Coração cativado
por maneco nascimento
Da fábula “O Pequeno Príncipe” há uma passagem
em que, no diálogo da raposa e o príncipe, fica claro que a confiança e amizade
devem ser cativadas. É a lição que o animal deixa ao homenzinho.
Na comemorada data de aniversário do Theatro 4
de Setembro, início deste mês, entre as diversas atrações programadas houve a
exibição de um curta metragem, dirigido e roteirizado por Franklin Pires, a partir de uma
experiência mantida com crianças de uma cidade do interior do estado, durante
uma oficina de iniciação ao teatro para crianças e adolescentes.
O filme, “Coração
Saltimbanco” em que o articulista cultural transforma em ficção uma, sua,
tirada de enredo natural, reúne para objeto de imagem em movimento e conta com
a ativa participação de elenco nativo e personagens reais da história filmada.
A trama, uma história do convite a um ator de Teresina para ministrar uma
oficina de iniciação teatral numa cidade do interior do Piauí.
Do grupo de
crianças reunido para o evento, dá-se que o ministrante ao facilitar processo
para montagem de “O Pequeno Príncipe” acaba por escolher um pequeno, que não
sabe ler, para protagonizar o exercício cênico. O menino desiste do projeto e é
só então que o facilitador do curso descobre que a resistência do menor em não continuar
seria por não ser alfabetizado.
No uso da
metalinguagem do teatro dentro do cinema e da ficção inserida em experiência da
vida real, Franklin Pires organiza uma história comovente e se apropria de seus
dotes de roteirista e diretor de cinema e teatro para fechar gancho de brincar
de realismo lúdico.
O elenco que compõe
a fita, a criança, a mãe, o pai, a professora e os colegas de sala de aula emprestam
suas próprias vidas para ilustrar a ficção. De atores profissionais só mesmo
Bid Lima e Franklin Pires que fazem parte do apêndice dramático como emenda
justificada do ato ficcionado.
À explicação do deslocamento
do ator ao interior para ministrar oficina, o roteiro o transforma em
protagonista de espetáculo sem público. O convite à oficina seria o deus
Ex-machine da peça, em cartaz, que não atrai público.
O desempenho do elenco
real, sem nenhuma aptidão elaborada para cinema, demonstra a fragilidade com que
corajosamente é lançado em exercício profissional de ator. Mas a atuação não
compromete o filme, dá uma verdade sem maquiagem, nem empostação que hibridize
arte realizada.
As licenças
poéticas do diretor roteirista são comoventes, cativam quem enxerga na fita a
humanidade captada pelas lentes do vídeo. A raposa fala pelas lentes do amor
reproduzido através da câmara mágica do cinemim. A lição apreendida, amizade,
carinho, respeito, verdade do mundo real com suas dificuldades, mas de rara
beleza do simples e comum em cotidianos, por vezes embrutecidos por ouvidos
moucos.
“Coração
Saltimbanco” de F. Pires, uma mensagem fabular de coração cativado pela força
da arte experiência e da cultura descentralizada do paradigma acadêmico e de convenção.
Consegue, o filme, reinventar
a própria fábula nesse rincão de desigualdades em que vive o homem brasileiro e
que, à força da insistência em escrever sua história, alcança planeta natal num
salto de fantasia.
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