Nau capitã dos folguedos
por maneco nascimento
Junho sem ser novidade para
ninguém, é mês em que pipocam fogos, fogueiras e artifícios, até de plástico,
para rememorar os festejos da cultura popular rural e reorientações dos salões urbanos
de origem portuguesa, estes que desembarcaram às novas origens em terras gentis
e, naturalmente, foram absorvidos a partir das miscigenações e antropologias
permutadas.
Colônia de natureza receptora da
metrópole portuguesa, o país também recepcionou a orientação católica, de além
mar e, nas origens cristãs, festejou ali e alhures os santos da ocasião, Santo
Antonio, o casamenteiro, 13; São João, o do ícone memorial das fogueiras, 24 e
São Pedro, padroeiro dos pescadores, das procissões fluviais e marítimas, 29.
Brasil que não nega as próprias origens, reinventadas e festeiras, não teria
como passar impune nesse período junino.
Sejam das lendas dos bois e
brincantes (caboclos de pena e vaqueiros, catirinas e negos chicos)
transversalizados com os festejos lusitanos e místicos afrodescendentes, a
história e memória revivificadas ao redor das fogueiras, ou luz de lamparina, o
caldeirão da cultura popular perpetuou a reprodução às novas gerações do pleito
da arte e cultura das gentes sertanejas e seus mitos e lendas, representados
através de uma das manifestações + antigas da humanidade, a dança.
Tal como uma epifania de dança e corpos coletivizados a mímesis original, os festejos juninos ganham forma e efeitos brasis, território afora, e cada sítio nacional delega sua própria forma e fórmula de se divertir e comemorar os idos e vindos juninos. O nordeste tem festa que comeu pelas beiradas e hoje é centro de turismo, lazer, confraternização e encontro de culturas adversas.
As festas de Caruaru, no
Pernambuco, e as da Paraíba (João Pessoa e Campina Grande) são só dois exemplos
desse grande território de pipocas, quentão, milho e derivados, aluá, o diverso
da culinária criativa e degustada, prendas, superstições e crenças fiéis ao
festejado mês.
No Piauí, berço da lenda do bumba-meu-boi
e suas heranças de currais de criação de gado, as festas juninas, na interface
cultural do rural e urbano, catapultaram feitos e festas, interior adentro, e,
na capital Teresina, de primeiro a 30 do mês, ninguém deixa de percorrer um
“arraiá” e interagir as velhas festas reproduzidas. Nos bairros, vilas e outros
campos de animação, a agenda dos santos e festejos de terreiro não negam a
própria origem de composição de antropologias em adverso cultural.
As televisões locais também dão sua contribuição ao mês. Cada uma empenha seu pulo do gato e os anunciantes bancam a conta. Uma das repetidoras de tevê, que leva o nome de fantasia de Teresina, atribuição original a Coelho Neto, realiza seu “panis et circensis” no São João das Cidades, reúne municípios do estado em concurso de quadrilha a palco de confronto e, em outros espaços, o + do diverso das manifestações culturais local também se manifesta.
Três dias de “folia”, nesse 2013.
As noites de 13, 14 e 15 de junho, sempre foram finalizadas com grandes
estrelas da mídia e média comercial nacional. O anunciante empresário deveu seu
favor cultural, através da lei de incentivo cultural do estado, via mecenato do
SIEC. O dinheiro empresarial recebe renúncia fiscal, da fazenda pública, e
cumpre seu papel de solidariedade financeira festejada.
A emissora clube de repetição, da
Vênus platinada, mantém uma tradição de + de uma década de festejos e repete
seu Festival de Quadrilhas com muita eficiência. Neste ano se doou à cidade de
15 a 22 de junho, lá p’ras bandas de um grande shopping, no bairro dos Noivos.
E sua cidade junina recebe “flashes” da própria virtuose e consegue equilibrar
um concurso de quadrilhas juninas, com concorrentes do interior e capital. Há
um concurso saudável em hibridizado movimento reprodutor das festas originais
de salões “portugueses”.
Um formigueiro humano de
freqüência bate ponto entre barracas, feirinha, rica gastronomia e atende ao
chamamento da cidade que diverte, entretém e reproduz o show business da
cultura nordestina. Espetáculos de idas e vindas, artistas populares e
nacionais midiáticos também contribuem para o artífice dos festejos,
facilitados pelo anunciante da tevê e seus desdobramentos de marketing e
departamento comercial de mercadorias e negócios. Essa cidade junina não deve
nada ao próprio propósito. É festa, é junina e gera número ao clube da tevê.
A pasta da cultura municipal
parece ter encolhido nesse ano 13. Não se viu falar do Festival de Bois, uma
das boas e naturais idéias às tradições culturais populares da cidade, sediado
na zona norte de Teresina, nos campos do Poti Velho e bairros
circunvizinhos. A pasta até tentou
incrementar um corso junino e shows descentralizados, em bairros pontuais da
cidade, mas vingou novidade natimorta. Os grandes festivais de Bumba-meu-Boi
e o dialogismo de cultura popular ficarão para outro pleito, quem sabe + de
palanque, quando fevereiro chegar. A cultura municipal encolheu, ou o orçamento
o gato comeu?
