quarta-feira, 20 de março de 2013

Diversidade +


Diversidade +
por maneco nascimento

(...) seria o sexo em suas várias manifestações sentenciado às trevas?
(Chico Xavier/ making of do filme “Chico Xavier”, dirigido por Daniel Filho, em que recorta trechos da entrevista do espírita kardecista ao Programa de Televisão “Pinga Fogo”)

A história da democracia brasileira se sustenta pelo livre arbítrio, com variações por períodos difíceis alguns e de conquistas sociais outros que contrabalançaram o pêndulo da justiça social e reclames de direitos humanos. 

País que sofreu período de exceção e brutalidade praticada pela(s) ditadura(s) em dois momentos distintos brasileiros. Numa, o excesso de governo populista e seus reveses (Getúlio Vargas), noutra, a coerção e cerceio de liberdade, praticadas pela ditadura militar, que concorreu no prazo de 1964 até o relaxamento em fins da década de 1970 (1979 – 1985/Gal. João Batista Figueiredo). 

Nesta última fase da ditadura, a conclusão para campanha das "Diretas Já" e eleição indireta do presidente Tancredo Neves, via Congresso Nacional, ainda, mas com a perspectiva que se concretizou, posteriormente, de eleições livres e nunca + imposição de gestores públicos biônicos.

O Brasil é o país de liberdades consentidas e conquistadas à força de também manifestações populares, em abrigo de anseios coletivos. Assim a mulher passou a votar, durante a era Vargas, também aderiu + tarde à minissaia e + adiante ao “topless”, com toda a segurança de livre escolha. Mesmo com a tríplice jornada de trabalho, galgou espaço de status social às próprias custas e esforços desdobrados. 

As marchas populares de resistência às intolerâncias, as greves gerais e o fortalecimento dos sindicatos de categorias deram sua contribuição sócio-educativa e solidificação democrática e, nos anos 2000, essa força de discurso popular de esquerda, na hora e no lugar certo, catapultaram um presidente semi-alfabetizado, forjado nas legiões humildes do nicho das classes sociais e do movimento classista das massas trabalhadoras à margem das elites brasileiras.

O país é nação de maior concentração católica, na América latina, mas é também terra de conceituação evolutiva e aceitação do perfil étnico afrodescendente, visto que povo e raça “puros” nem seriam anseio, ou privilégio brasileiro. A mística de raça é mesmo dessa miscigenação que possibilita o diverso de cores, matizes e cultura e traço antropológico, não visto, com esse viés, em nenhum outro lugar do mundo. 

E as conquistas coletivas vão se direcionando a interesses político-sociais urgentes a cotas de negros nas universidades públicas; amparo inclusivo de especiais nos espaços públicos e privados; lei de proteção à vida e dignidade de escolha à mulher; lei e delegacia ao combate da intolerância contra negros, homossexuais e o diverso homoafetivo; proteção ao índio e ao matiz manifestado de novas exigências sociais nas terras continentais brasileiras.

Nos últimos anos, as discussões e práticas combativas da intolerância sexual, ou sexista, e de vigilância da violência praticada contra orientação arbitrada ao sexo, em fórum íntimo, vêm ganhando + espaço público, na defesa da proteção e vigência de leis sócio-educativas. 

As conquistas aos direitos dos LGBTTs e gênero livre, na diversidade, ampliaram papéis práticos nas relações coletivas de trabalho e vida público-privada, que transformam o país em modelo de absorção de comportamentos, já bastante difundidos em algumas nações do mundo.

Um novo embate estabelecido, atualmente, com alguns avanços às minorias brasileiras, especialmente à recorte social homoafetivo, se estabelece nas questões de direitos civis e união de casais do mesmo sexo, bem como a adoção de crianças por casais homoafetivos.

Aberta a jurisprudência nacional e algumas discussões e avanços legais que caminham pelas cercanias legislativas, pode-se dizer que o Brasil vive entre a natural emergência de garantir direitos a qualquer seguimento da sociedade brasileira e a resistência, por vezes, de determinadas igrejas, seitas e discursos praticados no púlpito, do hegemonismo interpretativo, de paladinos do reino dos céus.

Recentemente, um pastor deputado evangélico (Marcos Feliciano), notório por declarações racistas e homofóbicas, foi engenhosamente imposto, por vias de acordos de coligações políticas, ao cargo de Presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal do Brasil.

Numa eleição polêmica, com adiamento de primeira tentativa, e finalizada dia 07/03/2013 com o sufrágio do pastor político Marcos Feliciano, não só deputados envolvidos com a pasta, como outros parlamentares defensores incondicionais dos direitos das minorias e humanos se manifestaram contra a mesa posta e abandonaram a sessão.

Para religioso que transforma homoafetivos e África, em nossa gente, como desvio social e lepra ameaçadora às sociedades “normais” do seu círculo de observação e compreensão, parece que as minorias brasileiras terão que engolir o “sapo” (desculpem a citação de animal inofensivo). 

De boca costurada ficarão os direitos humanos que, ao ver, sofrerão combate pelo discurso religioso de redenção moral, entendimento de via única ao interpretado bíblico.
Há, no país, um movimento conclamando pela reversão dessa eleição que premia “persona” vista, aos olhos dos defensores dos direitos humanos e proteção às minorias, como quem trabalharia na contramão da história. 

Partidos discursos, de determinada personagem (de)formadora de opinião e alçada da legenda social cristã, estão dentro dos direitos à liberdade de expressão e manifestação política, em que toda democracia se estabelece. Mas, seguramente, não estariam em direito, nem em oficialização discursiva, de combate às minorias, comportamento, escolha ou orientação de natureza religiosa outra, sexual ou de gênero.

Logo, boa parte da sociedade brasileira parece perceber um enviesado, ao cargo armado, que discutirá direitos sociais da nação. Ter sido entregue função pontual, de grande responsabilidade, a alguém que poderia comprometer avanços coletivos já em processo de afinação sócio-educativa, seria uma temeridade.

Papel de representante religioso está para a igreja, como papel de representante político da sociedade estaria para aglutinar interesses universais, sem encolher direitos que ampliam o papel social que toda coletividade merece alcançar.

Esperar por ver o chão rachar, talvez cause a surpresa das fissuras engolirem anseios de minorias que mereçam estar plantados, de igual para iguais, na convivência e aceitação das diversidades humanas.

Como diria Chico Xavier, por que o sexo deveria, em suas + diversas manifestações, ser condenado às trevas. A Deus, o papel de Deus. Ao homem (genérico) o papel de humano em convivência harmoniosa com as diferenças. E às interpretações equivocadas das relações humanas, o combate saudável e coletivo para a manutenção da vida em seu diverso.

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