terça-feira, 26 de março de 2013

De Karla a Kátia - o filme


De Karla a Kátia - o filme
por maneco nascimento

Era noite do esperado dia 25 de março de 2013. Durante todo esse dia, as informações solicitadas ao Teatro do Boi eram sobre como chegar ao local, se a entrada era franca ou se tinha que reservar lugar. O público começou a se juntar às 17h30m, numa expectativa de ocupar vaga e assistir ao lançamento de “Kátia – o filme”, dirigido pela piauiense, de Parnaíba, Karla Holanda.

Quando o Teatro do Boi abriu as portas, um burburinho saudável de quem queria pegar um lugar na plateia. O filme documentário, um depoimento sincero, bem humorado e carregado de emoção, vida recheada de experiências e coragem de defender a própria sorte e dar exemplo de Brasil, com sua diversidade e matizes de natureza humana, em convivência plural. As falas sociais, um bem conquistado de nome, traço familiar e comum aos seus, de cidadania apropriada. A personagem real e carismática, Kátia Tapety.

A diretora do filme, Karla Holanda, abriu o lançamento da fita falando de seu contato com Kátia, da paixão pelo ser humano com quem conviveu durante as filmagens e da recepção por onde passou “Kátia – o filme”. Lembrou da exibição no Festival de Brasília, com a presença de Kátia, de prêmios recebidos e que, para Teresina, infelizmente, não poderia contar com a atriz. 

Por motivos de saúde, Kátia não poderia deslocar-se de ônibus, de Colônia do Piauí até Teresina. Não se contaria com a audiência da pessoa + importante, no lançamento realizado àquela noite. Mas que, em seguida, seria exibido o filme em Oeiras e Colônia do Piauí e que, então, estariam diretora e personagem reunidas.

Também destacou a ótima aceitação do filme em Festivais e exibições em grandes centros. Já há planejamento para que seja rodado nos centros-capitais brasileiros e que o sonho da cineasta é que também entrasse no circuito de salas de cinema em Teresina, como ocorrerá em outras salas nacionais. Não iria desistir, Teresina também deveria receber o filme, para o circuito de salas oficiais e, segundo a diretora da fita, haver o computo de público. Feitas as apresentações, veio “Kátia...”. 

A história se abre para take de personagem subjetiva (a câmera) que registra uma estrada de asfalto esburacada. Até que surge Ela naquela estrada, puxando seu burrico em diálogo franco, humorado e cheio de ternura despojada da atriz que se representa em enredo de cinebiografada. 

Na estrada, de registros, transeuntes, ônibus, carros, ciclistas e amigos eleitores, em potencial, que a abordam em seu percurso de trabalho. Sua labuta, buscar alimentos aos animais, guardados no pequeno rancho de sertão nordestino. Assim começa a humanidade de Kátia revelada.

A fotografia do filme, ótima. Montagem e captação de som também com resultados muito eficazes. Os sons naturais, ruídos do campo e dos afazeres diários, falas, burburinhos de ajuntamento de gentes, tudo é uma surpresa e encantamento de (in)formalizar a história contada. A pesquisa musical, no tempo.

O inteligente roteiro foge do lugar comum dos documentários e vai construindo enredo de José Nogueira Tapety Sobrinho, de Karla para Kátia. O cuidado do roteiro que se desvincula do piegas e de discursos de senso comum. 
(KátiaTapety - esquerda e Karla Holanda - direita/foto Junior Aragão)

Há toda uma argamassa, nos fotogramas, que vicejam maturidade criativa e técnica de cinema, não perdem a mágica da fotografia em movimento e humanizam, com sincera delicadeza, um recorte, talvez o + expressivo, da história de Kátia. Fotografia enxuta. Não há espaço para criar espécie, só mantém fidelidade à boa história da personagem da vida real.


De Kátia para Kátia, uma mulher determinada, sem frescuras, que franqueia sua vida simples e convivências sociais muito saudáveis, em meio ao trânsito da política, agente de saúde, entre outras interrelações com a comunidade natural. Seu dia a dia na roça, na labuta do pasto e nos cercados de seu cotidiano, surge com a mesma clareza fotográfica, como nos depoimentos colhidos. 

O sertão de meu Deus e de Kátia está muito bem representado na fita e incrustado na alma sertaneja e delicada dessa mulher macho, sim senhor! As veredas de salvação falam por si mesmas, através de Kátia para Karla e de Karla para o mundo.

O Teatro do Boi ficou pequeno para tamanha concorrência. Os 170 lugares foram logo assumidos e vieram as cadeiras extras e + outras e o público atrasado chegando. Sentados, em pé, espremidos e atentos estiveram cada uma das pessoas que conseguiram chegar ao Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi e conferir a estreia charmosa de “Kátia – o filme”. Karla Holanda esteve visivelmente emocionada e felicidade colhida está no acertar do olho mágico das lentes do cinema. A cineasta acertou e acertou bonito.

De Karla para Kátia, “Kátia – o filme” é um exemplo, versejado, de arte e cultura em ótimo desempenho, porque o universo conspirou a favor. Favorecidos, os atores envolvidos no filme, o público cativo e a história do cinema brasileiro. Bravos!

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