teatro moçambicano
por maneco nascimento
Em divertido e relaxado ato de contar, encenar a trama de "A nova aragem", o Grupo de Teatro Lareira, de Maputo, Moçambique realiza um teatro que alegra e faz rir, sem apelos fáceis de compor plateia do gargarejo.
("A nova aragem", de Maputo, Moçambique/foto Chão de Oliva/Lareira Artes)
Um casal de atores, seguros da lição de teatro e em técnica afinada de lançar as falas dramáticas com conhecimento e intenções de efeitos dramáticos e, sempre carregadas de um bom humor, quase característico da natureza dos intérpretes, caso não se tratasse de composição de dramaturgia às personagens.
Mas a boa performance de Diaz Santana e Sílvia Mendes engatam uma boa liberdade de encenar, numa linguagem clara, em que não se perde uma informação de texto político discursivo de terras e latifúndios em que, simplificados a um palco limpo e uma cenografia de identidade cultural rural, deixa-o + eficaz.
A cenografia e adereços, elementos de cotidiano doméstico, pilões que também fazem as vezes de banco e até da terceira personagem, com quem dialoga o casal; uma mão de pilão enorme, para os serviços de tratar alimentos; um quibane (peneira de trançado de palha) e um portal, passagem de fuga de cena, com cortina de tecido, para ilustração típica de iconografia característica de estamparias apropriada de cores e identidade cultural.
Os figurinos, realistas e comuns à cultura de vestir-se no cotidiano, estão a compor algo não precise merecer + atenção. A melhor atenção deve-se mesmo dedicar à performance dos artistas, que não fica a desejar. Estão sempre bem à vontade e, em concentrada linguagem de corpo e energia teatral risível ao tratado. Ou quando empertigados, sempre no acerto da cartografia da cena compreendida.
Têm, a cada parte, o intérprete Diaz Santana e a atriz Silvia Mendes, seus pequenos solos de boas inflexões de falas, intenções dosadas, humor equilibrado. E são de uma felicidade em cena a dar nas vistas.
E quando dançam a manifestada tradição, que envolve corpo e espírito fundidos no ritmo e mergulho no eixo primitivo da dança herdada pela cultura de festa e religião liberadas, então são maravilhosos. O corpo se integra em mensagens.
As cenas de intuições da mulher, ao recebe espíritos de ancestrais, dos antigos colonos das terras, são muito bem humoradas, mas centradas no equilíbrio de não apelar ao riso comum. Há um dosar de humor, mas em disciplina de manter o exercício da cena integrada à dramaturgia, de narrativa cartesiana que habita.
O casal espera gerar novos negócios com a descoberta de gás e petróleo nas terras de sua propriedade e acabam não conseguindo o intuito, mas contar essa história o fazem, com muito teto de compreensão do teatro que querem e sabem desempenhar e detêm um bom desempenho na cena dramatizada.
O texto, de Sergio Mabombo e a encenação, de João de Mello Alvim, afluem à adaptação e dramaturgia de Manuel Sanches e de João Mello e trazem para a cena um exercício prático, de teatro pobre, no sentido de não ter gorduras na cenografia (João de Mello Alvim) e figurinos (das Cias. Chão de Oliva e Lareira Artes). O teatro está no ator e atriz e, estes, se garantem, seguram a dramaturgia com qualidade alegre.
Maputo, Moçambique está no mapa do teatro, porque sabe do que fala e como encaminhar a comunicação para lúdico, mímesis da vida real licenciada à arte, persuasão em convencer e arte do fingimento.
"A nova aragem" gerou frutos e podem ser degustados pelo elenco e equipe técnica, como também pela recepção.
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