terça-feira, 5 de junho de 2012

Dramalhemos


Dramalhemos
por maneco nascimento

O Teatro da Tribo e Franklin Pires estrearam a + nova investida aos palcos da cidade. No último final de semana, dias 02 e 03 de junho de 2012, às 20h, no Teatro Estação/Ponto de Cultura nos Trilhos do Teatro, a performance musicadaA vida Bem Depois do Amor”, com texto e direção de Franklin Pires ganhou investimento à expiação pública.

O elenco, no revezamento de amores diluídos das personagens, é composto por Gislene Daniele, Bruno Lima, Gleiciane Pires, Esaú Barros e o performer Franklin Pires. Seria, esse espetáculo, o primeiro romance musical na carreira do dramaturgo Pires, que já investiu em comédias escatológicas, musicais infantis e adultos e seriado em cinema de suas peças da sátira corpúsculo.

Dessa vez ele veio com triângulos e quadriláteros amorosos, envolvendo paixões em reservas e amarguras desencadeadas até que chegue a redenção. O formato para encenação de bolso, uma novidade já experimentada por outros grupos no espaço do Estação. De acústica pouco apropriada, mas não desprezável, o som das vozes por vezes agrediu o ouvido da platéia.

(Franklin Pires, Bruno Lima, Esaú Barros e Gleiciane Pires/foto: divulgação)


Todos cantam, alguns com ensaios vocais melhor burilados. F. Pires tem se especializado em cantar sempre que pode, canta bem e tem registro vocal disciplinado. Gislene Daniele, com sua técnica de canto lírico, também concorre ao todo acerto.

Esaú Barros, Gleiciane Pires e Bruno Lima merecem ainda uma melhor acuidade de preparação da voz, especialmente para espaço de recepção sonora não tão propícia. No geral, talvez todos precisassem cantar meso piano, naquele espaço.

Do enredo, propriamente, o romance desfeito entre as personagens de F. Pires e Bruno Lima carrega-se para um dramalhão. Como a caixa cênica é pequena e o ator fica muito próximo da platéia, fica + evidente o excesso de sentimento da melancolia de abandono de F. Pires. Quase um drama de novela mexicana.

(Gislene Daniele e Bruno Lima/foto: divulgação)

Gislene Daniele, a mãe da história e viúva que sai do casulo em busca de nova sorte, também pareceu, ainda, pouco à vontade no início, mas foi ganhando fôlego e, fora do eixo do drama, possibilitou com seu texto, sagaz, umas boas risadas da platéia.

A mulher ficante com o garoto e falso gigolô, a melhor sacada do dramaturgo. Sai pela tangente num discurso libertário que, na tranqüilidade da interpretação deslizada para acertos, não repercute feminismo, nem ação panfletária.

Gleiciane Pires, a moça descolada e fatal, ainda está na busca ansiosa de melhor acomodar a construção da personagem. Se “toda nudez será castigada”, todo esforço será compensado quando ganhar fôlego natural e diálogos interiores necessários à compreensão do objeto projetado à cena, feito sujeito da dramaturgia sugerida.

(Bruno Lima e Gleiciane Pires/foto: divulgação)


Esaú Barros traz elementos que o tornam bonito em cena. Mas parece carregar uma saia de caramujo e guardar sob o casulo o seu melhor de ator que já existe. Desliza querendo nunca fugir da cena, mas se encolhe quando precisa melhor ser.

uma lentidão que parece não ser necessariamente dramatúrgica. Talvez tornar-se o pegador de virgens e difíceis, com + ousadia e corpo correspondente, atraia maior ganho à personagem. Uma pegada + safada, chegando junto da falsa mocinha talvez crie uma química à explosão da personagem.

Bruno Lima, o falso gigolô de desprotegidos do amor e de senhoras viúvas em busca da felicidade, diz o texto em sacrifício da redenção, embora às vezes seja meio embolado. Boa presença em cena. Deixa a personagem, ainda de beleza só externa, à concentração da platéia.

Caminha por uma neutralidade que parece ainda “devez” para o fruto interpretativo que quer colher. O texto ainda sai só bem ensaiado. + tempo e investigação poderiam dar a sua personagem o sabor do veneno, sem malícia, que a dramaturgia exige.

Franklin Pires parece escrever textos para seu deleite de encenar. Já vi performances muito aplicadas. Nessa versão deo amor bateu à porta e tudo é festa, o amor bateu a porta, e nada resta.”, há pouca economia e as dores de amores ficam derramadas pelo sentimento da margem e da máscara do comum, quase televisivo de expressionismo linear.

As letras das músicas do enredo musical muito frágeis e os arranjos vão na coca cola apresentada. Talvez merecessem uma melhor decupagem dos poemas, sem que percam o contexto musical da trama.

Os figurinos são bem legais, compõem a história premeditada e figuram no teatro apresentado. A luz, não sei se intimidada pelo espaço físico, não vingou. Talvez precisasse estar + afinada com a sorte das personagens. Vale estudar melhor e criar intimidade com o espetáculo.

Franklin Pires não dá ponto sem nó(s), e curioso acorremos a seus trabalhos. Está com nova empresa teatral, agora é cair em temporadas e o público que saiba o que seja brincar em cima daquilo.

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