Aqueles
Quatro
por
maneco nascimento
Um
grupo mineiro de teatro visitou a cidade e deixou sua marca de cena apropriada.
De 1º. a 3 de março de 2013 presenteou Teresina com um diverso de simples e
estético e complexo e humano e ciência da cena a olhos vistos. “Aqueles Dois”,
da Companhia Luna Lunera, de Belo Horizonte (MG), apresentou um belo horizonte
de teatro de pesquisa, disciplina, contextos sócio-afetivos e critérios
técnicos caracteristicamente eficazes.
Para
“Aqueles Dois” prospectado da obra homônima de Caio Fernando Abreu, a Companhia
explicou, numa conversa franca e muito produtiva, que chegar àquele resultado
com quatro atores em cena, exigiu tempo, conhecimento e novas perspectivas
cênicas apreendidas e toda humanidade que houver nessa vida de quem sabe o que
quer conquistar com seu teatro.
E
a Lunera sabe-o bem. A prova está no palco e no detalhado exercício que trouxe
a Teresina, com “Aqueles Dois”, mas que também deixou em passagem por outras
paragens em que vem circulando com o espetáculo. Na conversa mantida com a
classe, na tarde do dia 3 de março, a partir das 16 horas, no Complexo Cultural
do Matadouro – Teatro do Boi, com a mediação do dramaturgo e escritor Aci
Campelo, se pode conhecer o processo de montagem da leitura mineira para C. F.
Abreu.
(arte do cartaz de Aquele Dois/acervo da Luna Lunera)
Aqueles
quatro atores falaram de suas experiências pessoais de artistas, do histórico
da Companhia, da escolha do texto e do conspirado processo de finalização da
peça, a partir de improvisação, seleção de material improvisado, roteiros de
direção, haja vista cada um dos envolvidos no processo apresentarem um viés
próprio de desconstrução da dramaturgia e construção da cena posta.
Estão
lá, na cena, dados da obra de Caio, das cartas e intertextuais elementos
presentes em sua literatura, como as transversais identidades dele trazidas
para a montagem, sejam de aproximações de linguagens, sejam das memórias
afetivas de cada um daqueles quatro em ato concentrado. E essas peças, do jogo
dramático, que foram montando o enredo de cena visto, tinham também sugestões
do público interativo que participou dos ensaios abertos, ou apresentações em
dinâmicas de afinação.
Da
luz do poste da rua, que vaza ao estúdio de ensaios, base do laboratório de
criação da Lunera, ao construtivismo estético que define o universo doméstico,
ou do escritório em que ganham vida as personagens quadruplicadas, toda a obra
dramática exposta traz uma virtuose do Ator criador, compondo essências,
olhares particulares e senso plástico-estético do artista dramático ao objeto
dissecado, a prosa de Caio F., numa linguagem dinâmica que não perde nunca a
concretude do real ficcionado e nem foge, também, da práxis do fingimento
acurado.
Aqueles
quatro elementares da criação apresentada, Cláudio Dias (criação, direção e
dramaturgia), Guilherme Théo (ator na cena), Marcelo Souza e Silva (criação,
direção e dramaturgia) e Odilon Esteves (criação, direção e dramaturgia) deixaram
na conversa sobre o processo de montagem, senão uma ótima impressão a quem quis
ouvir sua história, também toda uma sinceridade de compartilhar a experiência
de quatro atores de uma Companhia que soma também três mulheres, fora do
processo de montagem, e um repertório de experiências individuais, que contidas
no coletivo, contêm definida técnica declarada de sua ação de teatro ruminado a
novas interpretações.
(Aqueles Dois/foto: acervo da Luna Lunera)
Um
quinto elemento, Zé Walter Albinati(criação, direção, dramaturgia, relator do
processo, voz e arranjo vocal), que não veio a Teresina, fecha com Rômulo Braga
(criação, direção e dramaturgia) o círculo das estratégias de preparação ao
fingir bem e convencer quando a hora é do teatro. Aqueles quatro, na cena,
sejam os atores criadores, sejam as personagens quatro vezes apresentadas para
“Aqueles Dois”, uma pérola aos outros que acorreram à curta temporada no Teatro
do Boi.
Final
de semana (1º. 2 e 3 de março) instrutivo, pedagógico porque aprendeu-se a
aprender vendo o colega encenando e viu-se em dinamismo de interação com
objetos “inanimados” uma vida de signos, códigos, língua e linguagem que reinventam
conflitos e catapultam novo olhar à cena brasileira, dessa feita mineira.
Do público, houve para todos os perfis. Os que
chegaram bem antes do abrir das portas da Casa; os que chegaram no limiar do
atraso; os que afobaram no silêncio da cena e interferiram nos recortes de
delicada luz e os últimos que, sem chance de serem primeiros na fábula bíblica,
perderam a chance de ver um espetáculo em rito de passagem à excelência de
melhor ato.
(Aqueles Dois/foto: acervo da Luna Lunera)
Aos atrasados da vez, perderam um quente e
confortável teatro d’Aqueles quatro para “Aqueles Dois”, da Luna Lunera, que
riscou luzes em céu das cenas, pela primeira vez em palco teresinense. Evoé,
teatro brasileiro.
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