Caerulea Rosa

 Caerulea Rosa
por maneco nascimento

“Lótus azul (Nymphaea caerulea) – A lótus azul é conhecida como flor-de-lis sagrada das águas. É uma planta de água viva que cresce nas margens dos lagos ou dos rios. No tempo dos antigos egípcios, a planta era considerada sagrada. O deus da lótus azul no antigo Egipto era Nefertem. Ele oferecia a lótus ao deus do sol Ra para acalmar as dores do seu corpo envelhecido. Os antigos egípcios apreciavam a flor não apenas pelo seu cheiro agradável, mas também pelas suas qualidades curativas. Muitas imagens egípcias mostram mulheres segurando a flor, cheirando sua fragrância divina (...)” (fonte: azarius.pt/smartshop/herbs/dried herbs/blue lótus flower)

“adormecida – Um sonho… Outra vida…” título original do livro do escritor Joca Nettu (Joaquim Lopes da Silva Neto), lançado neste ano. Também autor de “Enfileirador de Palavras – Versinhos dos Nossos Dias”, de 2012, (Poemas). 

Nessa nova obra, em prosa, o autor é também responsável pela arte da capa, a partir de foto de Susane Alencar. Com diagramação de Ivan Magalhães e Ilustrações de Rômulo Silvestre, impressa na WJ Gráfica, “adormecida – Um sonho... Outra vida...” tem papel literário. 

 
(capa do livro e autor/divulgação)

Com cuidado da escrita, texto ligeiro e romantizado, tendo como mote as interrelações entre matéria humana em entrechoque com experiências metafísicas, vai sendo desvelada a idéia perseguida do criador da ficção entre gentes e espíritos, bem presentes em memória, animismo e sensações apresentadas. 

Pétala é uma pós adolescente, de 19 anos, que começa a manter vivências extrassensoriais, através de sonhos, que vão cumulando até desfecho do encontro, com possível alma gêmea, no final do enredo apresentado. Em determinado momento, descobre que perdeu a mãe no parto que lhe deu vida, segredo mantido pelo pai.

Enricco (Ricco) Vertinni, o pai da garota, é estudioso na área da botânica e persegue a invenção da rosa azul, a rainha das rosas (mitologia). Durante os dezenove anos de pesquisa, mesmo período de desaparecimento da mulher, Gardenne, só espera uma solução, não científica, mas de prazer particular que seria facilitar o surgimento da rosa azul que prometera à mulher amada.

Gardenne, formada em arquitetura e amante das rosas, conhece Ricco na faculdade e, feitos um para o outro, casam-se. Ela engravida e embora saiba que seria uma gravidez de risco, assume ter sua filha. Morre com o nascimento da menina e o pai, em momento de desespero e luminosa inspiração, batiza a criança com o nome de Pétala, a filha (pedaço) da flor Gardenne.

Margareth, a francesa, é amiga de Gardenne. Estudaram juntas na faculdade e, com a morte da amiga, ficou muito próxima de Ricco e do bebê que precisavam de cuidados em momento tão difícil. Gabrielle, apaixonada por Ricco, foi a primeira a receber o convite de casamento de seu amado com Gardenne. Guardou o amor por vinte anos. Também ficou muito perto da família, sendo inclusive reconhecida, por Pétala, como sua mãe substituta. 

O drama se desenrola com fenômenos e experiências incomuns para quase todas as personagens desse núcleo central. As aproximações espirituais ou anímicas ocorrem, sempre, com o cheiro dominador de rosas e jasmins a invadir ambientes. 

Pétala tem visões dormindo, semiacordada, desmaiada. Ricco tem contato, com a mulher morta, através de sonhos, semiacordado, desmaiado e em visões especiais enquanto “acordado”. Gabrielle mantém contato com Gardenne através de um desmaio incomum, ou amortecimento.

Personagem que permanece em ação até cumprir missão na terra, Gardenne facilita entendimentos aos seus queridos, até reuni-los em final feliz. Também aponta caminhospara Pétala encontrar-se, fisicamente, com Nicholas (Nick), moço que buscou durante toda a vida, através dos sonhos, contato com a garota com nome de parte de uma rosa.

Depois de dezenove anos, de pesquisas continuadas, com apoio de empresa japonesa,Ricco por fim consegue realizar a promessa feita à mulher amada. Descobre a rosa azul. Todos os grandes desfechos da vida daquela família acontecem em dias de chuva.

A mulher morre de parto e nasce Pétala, em dia de chuva. Gabrielle sofre acidente e quase morre em dia de chuva. O surgimento da rosa azul e o desfecho de início à felicidade dos vivos também ocorre em dia de chuva.

Chuva, água, rosa, rosa azul, rosa rainha das rosas, emoções e lágrimas em sonhos e em vida real. Tudo de certa forma está regado à água. Há o amor fiel do marido à morta; o amor fiel da secundada que espera a decisão do homem amado por vinte anos; o amor do espírito da mulher que completa a missão de deixar a família feliz, e o amor, inconsciente, da garota pelo rapaz que encontra, a princípio, em sonhos e sinais.

“adormecida – Um sonho... Outra vida...” tem linguagem direta, capítulos curtos, entrecruzamento de história e memórias, com coerência e coesão textual e aborda tema de transcendência e transmutação espiritual, deslocamento da ânima da matéria como forma de abrir brechas de aproximação entre o físico e o metafísico.

 
(capa do livro e autor/divulgação) 

Não chega a ser ingênua a desconstrução enredada para relinkamento das vidas sobradas após uma morte traumática, também não foge do lugar comum. Sem virtuose de originalidade, compete em assunto que envolve “céu” e terra, matéria e espírito, desencontro e reorientação de vidas, sejam desta existência, ou quem sabe de outras. 

É obra que persegue sonhos, a concretização destes e apresenta o milagre da rainha das rosas que reunifica partes de sua própria essência, cura feridas, como lição de vida acima do conhecimento racional e material.

Foge da literatura de autoajuda e briga, no mercado literário, por seu próprio lugar ao sol em mundo cão de deuses literatos. Joca Nettu cumpre seu papel de escritor, o faz bem. O bom leitor que recepcione como bem quiser. Assim caminha a humanidade.