domingo, 21 de outubro de 2012

A urbe em seu contemporâneo


A urbe em seu contemporâneo
por maneco nascimento

As cidades acompanham, naturalmente, as vicissitudes e anseios das sociedades que as pensam. Assim elas desligam-se de memórias rurais, de formação, e se transformam em negócios de ruas e asfaltos, prédios e novos virtuosismos do dedo arquitetônico, e surgem as novas moradias, as novas vias de acesso, os novos planejamentos e planos urbanísticos da máquina de mover habitantes e reorientar as emergências econômicas e sociais.

Algumas, de maior poder econômico respondem e correspondem + rápido às próprias exigências de mercados e futuros, outras também na esteira da ascendência vão tentando refletir as irmãs + ricas. Todas levam a cabo abocanhar o atraso e ganhar um espelho próprio. Para poderes e dependências de evolução urbanística, a liberdade abre as asas sobre os nós dos novos rumos da modernidade urgida.

“(...) não consegui encontrar este equilíbrio. Minha sensação é a de que São Paulo não para de piorar. Mais motoboy, mais engarrafamento, mais violência, mais medo, mais grades e mais feiúra transformam o que já foi o avesso do avesso do avesso num constructo de metrópolis mais próximo da barbárie do que da modernidade.” (Melo, Patrícia. Máquina de moer habitantes/IstoÉ, 10.10.2012 [Última Palavra])

A escritora brasileira aponta as dificuldades próprias de compreender a São Paulo atual. Fala de intervenções que melhorassem o aspecto físico-urbanístico e que tornasse melhor habitável a maior e + rica cidade da América latina.Acabo de voltar do Brasil. O que me surpreendeu nessa curta estadia foi a sensação de não gostar mais de estar na minha cidade, São Paulo. Foi um sentimento incômodo, como se eu estivesse me traindo (...)” (Idem)

Morar fora da cidade natal sempre acarretará impactos + estarrecedores a quem se reencontra com sua terra, do que quem está todos os dias vendo-a ser transformada. E essa transformação passa por diversos aspectos micro e macroestruturais. Administrações podem querer, ou não, imprimir a própria marca transformadora. Há sempre muitos outros aspectos agregados, quer sejam acerca da malha arquitetônica e seu apelo especulativo imobiliário, ou acerca do tecido social (in) descartável.

As vidas e comportamento dos centros urbanos não são licença poética, as realidades da realidade determinam o vetor de verificação das modificações que acercam a urbe em sua contemporaneidade.
A São Paulo onde vivi por mais de 30 anos (e que já foi cenário e personagem de muitos dos meus romances) possuía a mesma ambivalência de Viena para muitos vienenses, ou seja, era passível de ser amada porque seu lado fascinante compensava a sua banda podre.” (Idem)

É certo que mesmo Sampa, herdeira de barões do café, mimetizados de grandes empresários e responsáveis pela nova cara que o estado adquiriu ao longo do processo empresário-industrial, é próspera e incontestável menina dos olhos do Brasil emergente e de grandes empreendimentos sócio-econômicos.

Os grandes centros urbanos mundiais, Viena, Berlim, Rio de Janeiro, Berna, et all., cada um a seu tempo detêm sua cidade maravilhosa, sem prescindir de seus problemas sócio estruturais? Talvez não. Cada cidade também está sujeita a sua banda podre, que é da natureza escorpiã. Algumas devem encontrar maneirismos de melhor convivência.

O Brasil continental, com seus regionalismos sócio-econômicos, mantém suas idiossincrasias, mazelas particulares, riquezas e gradação de menor poder aquisitivo, mas de um David que vai à funda na retomada da sobrevivência a cada novo “front”. Cidades inchadas de veículos, de gentes em busca da sobrevivência e dificuldades que ora são maquiladas, outras redefinem espaços urbanos à conveniência de poder instituído.

Teresina, a exemplo, nunca teve um essencial sítio arquitetônico edificado, mas um centro velho de memórias das primeiras habitações à ordem das políticas públicas urbanísticas e códigos de posturas municipais. Ruas reinventadas, árvores derrubadas à imposição de linha de trem, casarios “antigos” derrubados a novos empreendimentos, ou a áreas de estacionamento e toda sorte de reorientação que acomode novos tempos.

Longe da São Paulo de grandes logradouros, arranha – céus, viadutos, pontes, museus, grandes lojas, mercados e hipernegócios e suas avenidas paulistas, a Teresina - província ascedente - decorre a problemas que povoam as franjas da cidade “asséptica”. Também com seus motoboys, pequenos engarrafamentos que caóticos para município motorizado e espaço físico estreito.

É cidade verde que se levanta com seu cotidiano sob grades, vigilância e eletrificação penhorada pelo medo e violência banalizadas. A cidade rica, Sampa, é reclamada para uma intervenção urbanística que “(...) de largo alcance pode mudar o ethos e o destino de uma cidade e seus habitantes.” (Idem)

A cidade emergente, Teresina, só precisa equalizar políticas socioeconômicas e estruturais que debelem as diferenças entre áreas nobres embelezadas e periferias maquiadas a cal e calçamento em avenidas principais.

Fogo a projeto urbanístico transformador é sempre possível, mas passível de (des) interesse político de ação de políticas públicas.

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