Armadilhas da Solidão
por maneco nascimento
O espetáculo “Pois é, Vizinha...” fechou sua participação, em Teresina, na Mostra Companhia de Solos & Bem Acompanhados, com Deborah Finocchiaro, no última sexta feira, 10. A peça, que está em movimento de circulação pelo Brasil, realiza o seu direito ao Prêmio FUNARTE “Myriam Muniz” 2011, de concorrência pública no MINC.
Com texto de Dario Fo e Franca Rame, tradução do original “Uma Donna Sola”, assinada por Roberto Vignati, a montagem tem a Direção, Adaptação e Atuação da energética Deborah Finocchiaro que, + uma vez, consegue vencer a cena e dar-se como própria para exercícios e novas tiradas ao velho exercício do fingimento.
O espetáculo “Pois é, vizinha...” foi visto dia 10 de agosto de 2012, às 18 horas, no palco do Teatro Municipal João Paulo II. O público não arredou um instante do denso e divertido enredo de uma mulher trancafiada em casa pelo marido e que vai, ao longo da tragicomédia, dividindo suas neuras, fantasias, desejos (in) contidos e fugas do lugar comum em que é enleada pela violência doméstica, sexual e da solidão.
A Cenografia, de Rafael Silva, um bibelô de representação popular para labirintos de solidão da dona de casa, língua solta e exasperada em dividir sua sina com alguém. Estandes sanfonados direcionam o espaço cênico em ambientações domésticas, quarto, sala, cozinha, sala de estar e porta de entrada, na aproximação de rumo estético do casulo da solitária.
O “papel de parede” da casa, em tecido de chita do diverso colorido, como a apresentar um colorido de colcha de retalhos, mas finalizado em composição que bem ilustra um talvez viés de alegria histérica que perpassa pela alma da personagem.
Os elementos adicionais (contrarregra) da casa estão na formalização estética da cenografia, um rádio cd play, tapete colorido de centro de sala, um carrinho de bebê e seu respectivo dono que surge n’algum momento, telefone do Mickey, entre outros adereços kitchs e comuns enredados.
A Iluminação, de Fabrício Simões e Leandro Ross Pires, encontra inspirada operação em Leandro R. Pires e está na conveniência equilibrada dos recortes planejados que se mimetizam com o colorido da cenografia. O Figurino, de Cléria Finocchiaro, também confere resultados de propósitos de apresentação da personagem.
Deborah Finocchiaro não só demonstra ser uma excelente atriz, como também despende pique para não deixar dúvida de que reconhece a terra em que está pisando. Quem viu sua atuação no espetáculo, também apresentado em Teresina, “Sobre Anjos e Grilos – O Universo de Mario Quitana”, saberá do que se está falando. Em “Pois é, vizinha...”, um viés completamente distinto do mundo marioquintaniano.
Nessa divertida comédia para fundo crítico exasperada, Deborah Finocchiaro consegue metralhar informações com uma dinâmica concentrada em que não se perde qualquer fio da informação. Direta, humorada, sinuosa quando necessário, lacônica por exigência da dramaturgia, a personagem encontra na atriz, e vice versa, uma afinidade teatral muito precisa.
O enredo ganha força e vão surgindo as armadilhas da solidão que se fragmentam em um cunhado semiparalítico que a bolina, um marido que a espanca e a mantém presa em casa, um jovem, professor de inglês, revelado seu amante para prazeres fortuitos e culpas disfarçadas, uma vizinha “fictícia” com quem divide suas agruras, um vizinho “voyeur”, sempre ameaçado com uma arma de fogo e + um universo de tagarelice com pressa de ganhar ouvidos.
Tratado de forma histriônica, com suas inflexões a dramas do cotidiano doméstico, maculado pelas dores silenciadas na violência praticada, “Pois é, vizinha...” atrai a atenção, mesmo que pelo riso, a uma discussão sobre violência contra a mulher. A atriz se despoja a trazer essa chaga social de forma empertigada e crítica em filtro tragicômico. Seu recado fixa ao riso e à reflexão.
O ator convidado, Tito Grando, que incrementa o marido, o cunhado, o cobrador e o amante da solitária, está muito à vontade e declina sua atuação sem que se confunda as personagens da sua pauta de contracena.
A dramaturgia orienta a uma válvula de escape violenta para contrapor a própria violência que, quase incontrolável, domina o destino da mulher prisioneira de sua forçosa escolha. Deborah e sua personagem encantam, chocam, comovem e deixam um exemplo de teatro para rir e pensar.
Na licença poética tragicômica, a personagem livra-se de todos os seus “fantasmas” e encerra-se para um último texto: Pois é, vizinha...
