Hebe, Hebe!
por maneco nascimento
“Minha pedra é ametista, minha cor o amarelo...” (João
Bosco)
Toda vez que desaparece uma celebridade, no caso de artistas-comunicadores
sociais de massa, dessas que parecem “intrusona” em nossas casas, fica-se com o
sentimento consentido, de telespectador, à orfandade, quer seja da verve do
profissional interativo de massa, quer porque parece criada uma cumplicidade
“doméstica”, entre o artista possibilitado pelo mediador e o povo que
acostuma-se à convivência diária, ou semanal com o programa e a arte do
preferido.
A televisão brasileira, também deve ser assim em qualquer parte do mundo,
elege, através do audiente, seus deuses e mitos urbanos mass media. No
histórico da televisão brasileira, já sexagenária, muita água passou por baixo
da ponte dos negócios que migraram da era do rádio à do transistor e da imagem
do aparelho mágico de tevê.
E, se preciso confirmar, as loiras ou aproximadas dominaram o set nos programas
populares. Estiveram à frente com muita disposição, competência, criatividade,
ousadia e bom humor, genuinamente brasileiro.
Penetraram na casa brasileira e marcaram pontos ao artista âncora, à empresa de
comunicação, ao anunciante e conglomerado comunicacional. Foram suor e lágrimas
em classe, simplicidade e domínio em estúdio desde o “ao vivo” improvisado,
videoteipe, pré-gravado e “ao vivo” novo tecnológico.
Senão vejamos, da pioneira à + “novata” em perfil particular e direcional
também ao Ibope, temos para todos os usos e satisfação. Da ascendência de tempo
e projeção no ar, idade e formato fim, Hebe Camargo,
Ofélia(in memória), Palmeirinha, Ana Maria Braga, Marília Gabriela, Xuxa
(anunciada morena, em 2012, ao custo de R$ 2.000.000,00 por um período de 3
meses), Angélica (que chegou de táxi), Eliane, Márcia Goldsmit, entre outras.
Cada profissional de sua geração, a seu turno e forma de comunicar, galgou a
própria celebrização e conquistou a praça nacional. Na madrugada do último dia
29 de setembro, sábado, uma dessas divas, do horário da cultura de
entretenimento e negócios da comunicação de massa, abriu vaga na grade de tevê
e foi montar nova atração no plano superior.
A Rainha da televisão brasileira, Hebe Camargo, aos 83 anos, recolheu seu
riso franco e bom humor de apresentadora de televisão e agendou novo projeto de
entrevistas e bitocas gracejadas com amigo (a)s, artistas e convidado(a)s em
canal de transcendência estelar.
(A eterna Hebe Camargo/foto: divulgação)
Foi abrir flanco de conversas abertas com Nair Belo, Golias,
Chico Anysio, Sérgio Brito, Geórgia Gomide, Ítalo Rossi, John Herberth, Elis
Regina, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Raul Seixas, Tim Maia, Gonzagão e
Gonzaguinha, Renato Russo, Cazuza, entre outros tantos célebres à pauta de
convivas.
A predestinada a brilhar que nasceu em 8 de março, no Dia Internacional
da Mulher, não sabia do que seria capaz até tornar-se a Hebe cantora, atriz e
apresentadora de televisão. Desempenhou seu papel
artístico sem pestanejar e ganhou o país que sabe amar seus artistas e
fidelizar a arte e carisma do profissional “made in” Brasil.
Considerada a grande dama da caixinha mágica de televisão, permaneceu durante
24 anos trabalhando numa mesma emissora de tevê, a do patrão Silvio
Santos,
onde recebeu em seu sofá o grande “staf” cultural nacional e estrangeiro. Com
nome de batismo atribuído à deusa da Juventude (mitologia grega), Hebe mantinha
uma graça de felicidade e bom humor que nunca pareceu ser de script, mas de
natureza rara e honesta da própria personalidade.
Uma das precursoras da instalação do sinal de televisão brasileira, declarou em
entrevista ao programa de Marília Gabriela que não cantou o Hino da
inauguração da televisão no Brasil, porque alegou problemas de saúde. Na
verdade fora a uma matinê de cinema com sua paixão, Mário.
Quem cantou em seu lugar foi Lolita Rodrigues, grande amiga e parceira
de arte. A apresentadora computa, em seu histórico, um
dos primeiros programas na TV nacional, “O mundo é das mulheres”.
Deixou os bastidores após lutar contra um câncer raro, localizado no peritônio
(película que recobre os intestinos). Sempre gracejou sobre tudo, inclusive com
a própria doença “Não sabia que eu tinha um peritônio... nem sei o
que é isso.” Os
amigos + próximos testemunharam que conviveu bem com a doença e nunca se
queixou.
Aceitou com bom humor sua sorte traçada pelo destino. Brilhou o quanto pode.
Sobreviveu o necessário, creio eu. Como diamante
raro, pedra aquecida por milênios de energia concentrada ao eterno, deixou seu
rastro de brilho halleyano e, rumo às novas constelações, avança no cosmos em
transmutação à luz desejada por nós simples mortais.
Hebe, Hebe! Que o mundo de nova vida a acolha bem e passe você a dividir
essa alegria de viver que sempre pareceu doar, gratuitamente, ao povo
brasileiro. Esteja em paz!
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