terça-feira, 15 de maio de 2012

Filtro triplo


Filtro triplo
por maneco nascimento

Sócrates, o grande filósofo, mantém em seu histórico à herança de nosso tempo o fato de ter sido, não só sábio o bastante, mas respeitado por todos. E é dele a “lenda urbana” do Filtro Triplo. Esse grego teria sido abordado por um seu conhecido. O homem queria falar algo que ouvira sobre um amigo do sábio. Refreando o novidadeiro, o filósofo pediu que, antes de dar a notícia, o conhecido fizesse um exame que chamou de filtro triplo.

Consistiria o exame em que, antes de dar a notícia, o homem a filtrasse três vezes e explicou a didática da idéia de decantação do “ouvi dizer”.

“‘O primeiro filtro é a verdade. Estás bem seguro de que aquilo que me vais dizer é verdade?
- Não - disse o homem. Realmente só ouvi falar sobre isso e ...
- Bem! - disse Sócrates. Então, na realidade, não sabes se é verdadeiro ou falso.
Agora, deixa-me aplicar o segundo filtro, o filtro da bondade. O que me vais dizer sobre o meu amigo, é uma coisa boa?
- Não. Pelo contrário...
- Então, queres dizer-me uma coisa má e que não estás seguro que seja verdadeira. Mas posso ainda ouvir-te, porque falta um filtro, o da utilidade. Vai servir-me para alguma coisa saber aquilo que me vais dizer sobre o meu amigo?
- Não. De verdade, não...
- Bem - concluiu Sócrates. Se o que me queres dizer pode nem sequer ser verdadeiro, nem bom e nem me é útil, para que é que o queria saber?
’”

Como se vê, o sábio grego não parece ter entrado para a história da humanidade por reunir princípios e atitudes de conquistas de territórios e riquezas materiais. Bom ouvinte ao inteligível, bom conselheiro em provocação das idéias construtivistas do novo pensamento e facilitador do raciocínio lógico e pragmático.

Descarte da não verdade, não bondade e do inútil, exemplo do filtro de fluxos de informações e ações de humanidade e racional equilibrados. De sorte, quem sabe, até para descartes do desnecessário e dos arroubos cartesianos, que tenham sido cunhados à posteriori de seu tempo de Grécia clássica.

Em Brasil de tantas mentiras e verdades controvertidas, de disse-me-disses para desviar focos das investigações em dias de queda d’água turva, o brasileiro parece perder  o senso de filtro. Mesmo quando tudo parece estar provado como verdade, os discursos de defesa contradizem e transformam em dúvida.

E há, ainda, um dos filtros sociais, o da imprensa, que alguns evoluídos de colarinhos e chapas brancos, com rabos presos, tentam desacreditar.

Em nação de “firulas jurídicas” como estratégias de retardamento de decisões das Cortes, uma está em andamento. Caso o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeite o pedido da defesa de Carlos Cachoeira para adiamento de depoimento na CPI que apura as relações do bicheiro com políticos, ele poderá se negar a responder perguntas da comissão parlamentar de inquérito. É o que informa o advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos. (g1.globo.com/politica/noticia/ Iara Lemos e Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília/12/05/2012 07h39 - Atualizado em 12/05/2012 07h39 )

O depoimento está marcado para esta terça (15), “(...) e, segundo Bastos, o contraventor ‘tem o direito de não falar, para não produzir provas contra si’(...) Márcio Thomaz Bastos argumenta que não teve acesso ao inteiro teor do inquérito. ‘Eu não tive acesso ao inquérito. Então, vou conversar com ele para ver o que ele pode ou não pode dizer, se é melhor ficar calado’, afirmou.” (Idem)

As notícias do escândalo do mensalão, exaustivamente mantidas na mídia, deram real sabor à nação de que esta precisaria estar direcionada ao filtro da verdade, filtro do que seria bom ao Brasil e filtro da utilidade pública.

O mensalão é, sem dúvida, o maior escândalo da história republicana brasileira. Significou a compra de apoio parlamentar para o primeiro governo Lula e, junto com ela, a distribuição de dinheiro sujo para membros do partido do então Presidente. O Ministério Público Federal realizou trabalho consciente e eficaz. Concluiu por denunciar 40 nomes à Suprema Corte. O Procurador-Geral daquele momento, Antônio Fernando, conferiu a tal agrupamento a denominação de ‘quadrilha’ e indicou como seu chefe o ex-Ministro José Dirceu.” (www1.folha.uol.com.br/poder/Gabriela Guerreiro, de Brasília/4/05/2012 - 18h20 )

Das novidades necessárias que a imprensa, em seu papel natural, mantém-se no dever de informar, nada pode parecer fora do interesse público. Sem a notícia o país ficaria afogado na empresa dos jogos e negócios escusos à política da hora. O Supremo terá que se pronunciar acerca do mensalão.

Contratados a peso de ouro, os advogados dos réus lançaram mão de todos os recursos possíveis e imagináveis para retardar a decisão. Pensavam, claramente, em levar à prescrição o máximo de crimes cometidos pelos mensaleiros. Supunham poder contar com uma lentidão que o STF lhes negará.”
(www1.folha.uol.com.br/poder/Gabriela Guerreiro, de Brasília/4/05/2012 - 18h20)

A Verdade, o que é Bom para o Brasil e de Utilidade Pública, o momento de confronto político e jurídico tem que deixar ao país alguma esperança de dias melhores.

Para Pedro Taques, a Constituição assegura o direito a Cachoeira para manter-se calado. ‘A Constituição garante a qualquer cidadão em qualquer lugar que vá depor que ele não está obrigado a falar, mesmo se tratando do Carlinhos Cachoeira. Mas a fala é irrelevante para se revelar algo novo, temos provas documentais’"
(g1.globo.com/politica/noticia/ Iara Lemos e Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília/12/05/2012 07h39 - Atualizado em 12/05/2012 07h39)

São dias de provas e de poder a quem determinará o melhor para esse país de Macunaíma. Seremos um país protecionista de acordos, coligações a camaradas, companheiros, empreiteiros e laranjas modernos?

Ou de uma nova ordem a ser experimentada. O filtro da tríplice aliança feito à ética, à lei e à ordem que nos responda.

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