domingo, 12 de junho de 2011

Pra descontrair

Pra descontrair
por maneco nascimento

O Grupo Humanitas de Teatro de Timon(MA) aportou no Projeto Temporadas Populares do Teatro Municipal João Paulo II, para ocupar as quartas feiras de junho, sempre às 20 horas. A estréia do Grupo dentro do Projeto ocorreu na quarta feira, dia 08 de junho de 2011. O espetáculo, “Meu último amor acabou antes de ontem”.

Texto e direção de Junior Marks, a montagem aborda encontros e despedidas de um grupo de amigos em ambiente de mesa de bar. Um garçon, sempre atento às conversas do grupo, interativo das confidências e diligente no atendimento à mesa mais quatro amigos recortam a dramaturgia.

O grupo rememora as desilusões, remoendo as horas contadas da amizade envolvente, mesmo que nas inconfidências. O texto cumpre o papel de entreter na cena e a dramaturgia de palco é funcional, partindo da composição inicial de imagem em “freezer” para o solo das personagens que vão ganhando vida a seu tempo.

Eristóteles Pegado, o garçon, tem desenvoltura econômica e divertida nas intervenções silenciosas e intrusivas durante as conversas particulares dos quatro amigos. Traveste-se ainda, como em memória de “flash back”, compondo personagens lembradas no papo trivial. Está à vontade.

Jerônimo Macedo, o pegador sem uma lembrança próxima do último amor, é uma caricatura do macho alpha do grupo. Soa comum. Os trejeitos de construção corporal da personagem ficam na margem do risível. Maior instrospecção composicional ao “gostosão” do pedaço, talvez surtisse melhor efeito dramático que tornaria o cômico + concentrado, sem o apelo fácil.

Adriana Campelo tem um corpo natural que despertaria o riso sem dificuldades, caso aproveitasse-o melhor à organicidade do texto, sem atravessar o humor, já intrínseco, com apelo do engraçado pelo fácil. Algumas inflexões textuais são perdidas pela pressa da participação, ou pelo descuido de ouvir com + tranquilidade a si mesma. Tem um “timing” que poderia ser melhor explorado.

Flávia Sousa tem boa projeção de voz e se não corresse tanto para livrar-se do texto, talvez tivesse mais sucesso na composição da personagem da mocinha sonhadora e dependente das decisões do sempre último amor. Sua voz natural, muito aberta, cria uma estranheza a quem ouve o texto saído de sua boca. 

Exercícios de técnica vocal que projetasse as inflexões + pelo palato dariam um ganho significativo. Flávia já tem uma projeção natural bem clara, faltando apenas uma amaciada no timbre estridente. A energia e a presença em cena da atriz melhor concentradas operariam milagres.

Júnior Marks tem uma apropriação segura de seu próprio texto, é engraçado até em aproveitar sua natural voz nasalizada e, por vezes, aguda. Tem tranqüilidade de improvisação, mas por vezes perde-se no que pareceria vaidade em encenar. 

Quem o conhece fora de cena não vê muita diferença entre o Júnior dos maneirismos orais próprios e trejeitos corporais particulares arrastados ao palco. Um bom ator, mas que prefere trabalhar sob o risco do menor esforço de composição da personagem.

Meu último amor acabou antes de ontem”, com desenho dramatúrgico de Marks é de bom riso, entretém e não chega a ser enfadonho. Com maior equilíbrio dos diálogos, silêncios e passagem de tempo ficaria com uma boa dose de humor + redondo. 

A peça tem estilo, com melhor concentração talvez conseguisse o propósito perseguido. A dispersão da comédia não é na cena, mas na platéia que ri melhor quando colhe maior entendimento da piada.

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