quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"Sou Francisco"

“Sou Francisco”
por maneco nascimento

Recentemente li, com muito prazer de descoberta dessa leitura, uma biografia feita à própria memória, sem consultar ninguém, como defende o autor. Feito a partir das próprias lembranças que foram assomando-se aos capítulos do livro intitulado “Sou Francisco”, em idas e vindas que finalizaram uma boa leitura da memória, história e vida rica de profissional da rádioteledramturgia nacional.

O livro, no primeiro capítulo, apresenta o artista: “Eu sempre digo que sou ator porque esqueci o tênis. Isto pode não ser uma verdade absoluta, mas é relativamente uma verdade (...) Por acaso eu sou ator. Talvez eu não seja o ator que imagino(levando-se em conta o que todos imaginam ser um ator), mas ator, porque dois terços da minha vida eu dediquei a este trabalho onde um cara faz o papel de médico ou palhaço, de chofer ou milionário, de mendigo ou pastor de almas, seja lá que personagem for. E isso é o que faço.”(Anysio, Chico. Sou Francisco. Rio de Janeiro: Rocco,1992. pag. 9)

No decorrer do corpo do livro, trabalhado pelo cearense de Maranguape, Francisco Anysio, se descobre o que representa um tênis na decisão de tornar-se ator e não jogador de futebol. Ganhou a rádioteledramaturgia brasileira. A cada capítulo é desvendado o papel do grande artista Chico Anysio. E como sua vinda do Ceará ao Rio de Janeiro deu ao rádio, início de carreira na Rádio Guanabara, com rádioator(em sétimo lugar no teste) e locutor (em segundo lugar) e à televisão que começava a criar forma e abrir desempenho ao que hoje se estabelece como sinais de domínio de mercados.
(chico anysio ao vivo/foto: grandesimagens.com.br)

Ator, humorista ou comediante? Chico Anysio se encaixa nas três categorias com talento, charme da profissão e dedicação provada a perder de vista. Quem nunca viu um tipo ou personagem ímpar de Anysio. Não fosse nos programas de humor, na televisão, vide papéis inclusive dramáticos no cinema. Cito o pai de Tieta do Agreste, na telona, por exemplo.

 
Anysio assim se define quando faz “critica” aos críticos, que segundo ele, como as demais pode ter sido ridícula: “A minha dúvida de ser ou não ser ator é produzida pelo descrédito dos críticos do meu país, que sempre preferiram me chamar de humorista ou de comediante, (...) Sou um ator, queiram eles ou não. Desde o rádio, época em que muitos ainda nem tinham nascido, até à televisão, veículo onde a crítica perde, inclusive, o sentido (...) deixe-me explicar que nunca me senti diminuído ao ser chamado de humorista ou comediante, porque isso eu também sou, orgulhosamente. Se me permitem: ‘modéstia-à-partemente`.”(Idem. pags. 9, 10)
(chico anysio: professor raimundo canavieira/foto: popero.net)


Aos que tiveram o privilégio de acompanhar as rádionovelas e os grandes astros dessa linguagem que encantou ouvintes nos distantes rincões brasileiros sabem bem do que fala Chico em suas memórias. Com o advento da televisão os rádioatores, criadores, redatores, diretores e toda uma gama de profissionais da dramaturgia do rádio migraram, naturalmente, para essa novidade que envolvia não + só a voz e os efeitos especiais, mas trazia também a imagem.

(chico anysio: salomé de passo fundo/foto: televisão.uol.com.br)

O rádio não desapareceu porque as vedetes da locução já existiam e permanecem até hoje nos novos contextos midiáticos. Mas àquela época Chico só se ressente do número de horas que gostaria que fossem maiores para trabalhar mais, “A grande falta que sempre senti na vida foi de dias mais longos, para que eu pudesse espalhar por muitas horas extras a compulsividade do meu trabalho. Trabalhar, para mim, é tão importante quanto respirar (...) Creio que esta é a razão de poucas vezes ter dito não a qualquer trabalho que me fosse oferecido (...)” (Idem. pag. 10)

(chico anysio: painho/foto: abdic.org.br)

E continua: “(...) Isto talvez explique o fato de ter sido, a partir de 1948, locutor, narrador, galã de novelas de rádio, locutor ‘atrás do gol`, locutor de futebol no segundo jogo, comentarista de futebol, locutor de radiobaile, ator característico, novelista, redator de todos os tipos de programas do rádio, teleator, escritor, autor de letras de música, compositor, imitador, pintor e ainda ter tido tempo de namorar centenas de vezes, casar cinco e produzir cinco filhos, por enquanto.” (Idem. pags. 10, 11)

As memórias de Anysio, um cabedal de pesquisa para estudantes da comunicação social, porque traz riquezas de detalhes de épocas, nomes do rádio e da televisão brasileira, nomes esse que muitos, salvo os que encantaram-se, ainda brilham em veículos de comunicação de massa, com muita honradez da profissão.

(chico anysio: bento carneiro, vampiro brasileiro/foto: chicogeeko.com)

O próprio Chico Anysio, se a idade e problemas de saúde não o impedissem de trabalhar, ainda estaria com certeza preenchendo esse rico espaço do humor nacional, com seu talento, sem precedente, e tamanha energia criativa para o diverso.

Chico Anysio fala do progresso que acompanhou nesses anos de trabalho, e olha que o livro de memórias data do ano de 1992, de lá até esses primeiros dias do ano doze do século 21, já se vão outros vinte anos. O autor aponta que o progresso o afasta de encontro com velhos amigos de profissão, das conversas em bares e noites cariocas “(...) Eu adoro o progresso. Tanto quanto o odeio. Ele não me deixa participar do todo (...)” (Idem. pag. 42)

(chico anysio em entrevista/foto: hojeemdia.com.br)

Para Chico o progresso limita seu trabalho, tira-lhe a chance de participar do geral. “(...) Ainda bem que eu pude aproveitar aquela época romântica, dos bondes, dos realejos e dos caminhões de laranja (...) Saudosismo à parte, a verdade é que quem não viveu no Rio de Janeiro entre 50 e 60 não sabe o que perdeu.” (Idem. pag. 42)

De Chico, só ótimas lembranças dos tipos característicos, impagáveis, que construiu à televisão brasileira. Acompanho, desde criança, essa façanha do Chico Anysio e seu exemplar show de humor, na tevê Globo que afirma ter ajudado a construir.


(chico anysio da tevê/foto: businesstelevision.com.br)

Ator, comediante, humorista. Um grande homem, grande artista inigualável que atesta que Sempre detestei a piada-pela-piada, a graça ‘de graça`, porque na minha concepção, humor é algo que pode ser tudo, até mesmo engraçado. Charlie Chaplin prova isso.” (Idem. pag. 12)

Grande Francisco!

Um comentário:

  1. Também adoro esse fenomenal humorista, escritor, ator e compusitor Chico Anísio.

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