Tempos de sobreviver
por maneco nascimento
“Onde os dourados gaviões voavam,/esvoaça hoje a sombra da fumaça./Onde nas tardes de outono/Gritavam os falcões, [...] Never more [...]” (“Goldhalk Road”, Dobal, 2005, p. 124 IN Reinaldo, Lilásia Chaves de Arêa Leão. A poesia moderna de H. Dobal. Teresina: UFPI, 2008. 184 p.)
Em dias de anúncios apocalípticos de fins do mundo, o fim do mundo é não se ter mais a vida tranqüila das memórias do passado, da infância rural que tanto prazer e gosto davam a quem viveu aqueles bons tempos. Dias das grandes chuvas, das enxurradas, das cabeças-d’água às pescarias e da renovação do verde e esperança às plantações de subsistência.
Hoje, são dias de terra rachada, no nordeste contumaz, em áreas do polígono das secas das Minas Gerais e até em áreas amazônicas. As chuvas não chegam tão fácil assim e São José nem sempre pode atender aos pedidos fiéis de um milagre. Não há santo que opere milagre em contraposição aos movimentos de progresso, lucros, agronegócios, desmatamentos insanos e especulação e grilagem de terras rurais e urbanas.
por maneco nascimento
“Onde os dourados gaviões voavam,/esvoaça hoje a sombra da fumaça./Onde nas tardes de outono/Gritavam os falcões, [...] Never more [...]” (“Goldhalk Road”, Dobal, 2005, p. 124 IN Reinaldo, Lilásia Chaves de Arêa Leão. A poesia moderna de H. Dobal. Teresina: UFPI, 2008. 184 p.)
Em dias de anúncios apocalípticos de fins do mundo, o fim do mundo é não se ter mais a vida tranqüila das memórias do passado, da infância rural que tanto prazer e gosto davam a quem viveu aqueles bons tempos. Dias das grandes chuvas, das enxurradas, das cabeças-d’água às pescarias e da renovação do verde e esperança às plantações de subsistência.
Hoje, são dias de terra rachada, no nordeste contumaz, em áreas do polígono das secas das Minas Gerais e até em áreas amazônicas. As chuvas não chegam tão fácil assim e São José nem sempre pode atender aos pedidos fiéis de um milagre. Não há santo que opere milagre em contraposição aos movimentos de progresso, lucros, agronegócios, desmatamentos insanos e especulação e grilagem de terras rurais e urbanas.
(rio vaza-barris [Canudos)/foto: www.flickr.com/photos/franciscoferreira)
Sobreviver para quem convive com a falta de água potável, a falta de chuvas regulares e, consequentemente, com a morte dos bichos domésticos e dos nativos da mata, dos olhos-d’água, córregos, riachos e rios é dose mortal. Acompanhar a seca dos cacimbões e poços, não é fácil, é papel macho para nordeste escamoteado.
A agonia e morte, da vida da zona da mata nordestina, se repetem secularmente e, em nosso contemporâneo, com + agressividade da natureza em reação ao homem (genérico) e a seu ato desbravador.
(rio vaza-barris [Canudos)/foto: www.flickr.com/photos/franciscoferreira)
Matas ciliares abaixo; serrados transformados em campo de última fronteira agrícola; matas atlânticas engolidas; caatingas, em suas matas brancas e tupis de recurso único brasileiro, lançadas à morte prematura por desaparecimento de seu entorno de irmãs nordestinas. Bioma é palavra complicada para mundo analfabeto e às gentes sujeitas ao determinismo do lucro.
(floresta nordestina - caatinga/foto colhida da wikipédia)
Os noticiários de tevê nos dão mostra de lugares ermos. No chão só pó e riscos geométricos onde antes correu água. Barreiros secos, açudes feitos lama ou tórridos, gente comprando caro um pouca água para sobreviver e todo um mundo triste, não sem esperança divina, mas estarrecido com uma das secas + ferozes dos últimos trinta anos.
Os chefes de família já partem para o sudeste, trocando a enxada pela construção civil. Alguma solução precisa ser encontrada para salvar a espécie familiar. Parece tema de Luiz Gonzaga, ou melhor, o poeta popular registrou uma experiência comezinha do controverso do nordeste que é também de alegria, muita vida e esperança no futuro, quando há chuva.
Quando os movimentos ambientalistas mobilizam atenção sociopolítica para os crimes ecológicos, encontram a contraforça dos fazendeiros, madeireiros, sojeiros, siderúrgicos, industriários pesqueiros, especuladores e um número considerável dos que podem manipular interesses econômicos aos futuros privados, em detrimento do bem coletivo. Nada contra a produção industrial, mas com responsabilidade ambiental não seria melhor?
“’É hora de tirar a minhoca da cabeça e colocar no anzol’ Ministro Marcelo Crivella (Pesca) alfinetando o radicalismo de órgãos ambientais” (Humberto,Cláudio/meionorte/Geral/26.10.2012. A/10)
Quando a bancada ruralista e agora também a evangélica se fortalece para discurso que desmereça a política ambientalista, então a natureza que se “fade”. Aldeias indígenas inundadas, gentios emboscados, áreas de preservação pirateadas, matas nativas transformadas em carvão, margens de mananciais assoreadas, animais silvestres traficados e toda sorte de natureza violada.
Onde a fogo-pagô imprimia seu canto, hoje se cria gado, se planta o agronegócio e se colhe os louros dos mercados e futuros. O sinal de fumaça já não é + de uma caieira de subsistência, ou de uma cozinha a fogo de lenha reaproveitada da velha capoeira. A fumaça é ameaça da neblina dos dias ruidosos que o futuro guarda a quem ainda precisa da natureza de vida simples.
Em terra que se chuta a Santa, fiéis que não herdam o reino de universos capitalistas estarão sujeitos à própria sorte do fim do mundo, (in) comum e (in) natural, dos despojos do progresso. A pena capital, tempos de sobreviver.
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