domingo, 10 de janeiro de 2016

Contos da cidade esquizofrênica

carinho à faca
por maneco nascimento

Às 11h e 39 minutos começou uma discussão na cozinha ao lado.
a mulher - não enche!
A discussão evoluía, envolvia família, ir e vir à casa dos idosos. Era para uma disputa de importância entre parentes, familiares. A mulher veio de lá.
a mulher - Me dá essa faca.
Ouviu-se um estalar. Um som estridente de pano de faca na pele flácida e gorda. O homem aquietou-se de uma insistente conversa que vinha irritando a mulher. Em seguida, ouviu-se um abrir e fechar de portão de ferro corrediço. Barulho peculiar de ferro rompendo ferro, friccionando o trilho. Por duas vezes o portão abriu-se, com meia violência, e depois foi fechado com mais brandura, de contenção nervosa.
Na cozinha havia um bater violento de faca cortando carne. As pancadas reverberavam na base da pia e ganhavam ecos ao tempo e vento. "Tum, tum, tum..."
No resto da casa um silêncio sepulcral, preciso, e colhido à base de violência do pano de faca disciplinador.
As conversas, desde cedo, amiudadas pelo encontro de visitas e outros que seguiram depois, haviam passado. As últimas foram silenciosamente preservadas, interrompidas à força da lâmina de faca tatuada na pele.


Coda - Foi uma manhã de domingo estranha. O mundo está mais violento, selvagem e uns avançam contra os outros, no ambientado da vidinha doméstica, já mais esquizofrênica. É. São tempos de violar respeito e amores prometidos a quem um dia foi a tábua de salvação da vida sonhada.

Coda 2 - Fim de registro da violência amolada a idoso. A faca, esquecer em que carne foi usada.

Coda 3 - O silêncio das horas. De dor e remorsos. De culpas e perdões pensados. De reflexão à mea culpa, ou fingir-se de morto.


PS.: essa é uma obra ficcionada. qualquer semelhança com a realidade seria obra de observação curiosa de personagens saltadas de obras Doyle ou Christie.

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