quinta-feira, 21 de março de 2013

Mediatantos

Mediatantos
por maneco nascimento

O Núcleo do Dirceu, em um dos seus melhores exemplos de nova dança construídos, apresentou dia 19 de março de 2013, às 19 horas, no palco do Complexo Cultural do Matadouro – Teatro do Boi, o espetáculo “Mediatriz”. 

A pérola reúne os intérpretes criadores Elielson Pacheco, Janaína Lobo e Weyla Carvalho numa virtuose de magia, em ciência da dança, para graça premeditada ao simples, humor concentrado na razão e falas do corpo que apresentam performances dos membros inferiores, recortados por cortinas e iluminação direcionais.

A música, de Sérgio Matos, um percurso de sons e musicogramas virtual-concretos que mapeia uma indispensabilidade, no desenho dramatúrgico construído pelos artistas, em cena.

(Cena de Mediatriz/foto acervo do Núcleo do Dirceu)

A luz, de Erickson Pablo, um refinado recorte que varia entre economia densa e expansão da linguagem em signos distanciados do paradigma de iluminação dramática tradicional. Retém foco criativo, redoma, em cerco determinado, o efeito de pinos e filamentos delicados e afinados para brincadeira séria em seu lúdico de representação da transitiva ação de intransitivos jogos cênicos de “Mediatriz”.

Tudo conspira para uma caixa mágica intertextualizada na caixa cênica tradicional do Teatro. O metalinguismo se estabelece no mapa de claros/escuros econômicos de luz, de sincrônicos e assincrônicos sonoros e de simetrias e assimetrias de corpos; nos silêncios e ruídos provocados ao enredo finalizado em obra aberta e numa prática de maquinaria (Leonardo Sousa) que faz e desfaz “marcas” que praticadas numa quase invisibilidade de alterações.

Os truques do some e do reaparecimento de corpos, ou parte deles, vão escrevendo a história que graceja propósitos de entreter, manter atenta a plateia na ação desenvolta e, despretenciosamente, aplicar pedagogia de atos do corpo em energia que concentra e distende anatomias funcionais e lúdicas.

Em exercício de precisão e rigor metódico de didática livre, fora do esquadro da dança coloquial, ou de tradição, se vê aplicados equilíbrio estético e físico e arte criativa e recriadora do paradigma do qual se desgarra para reinventar nova perspectiva e olhar a mesmo espelho refletido. 

As falas de membros inferiores do nível da planta dos corpos, variando pelas pernas, quadris e troncos, em seus discursos identitários das anatomias próprias, revelam músculos, ossos e articulações distintivas na linguagem corporal expressiva, doada ao público que expia e integra recepção do objeto dissecado.

Na licença poética pode-se abstrair trânsito de corpos que envergaria percurso de rastejante em processo de acertar casulo e, no salto do tempo, equilibrar quadris em ilustrativo de gêneros possíveis e, talvez, no processo evolutivo cultural e “panfletário” pincelar a queda do sutiã, ou simplesmente abrir margem ao desnudamento, sem qualquer apelo, ao corpo da intérprete criadora em ação de desvelo cênico.

“Mediatriz”, através de seus criadores, media talentosa experiência franqueada em palco, aponta pesquisa mergulhada ao reconhecimento do próprio corpo, reitera projeto de repaginar “velhas” naturezas da dança, ou pelo menos quebrar um dado comum de varejo, ao passo em que demonstra empenho do ato de cena que atrai a atenção, aproxima curiosidade à novidade apresentada e reúne Elielson, Janaína e Weyla num inegável prazer de ser a cena e ter em cena domínio do exercício proposto em projeto.


(Idem)

Ao tempo em que concluem o exercício, os intérpretes criadores são revelados de corpo inteiro, num desnudar de marcas que, durante enredo de uns cinquenta minutos, só pés, pernas, braços e quadris eram jogo de aproximação e distância de recortes anatômicos apresentados.

Media, o espetáculo, tantos efeitos, virtuose conceitual e arbitrado fazer cênico para razões e sensíveis respostas projetadas. 

Mediatantos, cabeça, ombros, pernas e pés, bocas, olhos, ouvidos e nariz, semântica e sintaxe para efeitos placebos de cura artística. Media matizes a tantos e todos que interajam “Mediatriz”. Parabéns, Núcleo do Dirceu!

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