domingo, 12 de junho de 2011

Nem Santo, nem Porca


Nem Santo, nem Porca
por maneco nascimento

Não há o Ariano festejado, nem muito menos o esperado. Então o que dizer do Santo ou Porca tão ricos da dramaturgia do nordestino arretado e lambido, com todo o merecimento, por toda a praça brasileira que conhece a jocosa história do velho usurário e sua porquinha rica em moedas.

Um dos + queridos e montados textos brasileiros,O Santo e a Porca”, de Ariano Suassuna, chegou ao palco do Teatro Municipal João Paulo II, no último dia 11 de junho de 2011, às 19 horas, causando espanto e decepção ao público presente.


Montagem do Grupo Teatral Kimulengo’s, e assinatura do dublê de diretor Lívio Bastos, a peça é um rosário de descabidos e erros primários de dramaturgia encenada. Aprendiz de ator e instrutor da Oficina Permanente de Teatro “Palhaço Beleza”, no Teatro do Boi, Lívio Bastos falha a partir da própria audição.

Aprendi com a experiência que o homem que não ouve bem, se comunica muito mal caso não debele as dificuldades. No teatro então um bom ouvido opera milagres. Xana de Sousa(Wilson Silva) é o melhor exemplo de vencedor das dificuldades. Deficiente auditivo, é um ótimo ator e faz as vezes de diretor sem comprometer a profissão e a prática cênica.

Com o aprendiz de encenador, Lívio Bastos, o ruído de comunicação parece ser mais grave. Desde o início da encenação, vista dia 11 de junho no Teatro João Paulo II, o volume das músicas que trilhavam a peça estava muito alto. Não se ouvia o elenco, incomodado fui recomendar-lhe sobre minorar o som estridente.

Bastos saiu com essa pérola: “Deixe, deixe é assim mesmo. Depois a crítica vai falar.” Dei o assunto por encerrado, voltei para a platéia. Desde então foi um festival de desmandos cênicos. Jovens atores se esforçando à realização do que criam ser exercício acertado. O som já um grande despropósito.

As entonações, intenções e inflexões textuais perdidas no ar da ignorância cênica maquiada. A caricatura mal assimilada dos exemplos populares da televisão aparecia na busca de uma construção corporal. Ingênuo e desesperado desejo de acertar foi o que se viu no elenco mal orientado.

Uma hora e quarenta minutos de adolescentes e jovens buscando o caminho das pedras da mágica práxis do fingimento. Não se conseguiu ver o momento em que o universo conspira ao mágico elemento dramático se assentar.

Talvez Lívio Bastos devesse voltar ao texto para uma leitura de compreensão e convidar pessoas das cênicas, melhor abalizadas, para estimular nos jovens atores a descoberta do mais elementar exercício teatral. Percepção do próprio corpo; apreensão do pisar na cena; projeção de voz; ouvir a si mesmo e ao outro; descobrir a espacialidade a ser explorada no palco. Talvez essas primeiras noções pudessem ser estimuladas no próprio Lívio Bastos.

Parabéns a Thérita Silveira, Marri Silva, Patty Oliveira, Larissa Sousa, Dalva Frazão, Yza Monteiro e Francisca Lima pela empreitada corajosa, mas tão incipientemente mal conduzida. Um time de mulheres versejando curiosidade e boa intenção, mas nem mesmo o teatro vive só de boa intenção.

O Santo e a Porca”, montagem assinada por Lívio Bastos e seu Grupo Teatral Kimulengo’s não encontrou a porca fuçadeira tão rica em Suassuna. Também não há santo que obre milagre em ato de grave desconhecimento do efeito dramático. 

Tentativa tão particularmente equivocada, talvez merecesse revisão imediata. Para que não se incorra em convencimento dos jovens atores de que o “aprendizado” da profissão está sendo operado.

"A juventude que essa brisa canta" precisa ser melhor orientada, seja para o teatro seja para a vida comum.

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