por maneco nascimento
O Projeto “Teatro para Todos” da pasta da FUNDAC, governo do estado, dirigido à área das cênicas, trouxe ao palco do Theatro 4 de Setembro, na noite do dia 02 de outubro de 2012, às 19h15, o espetáculo da cidade Floriano, “Ratimbum – Paratimbum”. Do original de Paulo Sacaldassy, a peça carrega encenação, assinada por Leonardo Carlos, para atores da Associação Brincantes do Folclore Nordestino.
Julinho e Clarinha, casal de irmãos, penetram no mundo mágico e, enredados na trama, terão que ajudar a Boneca de pano e o Soldadinho de chumbo na tarefa de salvar o velho Palhaço das garras e malhas de feitiço da Bruxa Papão. A vilã da história costuma hipnotizar as crianças e usa como estratégia seus programas infantis de televisão. Como último recurso terá que se apropriar da alegria do Palhaço e assim dominar o mundo.
O grupo reunido de mocinhos resgata brincadeiras de roda e exercícios lúdicos infantis, como maneira de trazer de volta a alegria inocente. A dramaturgia literária, reproduzida na cena, tenta repercutir circunstâncias da perda da tradição das antigas brincadeiras infantis, obscurecidas por força da mídia dominadora do mercado da fantasia.
Há um esforço em fazer crer na pedagogia críticorreflexiva das memórias sociais desaparecidas. No caldeirão de informações há todo um arcabouço e ingredientes da magia. Crianças, inocência e luta pela sobrevivência sensível da fantasia, vilã antipática (a bruxa), títeres (Joãozinho e Zezinho) que falam pela boca das crianças em dialética de apropriação do mundo mágico e da responsabilidade social e uma quase certeza de estar acertando no ato apresentado.
Faltaria, talvez, + cuidado com o texto posto na boca da vilã, “(...) essas crianças malditas (...) acabar com esse palhaço maldito (...)”. Em dias de políticas públicas de maior convivência e didática de aproximação entre as pessoas e a diversidade, poderia soar muito agressivo as expressões acima, até porque a Bruxa consegue uma veemência e inflexão de enfático poder na palavra.
A atuação da Bruxa é a de melhor destaque no espetáculo, parece deter maior maturidade à cena. O intérprete do Palhaço varia entre a dúvida, o silêncio da dúvida, no fazer parecer engraçado, e uma resistência, talvez inconsciente, no invariável papel de histriônico e clownesco ato da profissão de palhaço.
Os menino (a)s que interpretam as crianças Julinho e Clarinha, a Boneca de pano e o Soldadinho de chumbo têm muito boa intenção e atenção ao mapa de dramaturgia de cena elaborado pelo diretor, mas variam entre o bem decorado a sentimentos de margem e marcas expressivas, embora redundantes ao universo da criança em queda livre a limite de inteligência adestrada.
A montagem recupera personagens universais, o Soldadinho de chumbo, a Boneca de pano falante, a Bruxa do estereótipo a maldade e o emblemático pai da piada de tradição, o Palhaço. No entanto a dramaturgia de cena aparenta incipiência, regalo de principiante e certa ingenuidade a teatro para formação de platéia infantil.
O público infantil, com crianças de colo também, recepcionou a malvadez da Bruxa com temor.Alguma chorou e perdeu a magia do teatro, outra fugiu das primeiras filas e foi proteger-se no final da platéia, sugerindo à mãe o + longe possível. Queria ver o espetáculo, mas estava assustada demais para encarar verdade agressiva da vilã.
Teatro para criança requer delicado cuidado e abordagens que fujam do real intimidador. Lúdico e fantasia ainda fazem parte do universo de aproximação infantil. Não é que se deva cercear a arte de ninguém. Não há ditadura na arte, mas existem maneiras de chegar ao público, especialmente infantil, revelar carisma mesmo nas pequenas maldades e vilanias que o mundo fantástico do teatro sabe exercitar à melhor recepção de quem quer estar atraído pela cena.
O amarrado do enredo fica frouxo e até houve quem perguntou (uma mãe) por que a Bruxa tinha como nome Papão. Em ser linguagem pedagógica, de formação de platéia, em tempos de novas tecnologias em que o Bicho papão está travestido de amigo invisível nas redes sociais, talvez não se pregue +, nem mesmo no ambiente doméstico, os mitos e lendas da tradição do fantástico popular, então talvez + clareza até na citação do nome da vilã, na cena, criasse uma dialética do signo da maldade próximo do universo da geração de público fim.
“Há que ‘assustar’ sem perder a ternura”, na paráfrase guerrilheira. “Ratimbum – Paratimbum”, da Associação Brincante do Folclore Nordestino, da cidade de Floriano – PI, cumpre o papel de exercício à cena, mas desliza na ingenuidade da práxis envaidecida e perde a poção mágica de eficiência do lúdico e fantasia a pequeno público.
Aprendizes do feitiço cênico, precisam recuperar as primeiras lições da prática teatral e aprender o Abracadabra!
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