sábado, 13 de abril de 2013

"20 é poucos anos"


 “20 é poucos anos”
por maneco nascimento

A palavra imagem possui, como todos os vocábulos, diversas significações (...) figura real ou irreal que evocamos ou produzimos com a imaginação. Nesse sentido, o vocábulo possui um valor psicológico: as imagens são produtos imaginários (...) Cada imagem – ou cada poema composto de imagens – contém muitos significados contrários ou díspares, aos quais abarca ou reconcilia sem suprimi-los (...)({Imagem} Paz, Octavio. O Arco e a lira. Trad. Olga Savary. Rio de Janeiro: Noiva Fronteira, 1982. 368p. [Coleção Logos])

20 é número que beira à maioridade civil e, em se tratando de arte, sem perder o oficioso, é também tempo computado na licença poética, de existir e fazer memória de atuação à manifestação da dança local. 

O Balé da Cidade de Teresina, mantido pela Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves abriu festejos para o aniversário de vinte anos, em junho próximo.

(Só não falamos a mesma língua/foto: Kelson Fontinele)


A Cia. de dança moderna, nesse contemporâneo da linguagem visitada, mostra a sua arte em temporada no palco do Complexo Cultural do Matadouro - Teatro do Boi. O período, 12 e 13 de abril de 2013, às 19 horas. 

No cunho de também realizar ações que incrementem a dança, em caráter sócio educativo, de parcerias de cena, abre espaço em seu caminho artístico e inclui, na temporada, Cias. e academias da cidade, convidadas a engrossar os festejos.

No dia 12, sexta feira, antes da apresentação de “Só não falamos a mesma língua”, com coreografia de Nazilene Barbosa, o palco recebeu a turma da oficina de dança do TBoi, facilitada por Kiara Lima, com a coreografia “Embolada”. Inclusão de arte e cultura desempenhada pelo criativo e ascendente laboratório de dança da Casa.

A atração anfitriã, “Só não falamos a mesma língua”, bela peça de atenção e deleite de quem absorve poesia, através de imagens e corpos, em questionamento e ou transmutação de significantes e significados ao olhar da diversidade.
(Só não falamos a mesma língua/foto: Victor Gabriel)

(...) A imagem é cifra da condição humana. Épica, dramática ou lírica, condensada numa frase ou desenvolvida em mil páginas, toda imagem aproxima ou conjuga realidades opostas, indiferentes ou distanciadas entre si. Isto é, submete à unidade a pluralidade do real (...)" (Idem)
(Só não falamos a mesma língua/foto: Victor Gabriel)

Através da dança que desenvolve para linguagens e lingüística, de aproximação e apropriação, do meio em que está inserido, como sujeito de representação da dança, na cidade, o BCT também cifra sua condição humana por corpos que escrevem poesia, em seus meneios sincrônicos e assincrônicos coreográficos. E repetem, “Só não falamos a mesma língua!”

Nazilene Barbosa que provoca nos artistas do elenco, dessa montagem, a condição humana de discutir, refletir, desdobrar a identidade contida em cada um, aproxima realidades opostas, “indiferentes” ou distanciadas entre si. 

E, como abre sentido o cientista da linguagem, O. Paz, com incurso de submeter os estímulos e respostas à pluralidade do real, presente em cada um dos intérpretes/criadores e no público presente ao resultado do espetáculo.

“Só não falamos a mesma língua” é de práxis estética apreciável, divertida, com uma dose de humor reverberado nas silenciadas indisciplinas que ousam violar as regras. O diverso das individualidades confrontado com os signos das formas pré agendadas à convenção e fórmulas do sucesso tabelado.

O elenco que reescreve a dramaturgia planejada, através da lingüística dos corpos, está muito tranqüilo e em sincero deleite de repercutir “danço, logo existo”. Desloca-se, em sinais e emblemas simétricos e assimétricos, à partitura sentimental e dramatiza com eficácia, de entendimento e distanciamento, o objeto laborado.

Em espírito de Babel, conflui-se a obra mapeada à pluralidade do individual, em reiteração do bem coletivo de identidades espiadas e gracejadas ao efeito de crítica reflexiva do ser no outro, contido no eu apontado.

“Só não falamos a mesma língua”, mas se dança no universo do real comum a qualquer um, mesmo sob o signo do diferente apresentado.

(Só não falamos a mesma língua/foto: Kelson Fontinele)

Sábado, 13, o BCT repete a dose de “Só não falamos a mesma língua”, não sem antes abrir luzes também a iniciantes e iniciadas na dança. A coreografia “Cocaiando”, de Cinthia Layana, com as alunas da oficina de dança do Teatro do Boi, defende seu próprio ato para público curioso.

Balé da Cidade de Teresina e seus convidados são agenda necessária de ocupação da pauta cultural da cidade, no Teatro do Boi, às 19 horas. Quem não gosta de samba, pode gostar de dança e recorrer à agenda deste sábado, 13. Ainda dá tempo e a dança se garante. 

“20 é poucos anos”. O BCT sabe o porquê da sua dança. Seu histórico está na rua, na praça, no palco e na memória da cidade. Confere pra gente ver!

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