quarta-feira, 6 de março de 2013

Edith Riso


Edith Riso
por maneco nascimento                                                

A Semana d’Elas iniciada na sexta feira, dia 1 de março, e que segue até sexta feira, 8, Dia Internacional da Mulher, com programação preparada para acontecer no Espaço Cultural “Osório Jr.” e Bar do Clube dos Diários, recebeu nesta última terça feira, 5, a divertida versão piauiense de “Apareceu a Margarida”, de Roberto de Athayde. Facilitada por Avelar Amorim e interpretada por Edith Rosa, a personagem à montagem ganha um ar mais leve e de histrionismo farsesco.

De todas as versões vistas, anteriormente, sempre havia um humor contido, naturalmente, no texto, mas aplicado de forma muito rígida. Talvez por ficar na leitura tradicional do contexto subliminar histórico e também político, em discurso implícito, de teor coercitivo e impositivo da época da ditadura, porque dramaturgia datada. Montagens eficientes, mas de matéria dura.

 Com Edith Riso, digo, Rosa, há um arbítrio que faz com que o público se desarme, sem culpas, das falas sociais da professora tradicional que impinge sua classe de assistência a sofrer ameaças e aprender biologia, numa aula de sacanagem. Edith, com uma veia natural ao histriônico, está muito à vontade para vomitar a aula de Dona Margarida, em zona franca, livre das amarras de direções engessadas e arbitrária a perder de vista o perfil da professora de hardware violento, vociferante, ameaçador e sacana em zanga fácil.

Nesse desenho, para Edith Rosa, pensado por Avelar, é incluído um partner (Eristóteles Pegado) como ilustração da personagem do aluno que sofre as intervenções, de Dona Margarida, dirigidas a sujeito real na aula instalada. Quebra a cartografia monologar ao criar vínculo de dialogismo com o escolar “imaginário”.

Tudo gira em torno da classe e, volta e meia, do aluno real. Tudo gera um bom riso, seja pelo escatológico apresentado, seja pela surpresa da cena posta, ou da naturalidade escrachada com que a atriz desempenha a Margarida, sem perder o Athayde, nem muito menos o estilo particular de interpretar, despendido por Rosa.

 A apresentação do dia 5 de março, a partir das 20 horas, caiu como uma mão na luva ao riso e ao entretenimento e veio dentro da semana em que se comemoram os festejos ao Dia Internacional da Mulher. De Margarida para Edith e de Edith para Margarida, passando por Athayde e Avelar, a deleitosa Dona Margarida ganha a platéia.

 Sai da cena da mesma forma com que entra, com graça divertida, com força e energia consignada para fazer rir e com a estatura de atuação grande, da intérprete, mesmo que para atriz de estatura média, mas que transforma a cena comum em grave riso e alça a performance para ótimo exercício da atriz, em construção da personagem, do repertório de criações individuais.

O Projeto das terças feiras, “Eu, você e o teatro da minha vida”, do Bar do Clube dos Diários, festeja de mulher pra mulher, a Margarida da Edith Rosa. E, pelo riso na janela do teatro, homenageia as mulheres artistas, atrizes, dramaturgas, diretoras de cena, professoras, cantoras, mães, filhas, alunas, enfim a Mulher representante e representada na arte do fingimento.

Edith Rosa é mote do riso, nas falas de prosódia particular, nas inflexões carregadas de intenções, distanciadas da tradição embolorada, mas preservadas na negação do teatrão parodiado. Atrai atenção no foco da personagem, nas galhardias premeditadas, no corpo que fala as linguagens populachas da mídia, na inversão do sério para torná-lo risível e atrativo. Antropofagia toda a assistência sem parecer querer ser esfinge. Mas revela e devora. Decifra e cospe a resistência de quem finge não entender a esfinge.

Edith Rosa deu uma mostra de seu talento experimentado e volta a repetir a dose, dessa vez no palco do Theatro 4 de Setembro, às 20 horas, do dia 22 de março deste. Para quem perdeu o riso, no último dia 5, não deve desesperar. Ela e sua Margarida serão toda cena. Quem quiser rir, agende-se. Vale a pena ver, sempre.

O riso faz bem a alma e ao coração do(a) artista, também. Então, palmas pra que te quero. Edith Riso quer, porque está na cena para ser vista e sabe mostrar-se muito bem, obrigado.

Um comentário:

  1. Maneco sempre me surpreende em cada texto que escreve, admiro sua calada e fria sensibilidade casada com o degustar da apreciação estética das cénicas. Alem de um comprovado talento cênico do ator que é, es também um maravilhoso crítico. A cultura do Piauí agradece e floresce a flor do mandacarú. Temos fome e sede mas ainda não morremos. Muito obrigado!

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