O Nosso Zé
“Trago n’alma o sol de minha
terra/a luz maior, claridade em mim/no som do Parnaíba que se encerra/o trilhar
de um caminhar sem fim//carrego, imune, a força mais pura/a saudade do amor
eternal/traçada nas glórias da loucura/do meu sonho alegre e jovial//trago,
enfim, a lembrança das ruas/os quintais da infância e as luas/que no Poti vivem
em transe//e sufoco as torneiras cruas/que fizeram as dores nuas/da dor de ti
que me confrange.” (Sol da minha terra/José Afonso de Araújo Lima/ Palmas – TO, julho.2009)
Na noite do 25 de março de 2013,
a partir das 19 horas, no Theatro 4 de Setembro,
artistas, empresários, autoridades e público afim reuniu-se para participar da
reabertura daquela Casa de espetáculos e sua programação artística; da programação
cultural do Bar do Clube dos Diários/Espaço Cultural “Osório Jr.”; o lançamento
da Lei do SIEC modificada e atos artísticos que sinalizaram uma homenagem ao
Dia Internacional do Teatro (comemorado antecipadamente dia 25 para a data de
27).
Os festejos demonstraram trecho
do espetáculo coletivo “A Batalha do Jenipapo - o musical”, dirigida por Franklin
Pires. Mas o quente da noite foi a homenagem ao artista Afonso Lima, vindas dos
colegas (Vera Leite e Lari Sales, Maneco Nascimento, Luiza Miranda e Josué
Costa).
(foto de Afonso Lima colhida de seu facebook)
José Afonso de Araújo Lima, se
não fosse esse de nome forte e sonoro José, poderia ser Francisco, Carlos,
Domingos, Augusto, César, Hércules, Apolo, Dionízio, Téspis, Sófocles,
Eurípedes, João, Vicente, Machado, Arthur, Nelson, Oduvaldo, Gianfrancesco,
Chico, Gomes, mas nasceu José e olha que foi se apaixonar pela poesia e pelo
teatro que estão intrinsecamente ligados pela história e memória da práxis
cênica ocidental.
Filho dos campos de viver e
ruminar as tardes entre lagos e carnaubais de Campo Maior, ao norte do Piauí,
rebentou ao oxigênio de existir para além do útero da mãe em dias do ano de
1954. É advogado por vocação do ato de comunicar e desdobrar os ofícios da lei
e licenciado em História, porque o homem sem memória e história perdeu algum
sentimento do mundo que o manterá menos dono de si próprio. As formações
acadêmicas, para línguas afinadas, foram realizadas pelas Universidades
Estadual e Federal do Piauí, respectivamente.
Ao ofício da arte, de reinventar
a história do homem brasileiro para a cena, nasceu em 1977, quando então já
poeta, ator e dramaturgo, escreveu a comédia musical “A Guerra dos Cupins”, com
festejada trajetória de abrir porteiras do teatro local a outras frentes e
palcos. A temática política dava conta, com humor peculiar da dramaturgia,
acerca de cupins que “devoravam” papéis públicos da corrupção viseira. O Grupo
de Teatro Pesquisa – Grutepe ganhava corpo de cena em Teresina e a peça, já de
sucesso, fora dirigida por José da Providência. Para poesia e crônicas escreveu
“Opressão” e à cena infantil “Xanduca”.
No ofício de políticas públicas
de cultura acumulou experiência como Presidente da Federação de Teatro Amador
do Piauí; Vice-Presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador; Diretor do
antigo Sistema Estadual de Teatro do Piauí; Presidente do Conselho Municipal de
Cultura – Lei A. Tito Filho e Superintendente da Fundação Municipal de Cultura
Monsenhor Chaves. Por nunca perder a verve de poeta, dramaturgo, compositor e
escritor, é também representante e representado na Sociedade Brasileira de
Autores Teatrais.
Como diretor e autor de textos
para dramas e comédias também consta, em seu borderô de sucesso, a obra
“Itararé a República dos Desvalidos”, grande sucesso da década de 1980, que
lotava a plateia do 4 de Setembro. A direção
da montagem era de José da Providência.
Essa peça teve uma remontagem, nos anos 2000,
dessa feita José Afonso dirigiu. A nova leitura reativou toda a energia
criativa, crítico-política à reflexão dos costumes, perseguida na dramaturgia
zeafonsiana que chamou de “mistura de estilos”, iniciada com “A Guerra dos
Cupins” que reunia gêneros dramáticos como a farsa, comédia, drama e tragédia.
Bingo! O teatro do nosso Zé vinga horrores!
“Itararé, quero te amar/fazendo
bicos, roubando lá/sobrevivendo a qualquer jeito/sem mais lamúrias, sem dor no
peito/e resistir até estourar/dar todo o corpo pra te pagar (...)” (“Itararé
quero te amar”: Itararé a República dos Desvalidos)
“Mulher prezada e descabida/sem
rumo e além do viver/corre as torrentes, perdida/sem ilusão, desvalida/na ânsia
de te querer (...)” (“Mulher prezada e descabida”: Itararé a República dos
Desvalidos)
“Vamos ser inaugurais errantes/feito loucos,
bravos, delirantes/neste dia de prazer/carregando o furto imenso/dando vida aos
pretensos/donos do nosso viver (...)” (“Ser Inaugural”: Itararé a República dos
Desvalidos)
“Carregar a vida se arrastando/lamentar por
tudo que corrói/e o desespero massacrando
a triste vida que só dói (...)” (“Tango
da Prosperidade”: Itararé a República dos Desvalidos)
“Sacrifício/estrupício/acabou-se
de verdade/e o que nos resta é a felicidade (...)” (“Libertação”: Itararé a
República dos Desvalidos)
Um sonho de liberdade e de
construção da memória teatral local dá-se por empenho desse grande artista,
poeta de mancheia que nos brinda com sua presença cênica para dramas e comédias
e, na trupe dos válidos e validos até que se reencontrem, novamente em palco,
estão na esteira do deus Ex-machine, os colegas Lari Sales, Fábio Costa,
Eleonora Paiva, Eliomar Vaz, Vera leite, Wilson Costa, Nádia e Teresinha,
Aurélio Melo, Bid Lima, Marcel Julian entre outros que compartilharam prazer e
palco com Afonso Lima.
Deus guarde o poeta de “Aviso
Prévio”, obra coletiva e de “A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime
impune”. Salve o Teatro Brasileiro e também nos mantenha colegas, amigos,
companheiros de cena e amantes do exercício do exercício que abriga a carinho,
respeito e orgulho quando falamos do nosso Zé.
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