domingo, 12 de agosto de 2012

Mímesis da mímesis

Mímesis da mímesis
por maneco nascimento

A Cia. Dançurbana, do Mato Grosso, demonstrou dia 11 de agosto de 2012, às 17 horas, no palco do Teatro Municipal João Paulo II, sua leitura acerca das danças urbanas que se exprimem a partir de movimentos “street dance”, “break dance” e similares que invadiram os centros gravitacionais das juventudes que esse ritmo encanta.

O espetáculo de dança ‘Plagium?’ pela Cia. Dançurbana pretende questionar a autoria em dança e quais ferramentas usadas para que a criação seja considerada autêntica – Original ou cópia? Como descobrir se o que vejo é cópia? E o que eu penso é original? Tudo que criamos é original? Tudo que pensamos é único? Ainda é possível fazer algo original? Mas o que eu sinto é diferente do que você sente? (...)” (release da Cia.)

Esses questionamentos da Companhia de dança matogrossense aparecem na linguagem de corpos, impressa ao “Plagium?”, que veio a Teresina através do Projeto Amazônia das Artes. Com Direção Geral e Núcleo de Pesquisa a cargo de Marcos Mattos e Preparação Corporal de Reginaldo Borges, o espetáculo tem verve experimentada em olhar já visto que reencena o carbono 14 para linguagem primitiva de domínio público.

Os intérpretes-criadores, Adailson Dagher, Ariane Nogueira, Maura Menezes, Reginaldo Borges, Roger Pacheco, Roger Castro, Rosely Martinez, Thiago Mendes, Tamires Leona, Irineu Ruach, Ralfer Campagna e Lívia Lopes distendem ritmo e energia focados na linguagem universal de corpos falantes, para variações de contextos, sentimentos, cultura mass media e mercados artísticos de apropriação débita.

Seguem uma dramaturgia que ora parece rever velhas tribos, outras vezes repercute novas danças e urbanismos contemporâneos. Detêm beleza plástica e controle sobre as coreografias (re) pensadas e, quase sem que se perceba, apresentam novidades reflexionadas sobre o óbvio da dança utilitária e de varejo.

Compõem-se em variações sobre o mesmo tema, com graciosidade e tônus aparentemente fugaz, mas há uma lingüística sendo construída no velho sinal de fumaça. Como parece ser uma leitura de propósitos, deslizam pela diferença e afinam o desenho coreográfico da direção sem intuir verdades, só experimentar a dança. Concorrem ao risco de impactar pelo conjunto da obra e recortar a mímesis da mímesis como ato de cena criador.

Sem parecer sair do lugar comum “Plagium?” compete na discussão sobre a ação criadora e deixa à recepção, sempre aberta, que decida qual valoração poderá imprimir. Antes de ser uma cópia, papel carbono, + aproxima-se de imagem em “scanner” sem recorrência de “fotoshop” que ilustre falso brilhante.

Parece ser, com qualquer certeza, metalinguismo porque recorrência da práxis (re)criadora. E se Lavoisier já questionava que “na natureza, nada se cria, tudo se transforma”, a Cia. Dançurbana inquieta desejos de transformar o pensamento em corpo coletivo e corpos em sincronias, não engessadas, à base de pensamentos livres.

“Plagium?” tem sua própria facilitação ao deus EX-machine e purga, sem nenhuma catarse, a mímesis da criação da mímesis. Vigora arte, cultura de novos olhares a velhas fórmulas e, sem qualquer pretensão aparente, é pretensiosa por manter a identidade à arte e culturas questionadas.


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