segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ruídos de Feira


 Ruídos da Feira
por maneco nascimento

O SESC – PI trouxe ao Teatro Municipal João Paulo II, através do Projeto SESC Amazônia das Artes, nessa tarde do dia 06 de agosto de 2012, a partir das 15h30m, o iconográfico “Mercado Central”, criação da coreógrafa Luzia Amélia, interagida através da Cia. de Dança Luzia Amélia/Balé de Teresina.

A peça, do repertório de dança da Cia., um mergulho nos sons, imagens, falas, ruídos intrínsecos da comunicação das feiras e sentimentos pregoeiros do + feirante ao + estético olhar de quem vivencia os mundos dos mercados livres. “Mercado Central” uma pedra de toque prospectada na cultura popular da feira que encontra arte e estética equilibradas na dramaturgia premeditada de Luzia Amélia.

Há um viço de ternura e um vigor do matiz das lingüísticas naturais, quer para o expressionismo dos corpos e das cores alegres em burburinhos emblemáticos das bancas, barracas e feirantes reinventados, quer na dramaturgia de apropriação dos elementos nativos e comuns de qualquer ajuntamento social e pertencimentos de mercadorias e sobrevivências.

Os figurinos, uma acuidade que se vai percebendo a cada mudança de cena, ou reestruturação dramatúrgica para mesmo tema variado. Os adereços vão ganhando forma mimética e emblemática a quase parecer despercebidos, como as “sacolinhas de tarrafas” transformadas em toucas, ou máscaras que mostram e escondem as identidades feirantes, ao mesmo tempo em que emblematizam signos contumazes das frutarias. Envolucram peças, rostos distorcidos e, ou talvez, apresentados como mercado oferecido.

A luz qualifica o desenho dramatúrgico da feira em sua gradação de ambientes e horas de existência do mercado. As primeiras horas da manhã, o calor das trocas de mercadorias pelo dia que avança e o cair das horas em fim de feira estão bem representadas nos recortes da iluminação. Confirma a plástica da boa desenvoltura que se vem avolumando na graciosidade contada pelos corpos em juventude expressiva.

O corpo de atores/bailarinos um luxo de liberdade da nova dança sem cair na armadilha do lugar comum. Compreende o que está defendendo e, no front, aprimora todo o tônus rebuscado do impressionismo ao expressionismo carregado de alegria, alegorias e festejos, energia reiterada pela guerra do espaço conquistado através da dança. 

A pesquisa musical parece construída para não só confundir-se com toda a expressividade, mas para firmar-se, feito tatuagem, na memória da cultura das gentes alegres e na humanidade que desliza pelas feiras em seus ruídos, silêncios, exageros e cotidianos exemplados na vida nossa de cada dia. 

O dial que fragmenta o som do rádio, como que a espaçar os diálogos que se misturam e se confundem pelas ondas eletromagnéticas, quase uma analogia do entrecruzamento das línguas e linguagens pregoeiras dos mercados centrais de qualquer cidade.

O sol caleidoscópico das ombrelas coloridas, um requinte de ampliar os olhares do público enleivado com toda a sorte despendida em juventude transferida da cena criada à cena expiada. “Mercado Central” uma bela ilustração de feiras e feirantes, com seus coloridos dos mercados e seu diverso das falas que ampliam o leque da cultura popular trazida ao lúdico na mímesis da própria vida.

Luzia Amélia e seu “Mercado Central” desempenham um qualificado laboratório de obra aberta com sinais pertinazes da nova dança bem digerida. O SESC Amazônia das Artesacertou na escolha do espetáculo e o Teatro Municipal João Paulo II e seu público de platéia superlotada receberam com entusiasmo a boa investida.

Essa obra “Mercado Central” é peça que representa as artes cênicas, não desagrava qualquer iniciativa fora de resultado tão redondo, nem perde os quadrados que complementam as geometrias das formas, corpos e dança apresentada.

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