Natureza só
por maneco nascimento
“Em 2000, um massacre aconteceu nas Bahamas. Dezesseis baleias e um golfinho encalharam na praia e morreram após a Marinha americana realizar um teste com um sonar, uma operação que pode produzir um volume de som de 235 decibéis, 85 dB a mais que os gerados pela decolagem de um jato." (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
Àquela época, a partir de resultados desastrosos em pesquisas da ciência americana, nas Bahamas, os ambientalistas ficaram chocados com o estrago feito à natureza de animais tão dóceis e belos que os mares produziram.
“Pesquisadores do Instituto Earthwatch (EUA) encontraram danos internos nos animais relacionados com a exposição a esse tipo de barulho. A própria Marinha admitiu que o teste pode ter influenciado no encalhe em massa. Esse é só um exemplo de como atividades humanas nas águas do planeta estão desorientando, ensurdecendo, enlouquecendo e até drogando a fauna aquática.” (Idem)
No final da década de setenta, a dupla de cantores compositores, Erasmo e Roberto Carlos, criaram uma das + belas canções acerca dos estragos que pode o homem (genérico) imprimir à natureza. No LP de 1978, “Pelas Esquinas de Ipanema”, Erasmo Carlos gravou uma impactante canção com denúncia ao descaso do homem com a ecologia. “Panorama Ecológico” tornou-se um “hit”, nas paradas de sucesso.
“Lá vem a temporada de flores/Trazendo begônias aflitas/Petúnias cansadas/Rosas Malditas/Prímulas despetaladas/Margaridas sem miolo/Sempre-vivas quase mortas (...) Odoratas com defeito/E homens perfeitos//Lá vem a temporada de pássaros/Trazendo águias rasteiras/Graúnas malvadas/Pombas guerreiras/Canários pelados (...) E pardais viciados/Curiós desafinados/E homens imaculados//Lá vem a temporada de peixes/Trazendo garoupas suadas/Piranhas dormentes/Sardinhas inchadas/Trutas desiludidas/Tainhas abrutalhadas/Baleias entupidas/E lagostas afogadas/Barracudas deprimentes/E homens inteligentes" (Carlos, Roberto & Carlos, Erasmo. Panorama Ecológico)
De tamanha beleza e sensibilidade crítica que a composição trazia, em seu bojo, para gosto popular, havia uma preocupação, já àquela época, com os desmandos que a natureza humana impõe sobre todo o resto natural da terra, espaço que deveria ser para convivência harmoniosa a todas as espécies.
“Uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia (a Penn State, nos EUA), publicada em 2010, mostrou que baleias-francas mudam a freqüência de suas vocalizações para compensar o ruído de embarcações. O mesmo fenômeno já foi detectado em belugas e orcas e, no Brasil, em toninhas – também conhecidas como golfinhos-do-rio-da-prata (...)” (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
Para a professora de Ciências Biológicas da Universidade da Região de Joinville (Univille), Marta Cremer, coordenadora do Projeto Toninhas, “(...) é difícil medir se e quanto a poluição sonora altera os comportamentos. Mas gravações feitas por sua equipe mostram que, quando há barcos por perto, os golfinhos emitem um som mais agudo. Além de atrapalhar a comunicação, os pesquisadores acreditam que o barulho excessivo pode provocar surdez.” (Idem)
De Chico Buarque e Francis Hime, outra canção crítica que também aponta a impotência da natureza ameaçada pelo cabeça da cadeia alimentar, “Ei, pintassilgo/Oi, pintaroxo/Melro, uirapuru/Ai, chega-e-vira/Engole-vento/Saíra, inhambu/Foge asa-branca/Vai, patativa (...) Xô, rouxinol sem fim/Some coleiro/Anda trigueiro/Te esconde colibri (...) Bico calado/Toma cuidado/Que o homem vem ai/O homem vem ai/O homem vem ai (...)” (Buarque, Chico & Hime, Francis. Passaredo IN Meus Caros Amigos, 1976 [Disco])
Barulho não parece ser o único problema a afetar a fauna marítima do mundo, “Uma pesquisa da Universidade James Cook, na Austrália, mostrou que o dióxido de carbono, emitido na queima de combustíveis fósseis, está deixando os peixes “loucos”. O pesquisador Philip Munday levou para seu laboratório diferentes espécies – entre elas, o peixe palhaço, o “Nemo” – e as expôs a um nível de CO2 (...) Ao devolvê-los para o mar, o cientista observou que a mortalidade multiplicou-se por nove. Esses peixes costumam se proteger entre corais. Mas, intoxicados, nadavam a distâncias mais longas, se expondo a predadores.” (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
De sorte é que a natureza vilipendiada mostra sinais da lei de ação e reação. Grandes hecatombes têm ocorrido no mundo. E junto com peixes surdos, “loucos”, a terra seca, rachada. Há geleiras derretendo e ursos polares morrendo e também rios secos; falta das chuvas contumazes; perda da umidade do ar. Das queimadas incontroláveis, fauna exiguindo-se, a morte do homem. Reações naturais vêm em contraposição ao desmatamento incontrolável, a todo tipo de agressão ao mundo ecológico.
