quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Lavagem do Benedito



A Lavagem do Benedito

por maneco nascimento

A cidade de Teresina, como qualquer outra brasileira, também comemorou o Dia Nacional da Consciência Negra. Celebrado em 20 de novembro, dia emblemático de conservação da memória nacional de resistência ao determinismo colonial e filho de brancos que povoaram os primeiros momentos após a desenvoltura do achamento do Brasil. 

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A semana dentro da qual está esse dia recebe o nome de Semana da Consciência Negra. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro (1594).” (www.wikipedia.com.br/acesso: 21.11.2012, às14h 46)

As manifestações, na cidade, deram-se desde a simbólica lavagem das escadarias da Igreja de São Benedito até show com grupos de manifestação afro-descendentes e artistas locais, na Praça Pedro II, que perpetuam a própria sobrevivência e reiteram resistência sóciocultural nessa Teresina de + de 800 mil habitantes, entre negros, mestiços, mulatos, pardos e os brancos reclamados.

Algumas entidades como o Movimento Negro (o maior do gênero no país) organizam palestras e eventos educativos, visando principalmente crianças negras. Procura-se evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade. Outros temas debatidos pela comunidade negra e que ganham evidência neste dia são: inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, se há discriminação por parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, etc. O dia é celebrado desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos. (www.wikipedia.com.br/acesso: 21.11.2012, às14h 46)

(Busto de Zumbi/imagem acervo: pt.wikipedia.org)

Dos 400 anos de escravidão brasileira, uma das piores chagas da humanidade reproduzida nesse país, houve sempre a difícil, mas necessária e incontinenti resistência dos povos que, aqui trazidos, foram transformados em força de produção e aparelhos de reprodução de trabalhos escravos. Não tão passivamente assim, viveram quatro séculos de muita dor e maus tratos até que, organizados, foram quebrando, insutilmente, a infâmia do domínio branco e de seus apaniguados.

Zumbi dos Palmares, entre outros, tornou-se elementar a essa resistência à própria sobrevivência da espécie livre e da política de libertar seus pares. 

Zumbi dos Palmares - Líder escravo alagoano. Símbolo da resistência negra contra a escravidão, é o último chefe do Quilombo dos Palmares. Zumbi (1655-20/11/1695) nasce na comunidade de Macaco, na Serra da Barriga, capital de Palmares. Ainda criança é capturado por soldados e entregue ao padre Antônio Melo, que o batiza com o nome Francisco e o torna coroinha. Aos 15 anos foge para Palmares e adota o nome Zumbi (guerreiro).” (www.dialetico.com/Projeto África/acesso: 21.11.2012, às 16h22)
(Zumbi dos Palmares/imagem acervo: portalsaofrancisco.com.br)

Das manifestações na cidade ao Dia da Consciência Negra, o Grupo Cultural Coisa de Nêgo tem desempenhado a atividade de lavagem da escadaria da Igreja de São Benedito. Templo de Padroeiro a Santo negro, numa igreja ao rosário de pretos na liturgia à história religiosa no Brasil. 

Localizada entre as Praça da Liberdade e São Benedito, na área mais central da cidade, é o terceiro mais importante templo católico construído em Teresina, sendo as outras - Igreja Nossa Senhora das Dores e Catedral de Nossa Senhora do Amparo (Padroeira) - os principais templos da cidade. A pedra fundamental da Igreja de São Benedito foi lançada em 13 de junho de 1874, e sua sagração se deu em 03 de junho de 1886. A igreja demorou 12 anos para ser concluída pelo missionário capuchinho italiano Frei Serafim de Catânia, da ordem dos franciscanos, que veio para Teresina em 10 de maio de 1874.” (www.wikipedia.com.br/ acesso: 21.11.2012, 17h58)

(Igreja de São Benedito/foto: wikipédia.com.br)

Ali, no adro daquela Igreja, são realizadas manifestações religiosas, artísticas e culturais, haja vista ser em área de logradouro público. Área externa também a orações, devoções às almas e aflitos necessitados de boa sorte. A igreja em seu suntuoso arquitetônico tem

inspiração romântica com fachada trabalhada voltada para o oeste, planta em cruz latina e abside posterior ao altar-mor, com alto zimbório e majestosa escadaria de pedra que leva a seu adro. Seu portal é arqueado. Uma estátua em tamanho natural do santo padroeiro encontra-se em seu frontispício, entre as torres sineiras de zinco dadas pelo papa Pio XII.” (www.wikipedia.com.br/ acesso: 21.11.2012, 17h58)

O Santo, São Benedito, o mouro, de pais africanos da Etiópia cresceu em sua fé na Sicília-Itália. O Pai, vendido a um rico fazendeiro, Vicente Manasseri, teve que adotar o nome do senhor, ficou Cristóvão Manasseri. A mãe de Benedito, embora libertada, conservou o sobrenome herdado do senhor e se chamou Diana Larcan. Na Sicília, os pais de Benedito se conheceram, se apaixonaram e se tornaram cristãos, casando-se na igreja católica. 

No ano de 1526, nasce o primeiro filho do casal e na pia batismal recebe o nome de Benedito = “Abençoado”, e o maior presente que o pequeno Benedito recebeu foi a carta de alforria do senhor Manasseri.” (marcioreiser.blogspot.com/A História dos Santos: São Benedito[O Mouro])”
(São Benedito (O Mouro)/divulgação)

Pois nesse adro, público, da Igreja de São Benedito, Casa de santo negro também de nossa devoção, à tardinha de 20 de novembro de 2012, houve um “incidente”, envolvendo o celebrante daquele templo, padre Ricardo e o Grupo Cultural Coisa de Nêgo. A autoridade eclesiástica tentou frear a manifestação religiosa afro-descendente que se articulava naquele adro e escadarias da Igreja.

O senhor Ricardo padre argumentou, entre outras coisas, se dirigindo a um componente do coletivo cultural, acerca de ecumenismo e respeito à religião alheia (a da igreja católica apostólica romana): “Você sabe o que é o ecumenismo? É ter respeito pela religião alheia.”Tentou também dissuadir o grupo a parar a manifestação em nome de sua missa em celebração.

Parece que o ecumenismo ficou meio enviesado no discurso do pároco. Houve quase um bate boca entre o “ecumenismo da igreja católica” e a natural manifestação de ocupar logradouro público, o adro e escadarias da Igreja de São Benedito. De lado a lado, cada qual no seu quadrado e com sua convicção religiosa define seu discurso. De sorte é que na Bahia de todos os Santos o discurso separatista de religião de brancos e negros parece que caducou há muito tempo.

Por aqui, com as “bênçãos” de São Benedito e de todos os Orixás, vamos seguindo a vida e, seja na porta, no adro, nas escadarias e nos templos dos Santos, a fé não tem cor, tem ética de construção antropológica e de sobrevivência igualitária de manifestação, queiram os padres ou não.

Que a lavagem do Benedito vire memória social. Deus salve a liberdade de expressão sociocultural!

2 comentários:

  1. Já conseguimos algum sucesso. Temos mto a vencer. Nos restam a coragem, disposição, perseverança e a fé de que,algum dia, seremos livres, inclusive, para nossas manifestações culturais.

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  2. não sem resistência e determinação em continuar combatendo quem tenta encolher direitos universais

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