Mas, antes que o mês acabasse,
ainda havia uma novidade que veio dar às raias da pasta estadual e sua Fundac.
Do laboratório da Feirinha na Praça (em memória de Luiza Sulica Vitória) aos
Folguedos da Prainha (bairro São Pedro, nome de santo junino) e Potycabana
(bairro dos noivos, rimando proximidade com santo casamenteiro), o Encontro de
Folguedos ganhou margem nacional e firmou-se como O Encontro Nacional de
Folguedos, em tradição junina festejada há mais de trinta anos.
As últimas edições, realizadas na
Vila Olímpica do Albertão, no bairro Redenção (apologia também à semântica de
salvação de qualquer espécie manifestada), esse grande festejo ganhou + palcos,
estacionamentos, área ampla de circulação e espaços para praça de alimentação,
parque de diversão, barracas típicas da culinária peculiar e trânsito livre
para receber toda a cidade curiosa e festeira que acolheu os festejos, no
Albertão, sem resistência de estarem centrados em bairro da periferia de
Teresina.
Deu certo. O panorama visto da
roda gigante é o melhor negócio cultural de cepa popular que a Fundac descobriu
para receber artistas da cidade, do interior e de outros rincões culturais
brasileiros. No Quadrilhódromo, as quadrilhas juninas disputam espaço entre
amadoras e iniciantes e, as + destacáveis, recebem passaporte para concorrer na
final do concurso. Evento de 22 a 29 de junho de 2013, recebeu um mar de gente,
num vai e vem de atenção às atrações convidadas.
Estados do norte e nordeste, especialmente, têm carteira carimbada em todos os anos e o Encontro Nacional de Folguedos repercute culturas diversas de mesmo fim e sai na frente em sua mímesis da antropologia da cultura de raiz. O 37º. Encontro Nacional de Folguedos – 2013, entre suas proposições, lançou neste ano homenagem ao cinema popular nordestino, reproduzindo filmes piauienses e do nordeste temático numa sala de cinema, pensada para o trânsito popular dos Folguedos.
No palco nacional, artistas
locais interagem com o manifestado nacional e trocam figurinhas de arte e
cultura mix do meio norte e nordestes representados. O estado também executou sua transmissão televisiva, através da TV Antares, num diário ao vivo, e
rádiodifundiu, ainda, por meio da Rádio Antares. A equipe de tevê e rádio cumpriu seu
jornalismo cultural e doou, aos que não puderam estar, de corpo presente, na
Vila Olímpica do Albertão, uma transmissão eficiente do Evento.
Nesse 37º. Encontro Nacional de
Folguedos – Cinema Popular Nordestino, o investimento do caixa público parece
fazer valer o risco. Embora as contas da
Fundac tenham sido bloqueadas por ordem judicial, em conta de parangolices do
governo central do estado e seus assessores diretos de realeza + real que o
alçado a monarca, o imposto do cidadão já existe e deve retornar em bem
público. Os Folguedos são bom exemplo de que investimento público pode ser real
e pagar as próprias contas criadas à cultura + próxima da identidade nossa.
No concurso de quadrilhas
juninas, deste ano, a premiação aos melhores seria de R$ 3.400,00 (1º.); R$
2.400,00 (2º.) e R$ 1.400,00 (3º.). Um mínimo de investimento em concorrência
artística, mas de direito do ganhador. Com as contas da instituição cultural
impedidas, espera-se que essa premiação não se torne uma novela mexicana, sem
sincronia dos diálogos dos dublês da pasta financeira.
Mas são as festas juninas o tema
dessa comunicação e, nesse 29 de junho, também se finalizaram os Festejos de
São Pedro, no bairro Poty Velho, origem da cidade verde. A procissão fluvial
(rios Poti e Parnaíba), missa campestre, festejos de barracas e comes e bebes
às margens da primeira igreja da capital (capela de Nossa Senhora do Amparo) deram
o mote de encontros familiares da comunidade festejada.
Os festejos juninos se quebram em
junho, por vezes avançam julho e agosto na representação epifânica da morte do
boi e as gentes ficam satisfeitas por suas memórias culturais revisitadas.
A nau capitã dos festejos
juninos, na cidade, o 37º. Encontro Nacional de Folguedos, gerou alegria,
diversão e purgação em festa aos dias de sagração e profandade culturais. Fez
bem seu exercício de Casa pública.
E, nesse agora, de acorda Brasil, espera-se que o país em ação política das ruas também influa nesse estado de descuido com a cidadania e recurso público, porque outros dias verão, os políticos locais e seus gabinetes azeitados de desvios de conduta, em que as manifestações exigirão + clareza dos negócios públicos. Quem viver, nesse ninho nepótico e despótico de política viciosa, verá com quantos paus se faz uma canoa, seja de povo gentio ou massas “gentis”.
O pão e o circo, embora
eufemicamente divididos, parecem pratas mofadas. A cidade das ruas manifestadas
urge aprender sobre a colheita do trigo de seu investimento.
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