domingo, 23 de agosto de 2015

Encontros (Im)Possíveis

na cena e para além dela
por maneco nascimento


Renato Prieto esteve em Teresina, para curta temporada do espetáculo "Encontros ImPossíveis", com texto de Rodrigo Fonseca e direção de Gustavo Gelmini. 

As apresentações aconteceram no Theatro 4 de Setembro, dias 20 e 21 de agosto, às 20 horas.

O artista travou uma conversa, algum tempo após a última apresentação do espetáculo, dia 21, com o coordenador do Complexo Cultural Club dos Diários/Theatro 4 de Setembro, João Vasconcelos. Testemunhei o encontro. 

Renato Prieto disse que vinha, com a peça, de São Luís do Maranhão, e passou por Teresina para completar roteiro. Na madrugada de 22 voltaria ao Rio pra cumprir novas agendas e espalhar a mensagem a que está imbuído, através do teatro.

Teresina não foi uma das melhores plateias. Acredita o artista que as pessoas disseminam a ideia de que as coisas estão ruins e isso vai tomando forma. Mas, na cidade ludovicense, o movimento pelos restaurantes em que fez as refeições, com sua equipe, as casas estavam sempre lotadas e a clientela consumindo a Carta de pratos, aos preços praticados naquela cidade.

Prieto disse já ter vindo a Teresina, em outras ocasiões. Desta vez o público foi menor. Mas em compensação gosta da cidade, da boa recepção e dos serviços recebidos. A excelente campanha da imprensa. 

As páginas inteiras nos jornais, dez chamadas numa emissora de tevê, entrevistas em rádio e televisão, o ao vivo do Theatro. Enfim, uma ótima campanha de cobertura jornalistica, mas o público não esteve muito presente ao "Encontros ImPossíveis".

"Encontros ImPossíveis" fez seu papel. Duas apresentações e quem compareceu teve uma ótima ideia de como se pode tratar de temas que envolvem espiritismo, desencarnação, diálogos e comunicações intervidas.

E, para a dramaturgia de cena do espetáculo, o uso de tecnologias, de cinema, para reproduzir as conversas mantidas entre o jornalista Adão, um aposentado que começa a ouvir vozes e ver espíritos de desencarnados, e os mortos, foi feito a bem da lição de ciência e tecnologismo.

A cenografia, uma ambientação de casa/sala/escritório do jornalista que detém um caderninho de notas, com nomes de entrevistados e ou possíveis pautas de entrevistas. Sobre sua cabeça, e ao fundo do palco, grandes telões, três dispostos à forma de triangulação. Dali surgem, em imagem e falas, tecnologicamente preparadas, as licenças comunicativas de diálogos entre os mortos e o vivo. 

Nessas anotações do caderninho, nomes que Adão gostaria de ter entrevistado e não teve chance. A oportunidade, de uma bate-bola, surge quando começam a surgir personalidades, em seu apartamento, e provocarem conversas com o aposentado.

(diálogos insistentes entre Freud e Adão/fotos Marcos Montelo)

Marilyn, Martin Luther King, Freud, Madre Teresa de Calcutá, o queridíssimo Chico Xavier, entre tantas outras sumidades desaparecidas, trocam figurinhas com o jornalista. Mas é com Freud que mantém o maior embate e é também este grande cientista e psicanalista que faz o aposentado ver que já morreu.

(interpsicanálise entre o Morto [Freud] e o vivo [Adão]/fotos Marcos Montelo)

Este o grande trunfo da peça, se descobrir que, na verdade o vivo não está + vivo, já morreu. Logo as comunicações ImPossíveis ocorrem, com essa certa naturalidade, entre mortos e não entre vivo e mortos.

O texto, Rodrigo Fonseca, é humorado e cria situações de naturais risos. Outros provocados pela licença do diretor e do ator Renato Prieto. Em Teresina, degustou a cajuína. Então frisar a bebida e trazê-la à cena e lembrar nomes de lugares peculiares, da cidade, também passearam pelo espetáculo, de abertura ao improviso.

A dramaturgia de cena, do diretor Gustavo Gelmini, fica na média da tradicional, mas de medida para passar a mensagem a que está envolta, nas comunicações e encontros com os do outro lado. A acuidade de tratamento de tecnologia, em uso de mídias apropriadas à dramaturgia, o melhor ganho no mapa geográfico da cena dramática.

