklin Pires desenvolve uma encenação da Paixão de Cristo. 

A empresa que contrata o diretor, roteirista e dramaturgo (F. Pires) e também o elenco que vai da cidade de Teresina é a Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus. A “Paixão...uma festa planejada à cidade daquele lado sul do estado e que ganhou maior visibilidade quando os padrinhos do evento resolveram contratar celebridades.

 (Lúcifer, de F. Pires na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012/foto: portal 180 graus)

Das estrelas mass media, desse lado de baixo do equador, que passaram pelo palco da Serra de Bom Jesus, cada uma teve uma hora de brilho e ovação popular:

“Pela encenação de Bom Jesus já passaram Thiago Mendonça, um de “Os Filhos de Francisco”, não o Santo, mas o pai dos sertanejos, que tinha um Herodes qualificado; Alexandre Barilari, um Judas chorão e Fernando Pavão, um “Cristo” + preocupado com a aparência e o penteado da peruca da personagem. Guilherme Trajano chegou, viu e venceu. E compunha o judeu, não o romano. Muito branco e com a novidade de interpretar em terreno acidentado, herdou escoriações e feridas reais à pele para viver o seu Cristo, sem maquiagens dos estúdios de tevê. Depois pousou para fotos e autógrafos também (“Paixão 2º. o Outro”/www.vooz.com.br/blog do maneco/09.04.2012 às 15h52)
 
(J. Cristo, de Guilherme Trajano na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012/foto: potal 180graus)

A “Paixão de Cristo em Bom Jesusvirou um bom negócio de aceitação popular, de visitas à cidade por moradores de outros municípios e regiões do entorno, de geração de olhar e curiosidade de quem ainda se compunha como São Tomé. E não deixa de ser uma vitrine para o promotor do evento, o ator deputado estadual do PT, Fábio Novo.

Os custos da empreitada são bancados pela Caixa Econômica Federal. Os atores locais chegam, realizam maratonas de ensaios para dar margem de acerto, no projeto “tupiniquim”, aos atores vindos do eixo-sul, com suas agendas espremidas e suas estratégias de atuação pasteurizadas para estúdio de televisão.

Os esforços são compensatórios. Ao final de dois dias de ensaios corridos, com pelo menos três encontros por dia para afinar as idéias da dramaturgia e afinizá-las ao espaço físico acidentado, mas charmoso. Numa mesa de pedra, no sopé da montanha, a resposta vem como orgulho do realizado e, naturalmente, profissionalismo do elenco que contracena com a celebridade.

Há cada ano, parece que aPaixão de Cristo em Bom Jesusfica + esperta. Ganha, com a maturidade da continuidade, seu brilho natural. A montagem, deste ano de 2012, deu-se para a sexta feira, santa, dia 06 de abril. Um público extraordinário e os cortejos, no início da tarde, rumo à serra, é de imagem emblemática. As gentes simples indo ao calvário re(vi)ver a Paixão. Uma epifania no contemporâneo daquelas gentes.

Tudo parece que acaba no sucesso da apresentação. Mas ai tem uma falha trágica da produção do espetáculo: o pagamento dos artistas locais. Seguramente a celebridade, do eixo nacional, não fica esperando por até 46 dias (data de hoje, 22 de maio de 2012) para receber seu “pro-labore” pela atuação.
Fica aos artistas de Teresina a herança de concorrer às falsas expectativas de receber o retorno financeiro de seu trabalho. Há, pelo menos, + de vinte dias que as evasivas ganham as + criativas justificativas. 

Primeiro havia que reunir as notas de ISS de todo o grupo, depois o produtor executivo, Carlos Anchieta, tinha que voltar de Brasília para liberar o dinheiro, já depositado na conta da Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus. Essa conversa fiada, que empurra solução a cada sexta feira de cada semana e o tempo desde a apresentação concluída, jaz 46 dias de espera.


Hoje, + uma vez recorri à equipe de produção, em Teresina, para obter algum sinal real sobre o pagamento. E, + uma vez, a justificativa é que o produtor C. Anchieta estará chegando na cidade, na quinta feira, 24 de maio de 2012, para executar o pagamento na sexta feira, dia 25/05/2012.  Esta será a terceira sexta feira gerada como expectativa ao pagamento dos atores e técnicos envolvidos naPaixão de Cristo em Bom Jesus”.

O que falta aos promotores e executores do evento, com recurso de estatal que não falha, para pagar os artistas locais? A CEF terá dado um calote na Associação? Muito difícil, ela trabalha com rubrica específica para projetos culturais. Então onde está o dinheiro que, segundo os promotores do evento, já depositado na conta da Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus?
 (Pedro, de Marcel Julian em contracena com Bruno Lima e Fernando Goldan, na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012, foto: divulgação)

Por que é tão difícil a promotores culturais, que lidam com recurso público e contratam artistas, cumprirem, eficientemente, sua parte em contrapartida ao trabalho já despendido pelo profissional da área da cultura?
Bom Jesus está silencioso, porque não fala mesmo, especialmente nessas circunstâncias que envolvem dinheiro. Mas a Associação dos Filhos e Amigos tem voz e arbítrio para sanar a dívida com o elenco contratado para os primeiros dias da semana de abril. 

Com a palavra o Presidente desta Associação que representa Bom Jesus e que, também, deve ter filhos e amigos que precise honrar. Fala que a gente escuta e só não compreende o que não houver razão justificável.

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