quarta-feira, 2 de agosto de 2017

mito Levantado

Teatro cotjoqueano
por maneco nascimento

A estreia deu-se na noite do dia 01 de agosto, às 19 horas, no palco do Theatro 4 de Setembro. Veio na esteira dramática deusexmachiana do Projeto Terças da Casa - edição Terça Teatro - mês agosto.

O espetáculo "Elegbara", uma montagem da Cia.de Teatro Jovens em Cena - CotJoc, coletivo que está na lida, de agitador cultural, no bairro Cidade Jardim, há 17 anos.

O espetáculo dirigido por Arimatéia Bispo, para texto original de Toni Edson reinventa o mito, recupera reflexão acerca das vidas comezinhas que coabitam as vilas, favelas, morros e subúrbios brasileiros e transversaliza diálogo direto, eficiente e inteligentemente dramático de carpintaria atualizada à imersão de Obra sofocliana "Édipo Rei".

A encenação para casal, que reúne Cairo Brunno e Janá Silva, às personagens desenredadas ao universo humano, realista, de determinismo implacável às vezes de bebericada na tragédia clássica, ao atualizado contexto de qualquer periferia brasis.

O texto atual, franco e aplicado a um tête-a-tête de encontros e desencontros de destinos alinhavados na mora tradição. No percurso da dramaturgia finalizada à expiação pública e recepções abertas estão os dedos do mapeador de dramaturgia de cena e os suportes que se os complementam, som/música, luz, cenografia, figurinos e adereços.


Um (in)delicado e rude sujo na cenografia abriga vasos comunicantes mass media populares e encorpa a tragédia suja brasileira, que é de tradição nossa e que repercute os becos escorregadios, alisados das gorduras do morro ensebado.Um cenário (Manu Andrade) de ilustrativo realista como é o cotidiano periférico das franjas sociais brasileiras.

fotos/imagem: (Wagner Santos e Jesus Silva)

As interpretações às personagens aliadas por Janá Silva e Cairo Brunno ampliam um afobamento prosódico do senso comum que, quase, esteriliza a performance das construções das personagens que enleiam o trágico nosso de cada dia.

O intercurso de desenho de luz (Arimateia Bispo), com exaustivos "black out's" parecem matar a cena a cada cena e não corrobora muito eficazmente para a encenação trágica. Talvez, e até porque não pareça que a quebra de luz gere estética, mas necessidade de mudança de cena (esconder e reapresentar cenas).

Intérpretes seguros, na fuga deliberada de estereótipos requentados e pasteurizados nos padrões teledramáticos, dão uma causa própria aos limites e às linhas divisórias do teatro realista e metacena trágica.

O jovem e seus jargões que exalam do corpo, vestuária e tre-jeitos de filho da periferia não prejudicam a iniciativa de Cairo Brunno. Dão-lhe um misto de ingenuidade e tônus aplicados à concessão de corpo dramático ao corpus da atmosfera, em que se lhe é enredado na queda submergida ao centro do furacão da tragédia.

Janá Silva andeja entre a adolescente crescida, a jovem impetuosa, a meio mulher em processo de crescer, a maturidade que chega nas experiências de largar o útero e sobreviver a novas investidas e assinala concentrado de busca da verve da personagem, quando da "Escolha de Sofia" investida ao mito, ou quando aplica decantada oralidade no texto final que regurgita as Próprias memórias da personagem, meio Jocasta, meio Édipo em Colona, meio útero reinventado às memórias sangradas.

fotos/imagem: (Wagner Santos e Jesus Silva)

Janá abre um concentrado diálogo de mãe, mulher, puta, filha do morro mal vestido. E a sua contadora de história (aedo, poeta das histórias orais) intercomunica o tempo transversal. A cega, com cajado, às vezes edipiana, amplia a ruptura e tradição trágico clássica.

As ações dramáticas falam por si mesmas. O Euzébio filho do filho dos filhos da mãe dão a continuidade genética do determinismo trágico e, na licença poética (o futuro repercute a própria história e memória) ao teatro encenado do passado-presente-futuro das crias de "Jocasta" (Polinice e Etéocles) no filho gerado do adultério. Intrincado inteligente do escanfandrista (Toni Edson) no mito original feito teatro clássico.

A música original, ao vivo, de atabaques suaves resfriam o trágico que vem em borbotões nas falas e vozes sociais das personagens em embate pela sobrevivência e tragédia dos erros e armadilhas do destino.

As canções de gongá (hinos, músicas, giras) dialogadas no entremeio das cenas, como emendas de diálogos, horizontalizam as baías de todos os oxuns sagradas à extensão da vida como ela é, no enredo da tragédia atualizada. Um quase diálogo musicado às vezes de falas da religião afro brasileiras.

No mapa de sonoplastia (Samuel Morais) aos atabaques suavizados (de)marcam o terreiro de "despachos" e o elementa a um coração que pulsa quente o "sujo" inconsciente, arquetípico, do adultério não previsto pelo Santo.

Os figurinos (Siro Siris) compõem um realismo de cotidiano presente nas melhores famílias de qualquer contexto social brasileiro. Não prejudica e alia identidade cultural.

"Elegara" deu seu recado. Marca seu território de identidades cênicas e reflete vozes sociais em falas de discurso e corpos no corpus composicional da Cia. de Teatro Jovens em Cena.

Evoé, CotJoc!
A vida em cena sorri pra você.
Viva o Teatro brasileiro de expressão Piauiense!


Equipe Técnica de "Elegbara":
texto de  Toni Edson.
Elenco: a atriz JanáSilva e ator CairoBrunno (Ator). 
ManuAndrade (Cenografia); SiroSirisSousa (Figurino); ArimatéiaBispo(Direção e Iluminação); WagnerSantosJesusSilvaGessyvaneRubim e LucasNunes (apoio técnico); SamuelMorais (Sonoplastia), Sr. Ednaldo (Maceneiro)

fotos/imagem: (Wagner Santos e Jesus Silva/\banner arte ascmSeCult)

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