terça-feira, 26 de março de 2013

O nosso Zé


O Nosso Zé
por maneco nascimento 

“Trago n’alma o sol de minha terra/a luz maior, claridade em mim/no som do Parnaíba que se encerra/o trilhar de um caminhar sem fim//carrego, imune, a força mais pura/a saudade do amor eternal/traçada nas glórias da loucura/do meu sonho alegre e jovial//trago, enfim, a lembrança das ruas/os quintais da infância e as luas/que no Poti vivem em transe//e sufoco as torneiras cruas/que fizeram as dores nuas/da dor de ti que me confrange.” (Sol da minha terra/José Afonso de Araújo Lima/ Palmas – TO, julho.2009)

Na noite do 25 de março de 2013, a partir das 19 horas, no Theatro  4 de Setembro, artistas, empresários, autoridades e público afim reuniu-se para participar da reabertura daquela Casa de espetáculos e sua programação artística; da programação cultural do Bar do Clube dos Diários/Espaço Cultural “Osório Jr.”; o lançamento da Lei do SIEC modificada e atos artísticos que sinalizaram uma homenagem ao Dia Internacional do Teatro (comemorado antecipadamente dia 25 para a data de 27).

Os festejos demonstraram trecho do espetáculo coletivo “A Batalha do Jenipapo - o musical”, dirigida por Franklin Pires. Mas o quente da noite foi a homenagem ao artista Afonso Lima, vindas dos colegas (Vera Leite e Lari Sales, Maneco Nascimento, Luiza Miranda e Josué Costa).
(foto de Afonso Lima colhida de seu facebook)

José Afonso de Araújo Lima, se não fosse esse de nome forte e sonoro José, poderia ser Francisco, Carlos, Domingos, Augusto, César, Hércules, Apolo, Dionízio, Téspis, Sófocles, Eurípedes, João, Vicente, Machado, Arthur, Nelson, Oduvaldo, Gianfrancesco, Chico, Gomes, mas nasceu José e olha que foi se apaixonar pela poesia e pelo teatro que estão intrinsecamente ligados pela história e memória da práxis cênica ocidental.

Filho dos campos de viver e ruminar as tardes entre lagos e carnaubais de Campo Maior, ao norte do Piauí, rebentou ao oxigênio de existir para além do útero da mãe em dias do ano de 1954. É advogado por vocação do ato de comunicar e desdobrar os ofícios da lei e licenciado em História, porque o homem sem memória e história perdeu algum sentimento do mundo que o manterá menos dono de si próprio. As formações acadêmicas, para línguas afinadas, foram realizadas pelas Universidades Estadual e Federal do Piauí, respectivamente. 

Ao ofício da arte, de reinventar a história do homem brasileiro para a cena, nasceu em 1977, quando então já poeta, ator e dramaturgo, escreveu a comédia musical “A Guerra dos Cupins”, com festejada trajetória de abrir porteiras do teatro local a outras frentes e palcos. A temática política dava conta, com humor peculiar da dramaturgia, acerca de cupins que “devoravam” papéis públicos da corrupção viseira. O Grupo de Teatro Pesquisa – Grutepe ganhava corpo de cena em Teresina e a peça, já de sucesso, fora dirigida por José da Providência. Para poesia e crônicas escreveu “Opressão” e à cena infantil “Xanduca”.

No ofício de políticas públicas de cultura acumulou experiência como Presidente da Federação de Teatro Amador do Piauí; Vice-Presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador; Diretor do antigo Sistema Estadual de Teatro do Piauí; Presidente do Conselho Municipal de Cultura – Lei A. Tito Filho e Superintendente da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves. Por nunca perder a verve de poeta, dramaturgo, compositor e escritor, é também representante e representado na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.

Como diretor e autor de textos para dramas e comédias também consta, em seu borderô de sucesso, a obra “Itararé a República dos Desvalidos”, grande sucesso da década de 1980, que lotava a plateia do  4 de Setembro. A direção da montagem era de José da Providência.

 Essa peça teve uma remontagem, nos anos 2000, dessa feita José Afonso dirigiu. A nova leitura reativou toda a energia criativa, crítico-política à reflexão dos costumes, perseguida na dramaturgia zeafonsiana que chamou de “mistura de estilos”, iniciada com “A Guerra dos Cupins” que reunia gêneros dramáticos como a farsa, comédia, drama e tragédia. Bingo! O teatro do nosso Zé vinga horrores!

Itararé, quero te amar/fazendo bicos, roubando lá/sobrevivendo a qualquer jeito/sem mais lamúrias, sem dor no peito/e resistir até estourar/dar todo o corpo pra te pagar (...)” (“Itararé quero te amar”: Itararé a República dos Desvalidos)

“Mulher prezada e descabida/sem rumo e além do viver/corre as torrentes, perdida/sem ilusão, desvalida/na ânsia de te querer (...)” (“Mulher prezada e descabida”: Itararé a República dos Desvalidos)

 “Vamos ser inaugurais errantes/feito loucos, bravos, delirantes/neste dia de prazer/carregando o furto imenso/dando vida aos pretensos/donos do nosso viver (...)” (“Ser Inaugural”: Itararé a República dos Desvalidos)

 “Carregar a vida se arrastando/lamentar por tudo que corrói/e o desespero massacrando
a triste vida que só dói (...)” (“Tango da Prosperidade”: Itararé a República dos Desvalidos)
“Sacrifício/estrupício/acabou-se de verdade/e o que nos resta é a felicidade (...)” (“Libertação”: Itararé a República dos Desvalidos)

Um sonho de liberdade e de construção da memória teatral local dá-se por empenho desse grande artista, poeta de mancheia que nos brinda com sua presença cênica para dramas e comédias e, na trupe dos válidos e validos até que se reencontrem, novamente em palco, estão na esteira do deus Ex-machine, os colegas Lari Sales, Fábio Costa, Eleonora Paiva, Eliomar Vaz, Vera leite, Wilson Costa, Nádia e Teresinha, Aurélio Melo, Bid Lima, Marcel Julian entre outros que compartilharam prazer e palco com Afonso Lima.

Deus guarde o poeta de “Aviso Prévio”, obra coletiva e de “A Cidade em Chamas – poema trágico de um crime impune”. Salve o Teatro Brasileiro e também nos mantenha colegas, amigos, companheiros de cena e amantes do exercício do exercício que abriga a carinho, respeito e orgulho quando falamos do nosso Zé.

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