Poética sensual
por maneco nascimento
Rodrigo M Leite já deu prova de que é um bom poeta. Suas
construções poemáticas - ao cotidiano da cidade quente - em seus verdes dias de
contemporaneidade sobrevivente, nos aponta sinais dos tempos, de sua hora e nos
dá mostra de bom observador da cidade que não tem + fim. Pelo menos não teve às 16
horas do dia 12 de dezembro de 2012. Passou incólume ao dia de profecia
apocalíptica.
Em “a cidade frita e outros poemas”, detém o poeta identidade criativa, da cidade
e seu essencial urbano, o sensual de memória da pele e do desejo guardado para
rupturas e interditos. “a cidade frita entre rios/asfalto brita
calafrios/a idade grita entre pernas/sal limão sangue de menstruação”
E enquanto forja a crônica da cidade “perdida”, também contém
olhar de razão e sensibilidade apurada.
É muito assim em [a noite prematura] para sensações e ardores
subliminares, “ainda dentro da tarde/(quase) todos os lugares/ são assaltados por
personagens noturnos//algumas outras coisas estão quietas/esperam um desejo um
aceno/ um significado qualquer que pernoite sobre elas/a noite adensa
provocações e convites:/quartos escuros corpos em silêncio xícaras vazias” (a
noite prematura)
Os humores sensuais parecem estar por toda a parte “a
cidade grita entre pernas
assalto excita lanternas” (a cidade grita entre pernas) e se confronta com “largue o [televisor]/o
[monitor] deste !computador!//o céu pega fogo lá fora no quintal/- não quero
queimar/me/sozinho” (-------- come on baby).
Também enseja mesmo desejo, “(...) dentro de casa a vontade de sexo gravura no corpo/o combustível
dispara/pássaro da íntima intentona/insurjo, relincho/não aceito//uma nuvem
toma forma de um grande rinoceronte branco!//entre cômodos, assim/nasce um
poema” (de
como nasce um poema)
Às memórias em noitadas - das viragens noturnas nos bares - da vida
desejada “(...)
noite aflora faunadentro/silêncio no afago de pernas/embaixo das mesas” (Ed.
Silvestre Saraiva de Siqueira /Bar Canto Alegre),
ou em delírio do incontinenti “sex apeal” trans(it)ando desejos, “1
caminho no escuro/todos os caminhos:/procuro//2 escuro por todos os
lados/escolho o futuro/me largo//3 desenho teu nome no escuro/no claro te
procuro procuro//4 deitado ao teu lado/abro os olhos na escuridão:/não sei se o
que vejo/é o pretexto o desejo a vontade/necessidade/vazio: imensidão//5 a
palavra LUZ/escrita no papel/no escuro//é ideia seduz/signo que conduz//é ideia
seduz signos que conduz” (escrevo no escuro a1 cachorro enlouquecido)
Se o destino do homem está na palma da mão, já dizia a cartomante, então
a melhor sorte escolhe por onde caminhar as vontades, os desejos, a sóbria
vivência de estar vivo e pulsar calor assaz a frêmitas passagens, em tempo, “o
corpo balança/o desejo acompanha/
quando/ te quiser/euéqdecido/sim/ou/não/o desejo na minha mão” (hesito)
Em êxito provocador, sem hesitar, vive a observação da experiência ao
sensual e ao sexo ardente do observado, “música abraços
derrotas/homens bebem no centro da cidade!//naquelas mesas do Clube dos
Diários/entre/velhos discos novos amores/está o centro daquelas vidas naquele
momento//alta noite vai quente/o sexo de todos entre pernas,/também” (Clube
do Vinil, 2010) e “(...) ardentíssimos calores, glóbulos/faróis vermelhos/buzinas
elétricomamilos/hematomas fissura/carência//caos/caos Morada Nova “(caos
Morada Nova domingo, 18h40min)
Das fantasias projetadas, o crime pela metade, “rabisquei
teu nome à bic/no guardanapo duma lanchonete vazia//(parti pra casa com o
coração nas mãos)/naquela noite/ - apesar dos rios de suor sobre a cama – vc
não gemeu nem/um pin/go/& pela manhã/ ainda/sumiu com o resto do chá/que
havia entre nós” (rabisquei teu nome à bic no guardanapo duma lanchonete vazia)
E, leminskianamente, ainda está na inteira intenção disposta, “aqui//neste
sofá//alguém sentou/olhando o tempo//o tempo/não parou/pra ser olhado//foi
ponteiro/pra tudo que é lado” (leminskiana)
Para solidões (in) desejadas também é reflexão na urbe que o poeta
pariu, “tudo é desgosto desvio/tristeza arrepio/numa
pracinha da desilusão” (tudo é desgosto desvio), ou “(...) andava eu por aí, carregado/da necessária tristeza/ziguezagueando
fogo nas calçadas/cidade desmoronando terraços vizinhos (...)” (do
dia que nunca vi Cecília)
Memórias do logradouros visitados em pública expiação, “-
calçadas desnudas/esquinas insinuantes -/percorro traços saraivanos/descubro
andrajos do tempo” (calçadas desnudas) e quando a tarde prometer mentiras, também estará lá o observador, “dois
loiros garotos magros bronzeados bicicletas/uma avenida que promete água do mar
no fim da ladeira/a areia branca entupindo esgotos/cheiro de sal, miragens
ferventes no horizonte amarelo//seguindo reto o destino é o rio/mas este
caminho os bronzeados garotos sem camisa/desconhecem” (a
tarde promete mentiras)
Como poeta em vida de observação prevê o avenoitecido, “o
silêncio repousa sobre objetos adormecidos/não se ouve passos pelo corredor/nem
o frêmito de corações feridos//ancorado num canto da casa/um quarteirão de
cachaça/aquece o resto de luz que há em meu corpo//tarde, muito tarde/ardo sem
alarde” (avenoite
ao poeta Luiz Valadares)
Anoitece poema, amanhece poesia em rodrigo m leite. Sua poética sensual
guarda segredos de novo poeta, ardente, na urbana terra de seus re (versos).
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