O céu dos divinizados
por maneco nascimento
“A AIDS é uma praga gay. Gays são pervertidos!
Jesus reprova o comportamento homossexual!”
(Marco Feliciano – político – 2012)
Nessa semana que se passou, na Câmara Federal, a
Casa ganhou + uma vez forma e força popular de manifestar indignação e repúdio.
De um lado, os que defendem direitos humanos e minorias e, do outro, os paladinos
dos direitos “divinos” e acordos políticos da base aleijada naquela Casa
legislativa. A indicação de um pastor/deputado à presidência da Comissão dos
Direitos Humanos da Câmara Federal gerou protestos, adiamento da eleição e um
escrotinho, digo, escrutínio a portas fechadas para sacramentar o parlamentado
Marco Feliciano.
(manifestantes, em Brasília, contra Marco Feliciano/foto: Felipe Néri)
É fato que,
os acordos de companheiros e camaradas, do diverso das siglas, com seus pares
de interesses e conveniências afins, deram como bola certa o homem que hoje, no
Brasil, representa a reprodução do próprio discurso, em púlpito, de exclusão,
discriminação, preconceito, e fomentação do enviesado às relações de tolerância
às diversidades, sejam étnicas, culturais, religiosas e de orientação sexual.
“Durante a sessão da última quinta-feira (07), os
fundamentalistas tentaram impedir a fala dos deputados que lutam historicamente
na defesa dos direitos humanos. A deputada Erika Kokay (PT – DF) não se calou: ‘Se
nem a ditadura conseguiu caçar a minha palavra, os obscurantistas também não
conseguirão!' "
Houve deputados que se ausentassem da sessão para
não participarem do que foi considerado como ditadura e houve também quem defendesse a
nobreza questionada do pastor político. De portas fechadas a manifestantes, a Câmara
Federal fez o PSC vencer.
“Ainda sob protestos e a portas fechadas, a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados elegeu, na manhã desta quinta-feira
(7), o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir o colegiado. A
vice-presidência ficará a cargo de Antônia Lúcia (PSC/AC). A votação ocorreu
com 11 votos favoráveis, dos 18 membros do colegiado. Pastor da igreja Assembleia de Deus, o deputado causou
polêmica em 2011, quando publicou declarações polêmicas em seu Twitter sobre
africanos e homossexuais. ‘Sobre o continente africano repousa a maldição do
paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome...
Etc’, escreveu o deputado na ocasião. Ele também havia publicado na rede social
que ‘a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à
rejeição’". (www.G1.globo.com/Felipe
Néri - Brasília/ 07/03/2013 11h23 - Atualizado em 07/03/2013
13h16)
Muito barulho por nada? Não. Todo barulho gera algum
desconforto e ruídos a serem reparados e a campanha contra essa imposição de
determinada facção parlamentar ganha força nas redes sociais e protestos
gerados nas diversas capitais brasileiras, contra o que foi tratado como
ditadura estabelecida à Câmara Federal.
“A eleição foi iniciada após a saída da sessão de
deputados contrários à escolha de Feliciano, indicado pelo PSC para ocupar o
cargo. O ex-presidente da comissão, deputado Domingos Dutra (PT-MA), renunciou
ao cargo momentos antes da votação e se recusou a dar continuidade à sessão. ‘Me
retiro nesse momento em nome do PT e me retiro em meio a uma ditadura que foi
estabelecida aqui', disse o deputado.” (Idem)
O deputado do PSOL – RJ, Jean Wyllys também fez frente
durante esse confronto, na tevê mostrou sua indignação e manifestou-se emocionado
sobre a manobra política. Suas falas, em outro momento, acerca do assunto foram
reproduzidas no facebook.
“(...) Esse fato não é
escandaloso --e eu não me oponho a ele-- pelo simples fato de ele ser pastor.
Se o deputado Marco Feliciano fosse um pastor identificado com a garantia dos
direitos humanos e da dignidade das minorias estigmatizadas, não haveria
problema algum e eu não faria qualquer oposição. Acontece que o deputado Marco Feliciano é um inimigo
público e declarado de minorias estigmatizadas e tem um discurso público que
estimula a violação da dignidade humana desses grupos (...) Como pode presidir uma comissão de direitos humanos e
minorias um deputado que se referiu à Aids como "o câncer gay"? Um
deputado que defende um projeto de lei para obrigar o Conselho Federal de
Psicologia a aceitar supostas "terapias de reversão da
homossexualidade" anticientíficas e baseadas em preconceitos (...)” (JEAN
WYLLYS, PSOL-RJ)
As liberdades
e democracia brasileiras nos dão as garantias não só de escolher representantes,
como também de cobrar deles posturas + éticas, de âmbito inclusivo, coletivas e
de amplo interesse a qualquer cidadão brasileiro. O que parece estar ocorrendo
no Brasil é uma manifestação de discurso religioso, de determinado seguimento
de igrejas que, dentro do congresso, talvez queira legislar à “purificação”
social a partir de olhar particular à Bíblia. Esse talvez seja um grave risco
em qualquer sociedade, especialmente àquelas com postura laica e aberta.
“(...) Um deputado que quer criminalizar o povo de terreiro e enviar pais e mães de santo à cadeia por rituais religiosos que estão presentes nos mesmos capítulos da Bíblia que ele usa para injuriar os homossexuais? Ele lê a Bíblia com um olho só. Um deputado que apresentou um projeto para anular diversas (boas) decisões do Supremo Tribunal Federal, entre elas a sentença que reconhece as uniões homoafetivas como entidades familiares (...)” (JEAN WYLLYS, PSOL-RJ)
O país manifestante
não está chovendo no molhado. A resposta
será social, coletiva e virá em seu tempo. Nas instâncias legislativas do País,
em Brasília, que reúnem políticos como Renan Calheiros (PMDB – AL), Eduardo
Henrique Alves (PMDB – RN), Jair Bolsonaro (PP – RJ), senado e câmara federal,
respectivamente, também abre espaço natural para parlamentares + comprometidos
com direitos universais e deveres com a malha social brasileira, muito sujeita
a injustiças e intolerâncias.
“Na verdade, para ser justo, o acordo realizado para dar a presidência da CDHM ao PSC, com ou sem Marco Feliciano, já era um grave problema. Trata-se de um partido que fez campanha definindo a família de uma maneira que exclui não só gays e lésbicas, como também as famílias monoparentais, as com filhos adotivos e tantas outras. Trata-se de um partido que defende posições fundamentalistas que vão contra os direitos de muitas das minorias que essa comissão deve proteger (...) vejo a mobilização de milhares de pessoas para impedir essa loucura e penso: é isso que estou fazendo, tentando representar aqueles que, como eu, sempre receberam mais insultos e porradas que direitos e estima! Saibam que não estão sozinhos! Luta que segue!" (JEAN WYLLYS, PSOL-RJ)
(manifestantes, em Brasília, contra Marco Feliciano/foto: Felipe Néri)
Uma
novidade, dentre as demais escatológicas, em Brasília, vai povoar a mídia e a
indignação nacional durante algum tempo. De certo é que o Brasil de
parlamentares com o diverso de matizes, o que é muito natural, também se configura
como terra de divinizados na busca de um céu aos eleitos. Haverá tentativas de inverter
direitos + amplos, já discutidos e adquiridos a uma coletividade.
Ameaças sempre existirão. A história da humanidade está cheia delas. Ao Brasil, basta acordar à justiça social e honrar o povo brasileiro.
Ameaças sempre existirão. A história da humanidade está cheia delas. Ao Brasil, basta acordar à justiça social e honrar o povo brasileiro.
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