sexta-feira, 4 de março de 2011

Memórias culturais


por maneco nascimento

No último dia 01 de março de 2011, foi aberto no Palácio da Música, a partir das 9 horas da manhã, o Projeto Encontro de Lendas. Reunindo artistas, autoridades da área cultural, simpatizantes e afins.

O coordenador do Projeto, Vagner Ribeiro, abriu os serviços falando da importância da história e memória oral e da homenagem que este ano se prestaria ao escritor e pesquisador de cultura popular das lendas, Fontes Ibiapina, o “Nonon” , um ampliador desse universo criativo através da sua  literatura produzida.

Laurenice França, Presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, convidada a se manifestar, saudou a todos os presentes e oficialmente deu início ao Projeto que envolverá diretores, professores, escolas e aluno (a)s da zona rural de Teresina na reinvenção das lendas e contos populares através da dança, da música, da contação das histórias orais e reprodução em quadrinhos das manifestações de memórias primordiais e afetivas, através das oficinas praticadas.

O convidado especial para a ocasião, que falou pelo homenageado, foi o escritor, turismólogo, parente e conhecedor da obra de Fontes Ibiapina, Eneas Barros. O neto de “Nononpuxou pela memória as boas lembranças do avô aberto, conversador, alegre e que mantinha a casa sempre cheia de gente, gostava de receber as pessoas.

Eneas Barros testemunhou que seu avô deixou todo um material de pesquisa muito organizado e que o mundo literário e sua vida pessoal influenciaram a obra produzida. Na palestra surgiram os nomes comuns e apelidos registráveis, como o do irmão de “Nonon”, Antonio Moura Ibiapina, conhecido comoPebinha”.

O pai de Fontes, Pedro Moura Ibiapina, dono de carnaubais e gados, queria o filho fazendeiro que só iniciou as primeiras letras aos 13 anos, com o tioQuincó”. O tio reclamava do menino acanhado, que “não queria nada”, não prestava atenção. Depois de uma conversa trabalhada com os pais, Pedro Moura e Mundica Moura, desarnou e acabou sendo assistente do tio-mestre na escola.

Autor de “Chão de meu Deus”, com memórias investidas para contos comoTangerina”, “Tropeiros”, entre outros, reinventou, segundo o neto Eneas, a realidade observada no terreiro da fazenda. Registros recolhidos das horas vividas na Fazenda Vaca Morta, da família de Mundica e na Fazenda Lagoa Grande, da família de Fontes Ibiapina.

Eneas Barros tem no armário de recordações a memória de uma família que gostava de contar histórias de lendas e contos fabulosos. Que entre os contadores de histórias havia o escravoIndinho”, herança das famílias, que juntava crianças no terreiro para exercitar a excelência de contar histórias.

Pedro Moura e Mundica tinham talento nato para contadores de histórias. “Nonon” cresceu ouvindo histórias e também contou histórias aos filhos e netos, na hora de fazê-los dormir. Deixaria uma visita, na sala, aos cuidados dos outros, para ir enlear os netos com memórias fabulares.

Fontes Ibiapina teria passado para o papel, literário, todas as histórias ouvidas durante sua infância. Adorava forró, dançava “feito o cão”, gostava de se divertir, era namorador. E, nas palavras carinhosas do neto sobre pesquisas realizadas, aponta que o primeiro texto literário do avô, escrito em 1950, surgira a partir da conversa das comadres ouvida no terreiro da fazenda, “Palestra de Comadres”.

Escreveu “Palha de Arroz”, sobre os incêndios criminosos da década de 40 na Teresina; “Terreiro de Fazenda”; “Passarela de Marmotas”; “Congresso de Duendes”; “Curral de Assombrações”; “O Tombador”; “Desfile de Malucos”, entre outras obras de particulares, estratégias de revificação da memória popular.

O Pesquisador de costumes, Juiz da Vara de Família, com produção em torno de 266 textos entre romances, contos, novelas, teatro, pesquisas, etc., recolhia as personagens das contações do povo comum que temia os “empaltados” e mágicos.

Logo, percebe-se que, pelo histórico apresentado pelo neto de Fontes Ibiapina, não se poderia furtar da homenagem que a Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, presta a alguém que soube com muita sensibilidade recuperar o que há de + autêntico na comunidade.

O Projeto Encontro de Lendas que envolve 6 escolas municipais, da zona rural de Teresina, cria nessa possibilidade cultural a revisitação da história oral e contação de lendas e repete, criteriosamente, a prática de facilitação, absorção e registro planejado às gerações posteriores da memória social oral.

  

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