A natureza está só. A espécie humana está surda e empreende negócios e domínio sobre a terra mater. Contrariando um jargão de série americana famosa, Arquivo X, sobre a existência de seres extra-terrestres, “A ameaça está lá fora”, diria que o que nos ameaça somos nós mesmos, mijamos no próprio pé.
por maneco nascimento
“Em 2000, um massacre aconteceu nas Bahamas. Dezesseis baleias e um golfinho encalharam na praia e morreram após a Marinha americana realizar um teste com um sonar, uma operação que pode produzir um volume de som de 235 decibéis, 85 dB a mais que os gerados pela decolagem de um jato." (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
Àquela época, a partir de resultados desastrosos em pesquisas da ciência americana, nas Bahamas, os ambientalistas ficaram chocados com o estrago feito à natureza de animais tão dóceis e belos que os mares produziram.
“Pesquisadores do Instituto Earthwatch (EUA) encontraram danos internos nos animais relacionados com a exposição a esse tipo de barulho. A própria Marinha admitiu que o teste pode ter influenciado no encalhe em massa. Esse é só um exemplo de como atividades humanas nas águas do planeta estão desorientando, ensurdecendo, enlouquecendo e até drogando a fauna aquática.” (Idem)
No final da década de setenta, a dupla de cantores compositores, Erasmo e Roberto Carlos, criaram uma das + belas canções acerca dos estragos que pode o homem (genérico) imprimir à natureza. No LP de 1978, “Pelas Esquinas de Ipanema”, Erasmo Carlos gravou uma impactante canção com denúncia ao descaso do homem com a ecologia. “Panorama Ecológico” tornou-se um “hit”, nas paradas de sucesso.
“Lá vem a temporada de flores/Trazendo begônias aflitas/Petúnias cansadas/Rosas Malditas/Prímulas despetaladas/Margaridas sem miolo/Sempre-vivas quase mortas (...) Odoratas com defeito/E homens perfeitos//Lá vem a temporada de pássaros/Trazendo águias rasteiras/Graúnas malvadas/Pombas guerreiras/Canários pelados (...) E pardais viciados/Curiós desafinados/E homens imaculados//Lá vem a temporada de peixes/Trazendo garoupas suadas/Piranhas dormentes/Sardinhas inchadas/Trutas desiludidas/Tainhas abrutalhadas/Baleias entupidas/E lagostas afogadas/Barracudas deprimentes/E homens inteligentes" (Carlos, Roberto & Carlos, Erasmo. Panorama Ecológico)
De tamanha beleza e sensibilidade crítica que a composição trazia, em seu bojo, para gosto popular, havia uma preocupação, já àquela época, com os desmandos que a natureza humana impõe sobre todo o resto natural da terra, espaço que deveria ser para convivência harmoniosa a todas as espécies.
“Uma pesquisa da Universidade Estadual da Pensilvânia (a Penn State, nos EUA), publicada em 2010, mostrou que baleias-francas mudam a freqüência de suas vocalizações para compensar o ruído de embarcações. O mesmo fenômeno já foi detectado em belugas e orcas e, no Brasil, em toninhas – também conhecidas como golfinhos-do-rio-da-prata (...)” (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
Para a professora de Ciências Biológicas da Universidade da Região de Joinville (Univille), Marta Cremer, coordenadora do Projeto Toninhas, “(...) é difícil medir se e quanto a poluição sonora altera os comportamentos. Mas gravações feitas por sua equipe mostram que, quando há barcos por perto, os golfinhos emitem um som mais agudo. Além de atrapalhar a comunicação, os pesquisadores acreditam que o barulho excessivo pode provocar surdez.” (Idem)
De Chico Buarque e Francis Hime, outra canção crítica que também aponta a impotência da natureza ameaçada pelo cabeça da cadeia alimentar, “Ei, pintassilgo/Oi, pintaroxo/Melro, uirapuru/Ai, chega-e-vira/Engole-vento/Saíra, inhambu/Foge asa-branca/Vai, patativa (...) Xô, rouxinol sem fim/Some coleiro/Anda trigueiro/Te esconde colibri (...) Bico calado/Toma cuidado/Que o homem vem ai/O homem vem ai/O homem vem ai (...)” (Buarque, Chico & Hime, Francis. Passaredo IN Meus Caros Amigos, 1976 [Disco])
Barulho não parece ser o único problema a afetar a fauna marítima do mundo, “Uma pesquisa da Universidade James Cook, na Austrália, mostrou que o dióxido de carbono, emitido na queima de combustíveis fósseis, está deixando os peixes “loucos”. O pesquisador Philip Munday levou para seu laboratório diferentes espécies – entre elas, o peixe palhaço, o “Nemo” – e as expôs a um nível de CO2 (...) Ao devolvê-los para o mar, o cientista observou que a mortalidade multiplicou-se por nove. Esses peixes costumam se proteger entre corais. Mas, intoxicados, nadavam a distâncias mais longas, se expondo a predadores.” (Tiraboschi, Juliana. Deu a louca nos mares/IstoÉ, 10.10.2012 [Ciência])
De sorte é que a natureza vilipendiada mostra sinais da lei de ação e reação. Grandes hecatombes têm ocorrido no mundo. E junto com peixes surdos, “loucos”, a terra seca, rachada. Há geleiras derretendo e ursos polares morrendo e também rios secos; falta das chuvas contumazes; perda da umidade do ar. Das queimadas incontroláveis, fauna exiguindo-se, a morte do homem. Reações naturais vêm em contraposição ao desmatamento incontrolável, a todo tipo de agressão ao mundo ecológico.
A natureza está só. A espécie humana está surda e empreende negócios e domínio sobre a terra mater. Contrariando um jargão de série americana famosa, Arquivo X, sobre a existência de seres extra-terrestres, “A ameaça está lá fora”, diria que o que nos ameaça somos nós mesmos, mijamos no próprio pé.
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