Edith
Riso
por maneco nascimento
A
Semana d’Elas iniciada na sexta feira, dia 1 de março, e que segue até sexta
feira, 8, Dia Internacional da Mulher, com programação preparada para acontecer
no Espaço Cultural “Osório Jr.” e Bar do Clube dos Diários, recebeu nesta
última terça feira, 5, a
divertida versão piauiense de “Apareceu a Margarida”, de Roberto de Athayde.
Facilitada por Avelar Amorim e interpretada por Edith Rosa, a personagem à montagem
ganha um ar mais leve e de histrionismo farsesco.
De
todas as versões vistas, anteriormente, sempre havia um humor contido,
naturalmente, no texto, mas aplicado de forma muito rígida. Talvez por ficar na
leitura tradicional do contexto subliminar histórico e também político, em
discurso implícito, de teor coercitivo e impositivo da época da ditadura,
porque dramaturgia datada. Montagens eficientes, mas de matéria dura.
Com Edith Riso, digo, Rosa, há um arbítrio que
faz com que o público se desarme, sem culpas, das falas sociais da professora
tradicional que impinge sua classe de assistência a sofrer ameaças e aprender
biologia, numa aula de sacanagem. Edith, com uma veia natural ao histriônico,
está muito à vontade para vomitar a aula de Dona Margarida, em zona franca, livre
das amarras de direções engessadas e arbitrária a perder de vista o perfil da
professora de hardware violento, vociferante, ameaçador e sacana em zanga
fácil.
Nesse
desenho, para Edith Rosa, pensado por Avelar, é incluído um partner
(Eristóteles Pegado) como ilustração da personagem do aluno que sofre as
intervenções, de Dona Margarida, dirigidas a sujeito real na aula instalada. Quebra
a cartografia monologar ao criar vínculo de dialogismo com o escolar
“imaginário”.
Tudo
gira em torno da classe e, volta e meia, do aluno real. Tudo gera um bom riso,
seja pelo escatológico apresentado, seja pela surpresa da cena posta, ou da
naturalidade escrachada com que a atriz desempenha a Margarida, sem perder o
Athayde, nem muito menos o estilo particular de interpretar, despendido por
Rosa.
A apresentação do dia 5 de março, a partir das
20 horas, caiu como uma mão na luva ao riso e ao entretenimento e veio dentro
da semana em que se comemoram os festejos ao Dia Internacional da Mulher. De
Margarida para Edith e de Edith para Margarida, passando por Athayde e Avelar,
a deleitosa Dona Margarida ganha a platéia.
Sai da cena da mesma forma com que entra, com
graça divertida, com força e energia consignada para fazer rir e com a estatura
de atuação grande, da intérprete, mesmo que para atriz de estatura média, mas
que transforma a cena comum em grave riso e alça a performance para ótimo
exercício da atriz, em construção da personagem, do repertório de criações
individuais.
O
Projeto das terças feiras, “Eu, você e o teatro da minha vida”, do Bar do Clube
dos Diários, festeja de mulher pra mulher, a Margarida da Edith Rosa. E, pelo
riso na janela do teatro, homenageia as mulheres artistas, atrizes,
dramaturgas, diretoras de cena, professoras, cantoras, mães, filhas, alunas,
enfim a Mulher representante e representada na arte do fingimento.
Edith
Rosa é mote do riso, nas falas de prosódia particular, nas inflexões carregadas
de intenções, distanciadas da tradição embolorada, mas preservadas na negação
do teatrão parodiado. Atrai atenção no foco da personagem, nas galhardias
premeditadas, no corpo que fala as linguagens populachas da mídia, na inversão
do sério para torná-lo risível e atrativo. Antropofagia toda a assistência sem
parecer querer ser esfinge. Mas revela e devora. Decifra e cospe a resistência de
quem finge não entender a esfinge.
Edith
Rosa deu uma mostra de seu talento experimentado e volta a repetir a dose,
dessa vez no palco do Theatro 4 de Setembro, às 20 horas, do dia 22 de março
deste. Para quem perdeu o riso, no último dia 5, não deve desesperar. Ela e sua
Margarida serão toda cena. Quem quiser rir, agende-se. Vale a pena ver, sempre.
Maneco sempre me surpreende em cada texto que escreve, admiro sua calada e fria sensibilidade casada com o degustar da apreciação estética das cénicas. Alem de um comprovado talento cênico do ator que é, es também um maravilhoso crítico. A cultura do Piauí agradece e floresce a flor do mandacarú. Temos fome e sede mas ainda não morremos. Muito obrigado!
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