Pois é, fui ver. Do lado de lá do Brasil tem um teatro que viceja trocar figurinhas com o lado de cá curioso. A Cia. de Solos & Bem Acompanhados, com Deborah Finocchiaro, cumpre seu papel no roteiro e pauta do teatro brasileiro. Sabe das coisas de Baco e Téspis.
por maneco nascimento
O espetáculo “Pois é, Vizinha...” fechou sua participação, em Teresina, na Mostra Companhia de Solos & Bem Acompanhados, com Deborah Finocchiaro, no última sexta feira, 10. A peça, que está em movimento de circulação pelo Brasil, realiza o seu direito ao Prêmio FUNARTE “Myriam Muniz” 2011, de concorrência pública no MINC.
Com texto de Dario Fo e Franca Rame, tradução do original “Uma Donna Sola”, assinada por Roberto Vignati, a montagem tem a Direção, Adaptação e Atuação da energética Deborah Finocchiaro que, + uma vez, consegue vencer a cena e dar-se como própria para exercícios e novas tiradas ao velho exercício do fingimento.
O espetáculo “Pois é, vizinha...” foi visto dia 10 de agosto de 2012, às 18 horas, no palco do Teatro Municipal João Paulo II. O público não arredou um instante do denso e divertido enredo de uma mulher trancafiada em casa pelo marido e que vai, ao longo da tragicomédia, dividindo suas neuras, fantasias, desejos (in) contidos e fugas do lugar comum em que é enleada pela violência doméstica, sexual e da solidão.
A Cenografia, de Rafael Silva, um bibelô de representação popular para labirintos de solidão da dona de casa, língua solta e exasperada em dividir sua sina com alguém. Estandes sanfonados direcionam o espaço cênico em ambientações domésticas, quarto, sala, cozinha, sala de estar e porta de entrada, na aproximação de rumo estético do casulo da solitária.
O “papel de parede” da casa, em tecido de chita do diverso colorido, como a apresentar um colorido de colcha de retalhos, mas finalizado em composição que bem ilustra um talvez viés de alegria histérica que perpassa pela alma da personagem.
Os elementos adicionais (contrarregra) da casa estão na formalização estética da cenografia, um rádio cd play, tapete colorido de centro de sala, um carrinho de bebê e seu respectivo dono que surge n’algum momento, telefone do Mickey, entre outros adereços kitchs e comuns enredados.
A Iluminação, de Fabrício Simões e Leandro Ross Pires, encontra inspirada operação em Leandro R. Pires e está na conveniência equilibrada dos recortes planejados que se mimetizam com o colorido da cenografia. O Figurino, de Cléria Finocchiaro, também confere resultados de propósitos de apresentação da personagem.
Deborah Finocchiaro não só demonstra ser uma excelente atriz, como também despende pique para não deixar dúvida de que reconhece a terra em que está pisando. Quem viu sua atuação no espetáculo, também apresentado em Teresina, “Sobre Anjos e Grilos – O Universo de Mario Quitana”, saberá do que se está falando. Em “Pois é, vizinha...”, um viés completamente distinto do mundo marioquintaniano.
Nessa divertida comédia para fundo crítico exasperada, Deborah Finocchiaro consegue metralhar informações com uma dinâmica concentrada em que não se perde qualquer fio da informação. Direta, humorada, sinuosa quando necessário, lacônica por exigência da dramaturgia, a personagem encontra na atriz, e vice versa, uma afinidade teatral muito precisa.
O enredo ganha força e vão surgindo as armadilhas da solidão que se fragmentam em um cunhado semiparalítico que a bolina, um marido que a espanca e a mantém presa em casa, um jovem, professor de inglês, revelado seu amante para prazeres fortuitos e culpas disfarçadas, uma vizinha “fictícia” com quem divide suas agruras, um vizinho “voyeur”, sempre ameaçado com uma arma de fogo e + um universo de tagarelice com pressa de ganhar ouvidos.
Tratado de forma histriônica, com suas inflexões a dramas do cotidiano doméstico, maculado pelas dores silenciadas na violência praticada, “Pois é, vizinha...” atrai a atenção, mesmo que pelo riso, a uma discussão sobre violência contra a mulher. A atriz se despoja a trazer essa chaga social de forma empertigada e crítica em filtro tragicômico. Seu recado fixa ao riso e à reflexão.
O ator convidado, Tito Grando, que incrementa o marido, o cunhado, o cobrador e o amante da solitária, está muito à vontade e declina sua atuação sem que se confunda as personagens da sua pauta de contracena.
A dramaturgia orienta a uma válvula de escape violenta para contrapor a própria violência que, quase incontrolável, domina o destino da mulher prisioneira de sua forçosa escolha. Deborah e sua personagem encantam, chocam, comovem e deixam um exemplo de teatro para rir e pensar.
Na licença poética tragicômica, a personagem livra-se de todos os seus “fantasmas” e encerra-se para um último texto: Pois é, vizinha...
Pois é, fui ver. Do lado de lá do Brasil tem um teatro que viceja trocar figurinhas com o lado de cá curioso. A Cia. de Solos & Bem Acompanhados, com Deborah Finocchiaro, cumpre seu papel no roteiro e pauta do teatro brasileiro. Sabe das coisas de Baco e Téspis.
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