O Silêncio de Bom Jesus
por maneco nascimento
No último dia 6 de abril de 2012,
período litúrgico da semana santa, um grupo de atores de Teresina deslocou-se à
cidade de Bom Jesus do Gurgueia. Naquela cidade, há pelo menos sete anos, o
diretor Franklin Pires desenvolve uma encenação da Paixão de Cristo.
A empresa que contrata o diretor,
roteirista e dramaturgo (F. Pires) e também o elenco que vai da cidade de
Teresina é a Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus. A “Paixão...” uma
festa planejada à cidade daquele lado sul do estado e que ganhou maior
visibilidade quando os padrinhos do evento resolveram contratar celebridades.
(Lúcifer, de F. Pires na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012/foto: portal 180 graus)
Das estrelas mass media, desse
lado de baixo do equador, que passaram pelo palco da Serra de Bom Jesus, cada
uma teve uma hora de brilho e ovação popular:
“Pela encenação de Bom Jesus já passaram
Thiago
Mendonça, um de “Os Filhos de Francisco”, não o Santo, mas o pai dos
sertanejos, que tinha um Herodes qualificado; Alexandre
Barilari, um Judas chorão e Fernando
Pavão, um “Cristo” + preocupado com a aparência e o penteado da peruca da
personagem. Guilherme
Trajano chegou, viu e venceu. E compunha o judeu, não o romano. Muito branco
e com a novidade de interpretar em terreno acidentado, herdou escoriações e
feridas reais à pele para viver o seu Cristo, sem maquiagens dos estúdios de
tevê. Depois pousou para fotos e autógrafos também (“Paixão 2º.
o Outro”/www.vooz.com.br/blog do maneco/09.04.2012 às 15h52)
(J. Cristo, de Guilherme Trajano na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012/foto: potal 180graus)
A “Paixão de Cristo em Bom Jesus”
virou um bom negócio de aceitação popular, de visitas à cidade por moradores de
outros municípios e regiões do entorno, de geração de olhar e curiosidade de
quem ainda se compunha como São Tomé. E não deixa de ser uma vitrine para o promotor
do evento, o ator deputado estadual do PT, Fábio Novo.
Os custos da empreitada são
bancados pela Caixa Econômica Federal. Os atores locais chegam, realizam
maratonas de ensaios para dar margem de acerto, no projeto “tupiniquim”, aos
atores vindos do eixo-sul, com suas agendas espremidas e suas estratégias de
atuação pasteurizadas para estúdio de televisão.
Os esforços são compensatórios.
Ao final de dois dias de ensaios corridos, com pelo menos três encontros por
dia para afinar as idéias da dramaturgia e afinizá-las ao espaço físico acidentado,
mas charmoso. Numa mesa de pedra, no sopé da montanha, a resposta vem como
orgulho do realizado e, naturalmente, profissionalismo do elenco que contracena
com a celebridade.
Há cada ano, parece que a “Paixão
de Cristo em Bom Jesus” fica + esperta. Ganha, com a maturidade da continuidade,
seu brilho natural. A montagem, deste ano de 2012, deu-se para a sexta feira,
santa, dia 06 de abril. Um público extraordinário e os cortejos, no início da
tarde, rumo à serra, é de imagem emblemática. As gentes simples indo ao
calvário re(vi)ver a Paixão. Uma epifania no contemporâneo daquelas gentes.
Tudo parece que acaba no sucesso
da apresentação. Mas ai tem uma falha trágica da produção do espetáculo: o
pagamento dos artistas locais. Seguramente a celebridade, do eixo nacional, não
fica esperando por até 46 dias (data de hoje, 22 de maio de 2012) para receber
seu “pro-labore” pela atuação.
Fica aos artistas de Teresina a
herança de concorrer às falsas expectativas de receber o retorno financeiro de
seu trabalho. Há, pelo menos, + de vinte dias que as evasivas ganham as +
criativas justificativas.
Primeiro havia que reunir as
notas de ISS de todo o grupo, depois o produtor executivo, Carlos Anchieta,
tinha que voltar de Brasília para liberar o dinheiro, já depositado na conta da
Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus. Essa conversa fiada, que empurra solução a cada
sexta feira de cada semana e o tempo desde a apresentação concluída, jaz 46
dias de espera.
Hoje, + uma vez recorri à equipe
de produção, em Teresina, para obter algum sinal real sobre o pagamento. E, +
uma vez, a justificativa é que o produtor C. Anchieta estará chegando na
cidade, na quinta feira, 24 de maio de 2012, para executar o pagamento na sexta
feira, dia 25/05/2012. Esta será a
terceira sexta feira gerada como expectativa ao pagamento dos atores e técnicos
envolvidos na “Paixão de Cristo em Bom Jesus”.
O que falta aos promotores e
executores do evento, com recurso de estatal que não falha, para pagar os
artistas locais? A CEF terá dado um calote na Associação? Muito difícil, ela
trabalha com rubrica específica para projetos culturais. Então onde está o
dinheiro que, segundo os promotores do evento, já depositado na conta da
Associação dos Filhos e Amigos de Bom Jesus?
(Pedro, de Marcel Julian em contracena com Bruno Lima e Fernando Goldan, na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012, foto: divulgação)
(Pedro, de Marcel Julian em contracena com Bruno Lima e Fernando Goldan, na "Paixão de Cristo em Bom Jesus", 2012, foto: divulgação)
Por que é tão difícil a
promotores culturais, que lidam com recurso público e contratam artistas,
cumprirem, eficientemente, sua parte em contrapartida ao trabalho já despendido
pelo profissional da área da cultura?
Bom Jesus está silencioso, porque
não fala mesmo, especialmente nessas circunstâncias que envolvem dinheiro. Mas
a Associação dos Filhos e Amigos tem voz e arbítrio para sanar a dívida com o
elenco contratado para os primeiros dias da semana de abril.
Com a palavra o Presidente desta
Associação que representa Bom Jesus e que, também, deve ter filhos e amigos que
precise honrar. Fala que a gente escuta e só não compreende o que não houver
razão justificável.
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