Agenda qualificada
por maneco nascimento
“Nar Brenha”, coreografado por
José Nascimento, profissional da dança que compõe o Balé da Cidade de Teresina,
abriu temporada dia 21 de março de 2013, às 19 horas, no palco do Complexo
Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, e fica em cartaz até esse dia 22.
Antes da apresentação do BCT, um convidado especial fez suas vezes de ascendência profissional na cena. O Cordão Grupo de Dança, coordenado e coreografado por Roberto Freitas, demonstrou um "pool" de suas coreografias premiadas. O Cordão é o + novo lampejo da dança na capital.
Na hora da "prime star", em afinado traço dramatúrgico
para dança moderna e pesquisa no terreiro da cultura popular, o Balé da Cidade
de Teresina, através de “Nar Brenha”, possibilitou ao público de Teresina uma
bela representação da cultura de memória afetiva e história sócio-artística, reproduzida do comportamento rural e brejeiro com muita graciosidade e engenho
projetado em corpos do corpus da companhia de dança, mantida pela
Prefeitura de Teresina, através da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor
Chaves.
Nesse 2013 em que o Balé da
Cidade de Teresina completa 20 anos de palcos, a circulação dos espetáculos de
repertório antecipa o aniversário comemorado em junho próximo. Nesses fins de
março, “Nar Brenha” é a montagem da vez, mas outras cartas, da manga, serão
lançadas até o festejado dia de nascimento às ribaltas.
(arte Nar Brenha/acervo: BCT)
“Nar Brenha” reverbera através da
linguística dos corpos, em signos e movimentos acionados, toda uma acuidade do
fazer estético que finaliza humor da natureza nordestina que, segundo pesquisa
do IPEA, é de onde vem um dos povos + felizes do Brasil. Esse gracejo, na forma
artística, ganha + carisma e identificação imediata com o público que acompanha
o desenho visto em cena. Os intérpretes-bailarinos estão muito à vontade e
detêm energia limpa e tônus equilibrado, seja em atos + individuais, seja em
coletivo que dança alegria, prazer e técnica reunidas para deleite do
espectador.
As coreografias que compõem o
espetáculo interagem sociabilidades e marcas culturais bem na agulha de qualquer
cotidiano de festejos, terreiros e outros ambientes de identidade à arte da
mímesis da nação nordeste e suas reinvenções antropológicas. É também “Nar
Brenha” que culturas se espelham e se transformam para arte bem aplicada,
através do BCT.
Ainda nesse 21 de março, o Grupo
Harém de Teatro estreou, em Teresina, “Abrigo São Loucas ou Três Personagens à procura de um Aqüé”. Com finalização dramatúrgica textual a cargo de Arimatan
Martins, o desenho dramático de cena é também de sua assinatura. A montagem, de
marca autoral, vem reiterar o teatro do humor, entretenimento e riso praticados
com muita eficácia pelo coletivo de teatro, há + de 25 anos, no mercado
cultural da cidade.
(arte do cartaz/acervo: Harém de Teatro)
“Abrigo São Loucas...” fez seu
rito de estreia, às 20 horas, do dia 21, no palco do Theatro 4 de Setembro,
para seleta plateia e público contumaz e seguidor do Harém. Com enredo afiado e
afinador de discurso que pincela os últimos 50 anos da política local, de forma
gracejada às memórias de gabinetes e vidinhas apascentadas na sombra das
administrações públicas, as benesses possibilitadas, às esposas de políticos,
em gerações nepóticas antes da era da Lei de responsabilidades fiscais, são alimentos regurgitados à quase exaustiva repetição.
O mapa dramatúrgico retém mote
para desempenho simétrico de Fernando Freitas, Francisco de Castro e Francisco
Pellé (as ex-primeiras damas forjadas) e do partner das personagens masculinas
provocadas, que recebem identidade física de Emanuel de Andrade, mascote das
fantasias e amores compartilhados para egos, alter egos e superegos das
mulheres dos ex-prefeitos de cidades interioranas, no rincão do Brasil de
jeitinho nacional.
As memórias dedilhadas, das
mulheres, variam entre a apoteose dos dias de fartura; a cerca imposta da Lei
de proteção aos recursos públicos; a nostalgia do poder e a amargura que se
abateu sobre as lembranças dos “bons tempos” em que as primeiras damas eram
rainhas de inglaterras, custeadas pela força tributada dos “vassalos” em reinos
de prevaricação e pomposas farras públicas.
O desempenho do elenco está na
média da proposta criada e os efeitos estéticos e práticos de encenação
percorrem linguagem apropriada do Grupo à linguística já perseguida, por
excelência, pelo Harém. O drama reúne picardia, humor crítico-reflexivo e
ironias refinadas e cáusticas alfinetadas, metalinguadas no inteligente aparelho
de conspirações artísticas que a excelência hareniana já mantém bem viva.
Luz (Assaí Campelo) e pesquisa musical (Márcio Brito) também são
fichas complementares da dramaturgia aplicada. A confirmação de figurinos, que
volta à origem do “metier” de montagem da “Raimunda Pinto, Sim Senhor!”, é de
perspectiva criativa do próprio Grupo e adapta-se à realidade e lúdico prático
a que o Harém tem domínio.
É uma pérola lançada aos outros.
Procede “Macacos me mordam – A Comédia” e antecede “A Revolta das Barbies” e,juntas, formatizam projeto da trilogia de textos autorais à construção do homem
no centro da cena brasileira, diretriz prospectada pelo Harém de Teatro.
“Abrigo São Loucas...” é a bala
da vez. Esse projétil cultural percorre a câmara para explosões de qualidade
artística, feito cena, em busca expressiva do melhor sinal ao riso e
entretenimento pelas artes cênicas locais.
“Nar Brenha” e
“Abrigo São Loucas...” em melhor agenda qualificada aos palcos da cidade. Quem ainda não viu, terá todo o tempo de espera e, queira Godot, não perca essa ótima agenda permitida.
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