sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Leitura, conserta.

olhares abertos
por maneco nascimento

O facilitador das Leituras Dramáticas (Projeto Sesc Dramaturgia Leituras em Cena), o senhor Rafael Lorran, disse, ao final dos dois dias de exercícios dramáticos e acepção dos textos selecionados, que a proposta do Projeto é aproximar leitores dos dramaturgos escolhidos e abrir novos olhares ao universo dos autores.

Disse ainda estar muito satisfeito por cumprir + uma etapa, nesse papel de consultor, às Oficinas de Leituras, e que a cidade de Teresina conseguiu bom resultado. Que a quebra de paradigmas ortodoxos e aberturas à (re)leituras de textos, que sempre trazem uma reflexão e contextualização aos temas locais e discussões da arte e memórias do artista autor, é mote de qualidade e valorização da cultura nacional, enquanto transversaliza assuntos de natureza universais.

Na noite do dia 7 de outubro de 2014, + dois Grupos e duas novas Leituras tiveram vida artística realizada na Casa da Cultura de Teresina. A primeira Leitura, “O Castigo do Santo”, às 18 horas, na Galeria de Arte “Lucílio Albuquerque” e, às 19 horas, no Varandão da Casa da Cultura, o segundo Grupo apresentou olhar aberto a um dos autores selecionados e à obra “Reino do Mar Sem Fim”.

No primeiro momento, o texto “Castigo do Santo”, do maranhense Aldo Leite, recebeu o tratamento do Coletivo Piauhy Estúdio das Artes, através da facilitadora, atriz e diretora, Silmara Silva. Um texto, a gênero de comédia de costumes, ganhou voz dos atores e atrizes/leitores, componentes e convidados do Piauhy Estúdio das Artes às vozes da cidade de “Bom que Doi”.
(em cena Déborah Radassi , Vitor AlmeidaNanda SouzaErica SmithWaldfran Soares e Juval/foto Silmara Silva)

Os atores e atrizes/leitores empertigaram ação em reproduzir fidelidade e felicidade à narrativa divertida e recheada de fuxicos, futricas, maledicências, pecados e erros e conveniências políticas, jogados embaixo do tapete social e imunizados pelos acordos e interesses dos cidadãos da pequena cidade, forjada por Aldo Leite.
(a diretora Silmara Silva e o elenco de leitores de "O Castigo do Santo/ft. Silmara Silva)

Pela força da fé testada “O Castigo do Santo” chega a galope e até dá voz ao mudo da cidade, novidade transformada em milagre, do Santo. O elenco da Leitura à obra de Aldo Leite, na noite do dia 7 de outubro, conseguiu não só prender a atenção da assistência, como implementou uma dinâmica de compreensão e apreendeu o riso e bom humor contidos na carpintaria aldoleiteana.

Na escolha, da direção, de caracterizar as personagens que chegavam primeiro na cena, na medida que a Leitura exigia a apresentação de + personagens presentes na história, acabou por “embaralhar” a imagem em que intérpretes/personagens traziam de entrada. Mas embalaram criatividade concentrada para trazer vida às outras sugeridas pelo texto.

Se houve um mix de várias personagens às mesmas caracterizações de figurinos, este não comprometeu o entendimento da interpretação/encenação do material lido. O elenco traquejou ritmo divertido e ocupação espacial cênica equilibrada e devolveu ao público atento as vozes sociais do enredo humorado.

Silmara Silva soube conduzir com eficiência e destemor de aplicar o pulo da gata, de salto, e deu-nos um Aldo Leite bem presente e crítico reflexivo, através da comédia de costumes, sob efeito bem explorado pelos leitores/intérpretes na leitura de “O Castigo do Santo”. O Piauhy Estúdio das Artes fez + uma das suas e leu a cartilha sem pestanejar.

A segunda atração de jogos dramáticos de leitor, na noite, 19 horas, trouxe o Grupo Raízes de Teatro e seu momento de Dramaturgia Leituras em Cena. O texto, “Reino do Mar Sem Fim”, de Francisco Pereira da Silva.

O piauiense de Campo Maior, Chico Pereira da Silva, um dos + respeitados dramaturgos nacionais pela acuidade em que valorizou a aldeia local, sem mistificar a carpintaria teatral, e por aplicar tratamento universal aos temas trazidos em sua dramaturgia.

O exercício de Leitor teve a facilitação de Lorena Campelo, que dirigiu a encenação/Leitura e aproximou nossos olhos e ouvidos do universo místico chicopereireano, presente na denúncia do mundo de misérias, crenças, favores do e ao Santo de proteção da fé de povos ribeirinhos do mar sem fim.

A escolha de encenação que espacializou um corredor de memórias, iconizado pela presença, em pedestal, da Mãe Janaína, viva, à interação de efeitos sonoros e emblemas de passagem do tempo e marcação do transe e trânsito das personagens reiteram o objeto dissecado. As personagens/leitores circulam entre a casa, delegacia de polícia e terras de praia e mar, numa cenografia muito confortável à compreensão da Leitura.

As idas e voltas no tempo psicológico de “Reino do Mar Sem Fim”, aplicadas por Lorena Campelo, guardam a ambientação eficaz de cenário e dão aos intérpretes possibilidades de narrar e tratar os apegos e desligamentos do drama e tragédia anunciada. Os narradores mergulham na história contada, enquanto versam os sentimentos prospectados pelo autor em obra trágica.

Já o tempo de leitores pareceu truncado. Alguma dispersão e desconcentrado de particular emoção dos intérpretes, ao lidar com texto quente e direto de Chico Pereira da Silva, acabou atropelando o nível de Leitura. Inflexões frias e demarcadas, com pouca atenção e intenção presentes na obra original, acabaram por medianizar o ato lido.

Figurinos representativos das personagens e identitários da narrativa, sem qualquer dúvida. Os objetos de cena (adereços, contrarregra), também implicados na estética e plástica da dramaturgia de direção da Leitura, confirmaram entendimento da obra e maturidade de personalizar a encenação.

Mas, um ruído na comunicação se percebeu na intranquilidade em lidar com a Leitura. Tropeços na obra lida, que poderia estar + afinada no exercício dos intérpretes. E uma pequena desconcentração de algum leitor, que acabou por enfraquecer o exercício.

De certo é que o Ciclo de Leituras Dramáticas (Projeto Sesc Dramaturgia Leituras em Cena) cumpre muito bem seu papel e merece ser reclamado pelos artistas da cidade, para que seja mantido como o dessa última Edição, dias 06 e 07 de outubro, em que quatro Grupos lançaram olhar e debruçaram-se sobre o universo dramático de Aldo Leite e Chico Pereira da Silva.

Parabéns aos Grupos Cabeça de Sol (Jean Pessoa); Metamorfoses de Teatro (Alex Régis), Piauhy Estúdio das Artes (Silmara Silva) e Grupo Raízes de Teatro (Lorena Campelo). Ler +, ler sempre e ler como Leitura do mundo. Evoé!

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