A sincronia das falas dos mortos em diálogo com o vivo. Precisão e dublagem de apropriação tecnológica para criar os "Encontros ImPossíveis" geram alto nível de produção de espetáculo e transformam a peça em comunicação na comunicação.

E, na dialética de linguagens, aproxima as intercomunicações que se ilustram com som, imagem, mixagem, dublagem, efeitos de uso de imagem e apreensão de práxis midiáticas e tecnológicas para furtar as possibilidades de dar vida, ao já tido como morto, e empreender comunicações além da ideia da razão de senso comum.

Para demonstrar comunicações inter-espíritos, baseada em caso real, a dramaturgia cria o efeito tecnológico para reproduzir a intercomunicação e tangibiliza o mundo do imponderável, via instrumentos e suportes mass media. Sonorização de cinema e "cortes" de edição idem. Espetáculo de cinema para temática de espiritismo e comunicações intramundos. Boa medida.

Renato Prieto está muito à vontade, com a tranquilidade natural de tratar do assunto, sendo divertido e concentrado para a cena e para o ato de ator em sua marca de atuação.

(o aposentado vivo/morto, Adão-Prieto/fotos Marcos Montelo)

O Contraponto entre o já morto, e consciente, com o vivo, seu colega de profissão, se dá com a participação do ator Victor Meirelles. 

A personagem, do amigo de Adão, vem ao apartamento para matar saudades e reviver as memórias divididas com o colega. Chega na casa do morto e começa a ouvir sinais da tentativa de comunicação entre eles.

+ uma vez a dramaturgia se inspira na comunicação entre dois mundos e o espírito do jornalista consegue fazer-se entender e inspirar o vivo a encontrar o caderninho de notas. Será o novo jornalista, o possível realizador das pautas de entrevistas registradas no caderninho.

A peça foi muito bem recebida pelo público que veio prestigiar o espetáculo e levou consigo uma ótima impressão dos artistas na cena. E, também, após o final do espetáculo, quando dialogaram com a plateia.

Prieto deixou o depoimento de que na arte, também, é preciso entender que, a humildade e fuga de vaidades fazem parte da melhor compreensão do fazer artístico e do entendimento do papel que cada um tem, enquanto partícipe nesse mundo daqui, em que se está de passagem.

Fora de cena, convivendo com nosotros mortais, Renato Prieto é + nosso. Ator como a gente, que vivemos ralando por aqui, e com as mesmas ideias e ideais de ser e estar artista, enquanto forem possíveis os Encontros.

[Parabéns a Renato Prieto e Vinícius Meirelles que estiveram em Teresina, numa curta temporada de "Encontros (Im)Possíveis", dias 20 e 21 de agosto, no Theatro 4 de Setembro, às 20 horas.
Parabéns, especialmente, ao Prieto que há + de 25 anos dissemina a doutrina espírita, através da arte de encenar e, como ele mesmo disse, na noite de 21 de agosto, viver várias vidas nas vidas que compõe ao interpretar outrem no teatro, cinema, etc.
Em "Encontros (Im)Possíveis", o vivo que descobre que está morto ao manter contato direto, em diálogos, com personalidades mundiais, já desencarnadas. Entre elas Freud que, em "análise" forçada acaba aclareando o jornalista Adão para o entendimento da morte deste.
Texto humorado e que equilibra a compreensão do desencarne da vida para a melhor vida, no pós morte. Com "My Way" em diálogo de Sinatra com Adão, o espetáculo encerra.
A conversa do artista com a plateia, logo após o espetáculo foi muito prazerosa e + interativa, tanto quanto todo o espetáculo que já criava a quebra da quarta parede, mesmo no distanciamento da dramaturgia em dialogismo de centro.
Os encontros através das tecnologias apresentadas, em que pessoas desencarnadas conversavam com o jornalista, sob projeções, em um triângulo de telas de cinema, um efeito muito bom.
Renato Prieto, volte sempre! Para novos Encontros.] (página do Theatro 4 de Setembro, há 23 horas. publicação datada de 22.08.2015/cesso 23.08.2015 às 15h25)

"Encontros ImPossíveis", sempre possíveis diálogos e intercomunicações.

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