domingo, 30 de junho de 2013

Nau capitã dos folguedos

Nau capitã dos folguedos
por maneco nascimento

Junho sem ser novidade para ninguém, é mês em que pipocam fogos, fogueiras e artifícios, até de plástico, para rememorar os festejos da cultura popular rural e reorientações dos salões urbanos de origem portuguesa, estes que desembarcaram às novas origens em terras gentis e, naturalmente, foram absorvidos a partir das miscigenações e antropologias permutadas.

Colônia de natureza receptora da metrópole portuguesa, o país também recepcionou a orientação católica, de além mar e, nas origens cristãs, festejou ali e alhures os santos da ocasião, Santo Antonio, o casamenteiro, 13; São João, o do ícone memorial das fogueiras, 24 e São Pedro, padroeiro dos pescadores, das procissões fluviais e marítimas, 29. Brasil que não nega as próprias origens, reinventadas e festeiras, não teria como passar impune nesse período junino.

Sejam das lendas dos bois e brincantes (caboclos de pena e vaqueiros, catirinas e negos chicos) transversalizados com os festejos lusitanos e místicos afrodescendentes, a história e memória revivificadas ao redor das fogueiras, ou luz de lamparina, o caldeirão da cultura popular perpetuou a reprodução às novas gerações do pleito da arte e cultura das gentes sertanejas e seus mitos e lendas, representados através de uma das manifestações + antigas da humanidade, a dança.
(Cabocla de pena/fotos: Brito Jr.)

Tal como uma epifania de dança e corpos coletivizados a mímesis original, os festejos juninos ganham forma e efeitos brasis, território afora, e cada sítio nacional delega sua própria forma e fórmula de se divertir e comemorar os idos e vindos juninos. O nordeste tem festa que comeu pelas beiradas e hoje é centro de turismo, lazer, confraternização e encontro de culturas adversas.

As festas de Caruaru, no Pernambuco, e as da Paraíba (João Pessoa e Campina Grande) são só dois exemplos desse grande território de pipocas, quentão, milho e derivados, aluá, o diverso da culinária criativa e degustada, prendas, superstições e crenças fiéis ao festejado mês.

No Piauí, berço da lenda do bumba-meu-boi e suas heranças de currais de criação de gado, as festas juninas, na interface cultural do rural e urbano, catapultaram feitos e festas, interior adentro, e, na capital Teresina, de primeiro a 30 do mês, ninguém deixa de percorrer um “arraiá” e interagir as velhas festas reproduzidas. Nos bairros, vilas e outros campos de animação, a agenda dos santos e festejos de terreiro não negam a própria origem de composição de antropologias em adverso cultural.
(Rainha Catirina/fotos: Brito Jr.)

As televisões locais também dão sua contribuição ao mês. Cada uma empenha seu pulo do gato e os anunciantes bancam a conta. Uma das repetidoras de tevê, que leva o nome de fantasia de Teresina, atribuição original a Coelho Neto, realiza seu “panis et circensis” no São João das Cidades, reúne municípios do estado em concurso de quadrilha a palco de confronto e, em outros espaços, o + do diverso das manifestações culturais local também se manifesta.

Três dias de “folia”, nesse 2013. As noites de 13, 14 e 15 de junho, sempre foram finalizadas com grandes estrelas da mídia e média comercial nacional. O anunciante empresário deveu seu favor cultural, através da lei de incentivo cultural do estado, via mecenato do SIEC. O dinheiro empresarial recebe renúncia fiscal, da fazenda pública, e cumpre seu papel de solidariedade financeira festejada.

A emissora clube de repetição, da Vênus platinada, mantém uma tradição de + de uma década de festejos e repete seu Festival de Quadrilhas com muita eficiência. Neste ano se doou à cidade de 15 a 22 de junho, lá p’ras bandas de um grande shopping, no bairro dos Noivos. E sua cidade junina recebe “flashes” da própria virtuose e consegue equilibrar um concurso de quadrilhas juninas, com concorrentes do interior e capital. Há um concurso saudável em hibridizado movimento reprodutor das festas originais de salões “portugueses”.

Um formigueiro humano de freqüência bate ponto entre barracas, feirinha, rica gastronomia e atende ao chamamento da cidade que diverte, entretém e reproduz o show business da cultura nordestina. Espetáculos de idas e vindas, artistas populares e nacionais midiáticos também contribuem para o artífice dos festejos, facilitados pelo anunciante da tevê e seus desdobramentos de marketing e departamento comercial de mercadorias e negócios. Essa cidade junina não deve nada ao próprio propósito. É festa, é junina e gera número ao clube da tevê.

A pasta da cultura municipal parece ter encolhido nesse ano 13. Não se viu falar do Festival de Bois, uma das boas e naturais idéias às tradições culturais populares da cidade, sediado na zona norte de Teresina, nos campos do Poti Velho e bairros circunvizinhos.  A pasta até tentou incrementar um corso junino e shows descentralizados, em bairros pontuais da cidade, mas vingou novidade natimorta. Os grandes festivais de Bumba-meu-Boi e o dialogismo de cultura popular ficarão para outro pleito, quem sabe + de palanque, quando fevereiro chegar. A cultura municipal encolheu, ou o orçamento o gato comeu?

