segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Riso musicado

e a República dos apelos ao riso
por maneco nascimento


A última ação de espetáculos do FestLuso, no Theatro 4 de Setembro, dia 30 de agosto, às 20h30, trouxe ao palco a peça "A República dos Desvalidos", de José Afonso de Araújo Lima e direção e encenação, de Arimatan Martins. Montagem do Grupo de Teatro Pesquisa, de Teresina, Pi Brasil.

Da montagem (Grutepe); texto (Zé Afonso); direção (Arimatan Martins); cenografia (Emanuel Manu de Andrade); corpo (Fernando Freitas); voz (Gislene Danielle), figurinos (Bid Lima); adereços (Wilson Costa); iluminação (Assaí Campelo e Pablo Erickson) e elenco Vera Leite, Lari Sales, Fábio Costa, Marcel Julian, Eliomar Vaz, Bid Lima e Edith Rosa, cada um a sua excelência de função, ou práxis técnica, acomoda resultados eficazes e domínio de seu "mètier".

Agora tem um assunto da "A República dos Desvalidos" que merece um olhar + detido. A direção musical e músicas, criadas pelo artista Aurélio Melo, são uma pequena sinfonia pulverizada dentro do espetáculo e musicando diálogos, ou fazendo costuras entre uma ação dramática e outra.

As músicas e arranjos dão um refresco, de fruto nativo da terra, bem gelado e aliviando as narrativas ora melodramáticas, ora cômicas, ora trágicas, de deslizar a dramaturgia original de Zé Afonso. Um caleidoscópio de sugestões melódicas ilustram o espetáculo musicado e dão aos artistas de palco a oportunidade de abrir flanco para passear pelas incursões no canto.

Aurélio Melo foi muito feliz ao compor e arranjar músicas que passeiam pelo vaudeville, para não perder a linguagem do teatro de revista, samba, rock, ópera (em citação a Carlos Gomes, de O Guarani) e outras virtuoses particulares de compositor e arranjador que sabe por onde andam as métricas e cifras musicais humoradas e ou trágicas à necessidade da dramaturgia natural do autor.

Ao discurso popular, as deixas populares musicais; aos discurso trágicos os maneirismos de ascensão trágico musical e, ao melodrama, os melopeicos corridos da cifra composicional. Começa o espetáculo em grande estilo musicado, às vezes da linguagem de musicais de carreira e encerra apoteótico alegre e festivo brasis, como sugere a dramaturgia de felicidade, referenciada aos muitos Brasil excluídos, mas feliz, de que trata o drama em que está contido.

Aurélio que participa da cena, como ator maestro, rege e afina tons ao vivo e às cores da encenação conferida in loco, também conta com a participação de outros artistas músicos que, para a apresentação do dia 30, no FestLuso, compuseram instrumentos e melodias às mãos de Paulo Aquino, Gustavo Baião, Gilson Fernandes e Wilker Marques.

Fora dos limites da música espetacular de Melo, que vem com uma energia vibrante acompanhada das coreografias e desempenho dos intérpretes, há na peça a encenação, reinventada por Arimatan Martins, para o matricídio de Crispim, o pescador.

Na revisita da lenda do Cabeça de Cuia, o diretor intertextualiza discursos estéticos e transversaliza a morte da mãe do pescador, com a agonia de último suspiro do Cisne Negro.
(elencão cabeça ativa do Grutepe para A República dos Desvalidos/reprodução)

Vera Leite está numa performance elogiável e seu corpo fala e espasma sentimentos e maturidade em verter sangue, luz e sombras aproximadas à morte confirmada, no ato de tragédia pela mímesis do (ir)real aplicado ao fingimento cênico.

Parabéns ao Grutepe e ao corpus do corpo cênico de "A República dos Desvalidos" que, com muita dignidade e talento fecharam a programação do FEstLUso, no palco do Theatro 4 de Setembro.


Evoé, artistas da cena local! FestLuso, hurru!

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