quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Poética sensual

Poética sensual
por maneco nascimento

Rodrigo M Leite já deu prova de que é um bom poeta. Suas construções poemáticas - ao cotidiano da cidade quente - em seus verdes dias de contemporaneidade sobrevivente, nos aponta sinais dos tempos, de sua hora e nos dá mostra de bom observador da cidade que não tem + fim. Pelo menos não teve às 16 horas do dia 12 de dezembro de 2012. Passou incólume ao dia de profecia apocalíptica.

Em “
a cidade frita e outros poemas”, detém o poeta identidade criativa, da cidade e seu essencial urbano, o sensual de memória da pele e do desejo guardado para rupturas e interditos. “a cidade frita entre rios/asfalto brita calafrios/a idade grita entre pernas/sal limão sangue de menstruação

E
 enquanto forja a crônica da cidade “perdida”, também contém olhar de razão e sensibilidade apurada. 

É muito assim em [a noite prematura] para sensações e ardores subliminares, “ainda dentro da tarde/(quase) todos os lugares/ são assaltados por personagens noturnos//algumas outras coisas estão quietas/esperam um desejo um aceno/ um significado qualquer que pernoite sobre elas/a noite adensa provocações e convites:/quartos escuros corpos em silêncio xícaras vazias” (a noite prematura)

Os humores sensuais parecem estar por toda a parte a cidade grita entre pernas
assalto excita lanternas
” (a cidade grita entre pernas) e se confronta com “largue o [televisor]/o [monitor] deste !computador!//o céu pega fogo lá fora no quintal/- não quero queimar/me/sozinho” (-------- come on baby). 

Também enseja mesmo desejo, “(...) dentro de casa a vontade de sexo gravura no corpo/o combustível dispara/pássaro da íntima intentona/insurjo, relincho/não aceito//uma nuvem toma forma de um grande rinoceronte branco!//entre cômodos, assim/nasce um poema” (de como nasce um poema)

Às memórias em noitadas - das viragens noturnas nos bares - da vida desejada (...) noite aflora faunadentro/silêncio no afago de pernas/embaixo das mesas” (Ed. Silvestre Saraiva de Siqueira /Bar Canto Alegre), 

ou em delírio do incontinenti “sex apeal” trans(it)ando desejos, “1 caminho no escuro/todos os caminhos:/procuro//2 escuro por todos os lados/escolho o futuro/me largo//3 desenho teu nome no escuro/no claro te procuro procuro//4 deitado ao teu lado/abro os olhos na escuridão:/não sei se o que vejo/é o pretexto o desejo a vontade/necessidade/vazio: imensidão//5 a palavra LUZ/escrita no papel/no escuro//é ideia seduz/signo que conduz//é ideia seduz signos que conduz” (escrevo no escuro a1 cachorro enlouquecido)

Se o destino do homem está na palma da mão, já dizia a cartomante, então a melhor sorte escolhe por onde caminhar as vontades, os desejos, a sóbria vivência de estar vivo e pulsar calor assaz a frêmitas passagens, em tempo, “o corpo balança/o desejo acompanha/
quando/ te quiser/euéqdecido/sim/ou/não/o desejo na minha mão
” (hesito)

Em êxito provocador, sem hesitar, vive a observação da experiência ao sensual e ao sexo ardente do observado, “música abraços derrotas/homens bebem no centro da cidade!//naquelas mesas do Clube dos Diários/entre/velhos discos novos amores/está o centro daquelas vidas naquele momento//alta noite vai quente/o sexo de todos entre pernas,/também” (Clube do Vinil, 2010) e “(...) ardentíssimos calores, glóbulos/faróis vermelhos/buzinas elétricomamilos/hematomas fissura/carência//caos/caos Morada Nova “(caos Morada Nova domingo, 18h40min)

Das fantasias projetadas, o crime pela metade, “rabisquei teu nome à bic/no guardanapo duma lanchonete vazia//(parti pra casa com o coração nas mãos)/naquela noite/ - apesar dos rios de suor sobre a cama – vc não gemeu nem/um pin/go/& pela manhã/ ainda/sumiu com o resto do chá/que havia entre nós” (rabisquei teu nome à bic no guardanapo duma lanchonete vazia)

E, leminskianamente, ainda está na inteira intenção disposta, “aqui//neste sofá//alguém sentou/olhando o tempo//o tempo/não parou/pra ser olhado//foi ponteiro/pra tudo que é lado” (leminskiana)

Para solidões (in) desejadas também é reflexão na urbe que o poeta pariu, “tudo é desgosto desvio/tristeza arrepio/numa pracinha da desilusão” (tudo é desgosto desvio), ou “(...) andava eu por aí, carregado/da necessária tristeza/ziguezagueando fogo nas calçadas/cidade desmoronando terraços vizinhos (...)” (do dia que nunca vi Cecília)

Memórias do logradouros visitados em pública expiação, “- calçadas desnudas/esquinas insinuantes -/percorro traços saraivanos/descubro andrajos do tempo” (calçadas desnudas) e quando a tarde prometer mentiras, também estará lá o observador, “dois loiros garotos magros bronzeados bicicletas/uma avenida que promete água do mar no fim da ladeira/a areia branca entupindo esgotos/cheiro de sal, miragens ferventes no horizonte amarelo//seguindo reto o destino é o rio/mas este caminho os bronzeados garotos sem camisa/desconhecem” (a tarde promete mentiras)

Como poeta em vida de observação prevê o avenoitecido, “o silêncio repousa sobre objetos adormecidos/não se ouve passos pelo corredor/nem o frêmito de corações feridos//ancorado num canto da casa/um quarteirão de cachaça/aquece o resto de luz que há em meu corpo//tarde, muito tarde/ardo sem alarde” (avenoite ao poeta Luiz Valadares)

Anoitece poema, amanhece poesia em rodrigo m leite. Sua poética sensual guarda segredos de novo poeta, ardente, na urbana terra de seus re (versos).


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