Mas, antes que o mês acabasse, ainda havia uma novidade que veio dar às raias da pasta estadual e sua Fundac. Do laboratório da Feirinha na Praça (em memória de Luiza Sulica Vitória) aos Folguedos da Prainha (bairro São Pedro, nome de santo junino) e Potycabana (bairro dos noivos, rimando proximidade com santo casamenteiro), o Encontro de Folguedos ganhou margem nacional e firmou-se como O Encontro Nacional de Folguedos, em tradição junina festejada há mais de trinta anos.

As últimas edições, realizadas na Vila Olímpica do Albertão, no bairro Redenção (apologia também à semântica de salvação de qualquer espécie manifestada), esse grande festejo ganhou + palcos, estacionamentos, área ampla de circulação e espaços para praça de alimentação, parque de diversão, barracas típicas da culinária peculiar e trânsito livre para receber toda a cidade curiosa e festeira que acolheu os festejos, no Albertão, sem resistência de estarem centrados em bairro da periferia de Teresina.

Deu certo. O panorama visto da roda gigante é o melhor negócio cultural de cepa popular que a Fundac descobriu para receber artistas da cidade, do interior e de outros rincões culturais brasileiros. No Quadrilhódromo, as quadrilhas juninas disputam espaço entre amadoras e iniciantes e, as + destacáveis, recebem passaporte para concorrer na final do concurso. Evento de 22 a 29 de junho de 2013, recebeu um mar de gente, num vai e vem de atenção às atrações convidadas.
(Concurso de Quadrilhas Juninas/ fotos: Brito Jr.)

Estados do norte e nordeste, especialmente, têm carteira carimbada em todos os anos e o Encontro Nacional de Folguedos repercute culturas diversas de mesmo fim e sai na frente em sua mímesis da antropologia da cultura de raiz. O 37º. Encontro Nacional de Folguedos – 2013, entre suas proposições, lançou neste ano homenagem ao cinema popular nordestino, reproduzindo filmes piauienses e do nordeste temático numa sala de cinema, pensada para o trânsito popular dos Folguedos.

No palco nacional, artistas locais interagem com o manifestado nacional e trocam figurinhas de arte e cultura mix do meio norte e nordestes representados. O estado também executou sua transmissão televisiva, através da TV Antares, num diário ao vivo, e rádiodifundiu, ainda, por meio da Rádio Antares. A equipe de tevê e rádio cumpriu seu jornalismo cultural e doou, aos que não puderam estar, de corpo presente, na Vila Olímpica do Albertão, uma transmissão eficiente do Evento.

Nesse 37º. Encontro Nacional de Folguedos – Cinema Popular Nordestino, o investimento do caixa público parece fazer valer o risco.  Embora as contas da Fundac tenham sido bloqueadas por ordem judicial, em conta de parangolices do governo central do estado e seus assessores diretos de realeza + real que o alçado a monarca, o imposto do cidadão já existe e deve retornar em bem público. Os Folguedos são bom exemplo de que investimento público pode ser real e pagar as próprias contas criadas à cultura + próxima da identidade nossa.

No concurso de quadrilhas juninas, deste ano, a premiação aos melhores seria de R$ 3.400,00 (1º.); R$ 2.400,00 (2º.) e R$ 1.400,00 (3º.). Um mínimo de investimento em concorrência artística, mas de direito do ganhador. Com as contas da instituição cultural impedidas, espera-se que essa premiação não se torne uma novela mexicana, sem sincronia dos diálogos dos dublês da pasta financeira.

Mas são as festas juninas o tema dessa comunicação e, nesse 29 de junho, também se finalizaram os Festejos de São Pedro, no bairro Poty Velho, origem da cidade verde. A procissão fluvial (rios Poti e Parnaíba), missa campestre, festejos de barracas e comes e bebes às margens da primeira igreja da capital (capela de Nossa Senhora do Amparo) deram o mote de encontros familiares da comunidade festejada.

Os festejos juninos se quebram em junho, por vezes avançam julho e agosto na representação epifânica da morte do boi e as gentes ficam satisfeitas por suas memórias culturais revisitadas.

A nau capitã dos festejos juninos, na cidade, o 37º. Encontro Nacional de Folguedos, gerou alegria, diversão e purgação em festa aos dias de sagração e profandade culturais. Fez bem seu exercício de Casa pública.
(Bumba-meu-Boi[boi,  vaqueiro e caboclos brincantes]/fotos: Brito Jr.)

E, nesse agora, de acorda Brasil, espera-se que o país em ação política das ruas também influa nesse estado de descuido com a cidadania e recurso público, porque outros dias verão, os políticos locais e seus gabinetes azeitados de desvios de conduta, em que as manifestações exigirão + clareza dos negócios públicos. Quem viver, nesse ninho nepótico e despótico de política viciosa, verá com quantos paus se faz uma canoa, seja de povo gentio ou massas “gentis”.

O pão e o circo, embora eufemicamente divididos, parecem pratas mofadas. A cidade das ruas manifestadas urge aprender sobre a colheita do trigo de seu investimento.



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