Escavações
por maneco nascimento
Dia 11 de setembro de 2012, no aniversário de 11 anos de derrubada das Torres
Gêmeas, a
cidade de Teresina recebeu + uma estreia de espetáculo da área de dança. O Grupo
Art Dança garimpou nova empreitada, batizada de “Buraco”. A apresentação deu-se
no novo palco do Teatro do Boi – Complexo do Matadouro, às
19h30, para um público bastante atraente e concentrado.
Na desconstrução, de arquitetura argamassada, operários da dança
erigiram novas malhas
cênicas ao repertório do Grupo. Dessa feita houve
nova engenharia à cena exposta. Com concepção e coreografia de Samuel
Alves,
criador convidado, o coletivo de dança experimentou outro material edificado
dentro de canteiro de obra já contumaz de trabalho.
Segundo release, trata-se de desvendar conflitos entre liberdade
e isolamento. Refletir que embora haja conquistas, descobertas, criações, o
homem permanece preso em si próprio. Segundo o tratamento de discurso à
dramaturgia, mesmo que o homem desbrave limites, quebre barreiras e paradigmas,
continua vivendo num vácuo, mergulhado nos próprios conflitos. As conveniências
sociais que norteiam o ser humano criariam um buraco e debelá-lo seria vencer “o
nosso inimigo: nós mesmos!”
“Buraco” tem direção geral de Francisco Moreno, coordenador
do Grupo Art Dança; desenho de luz, de Renato Caldas. A
concepção de figurino é também assinada por Samuel Alves.
A dramaturgia coreográfica de S. Alves aborda
a liberdade de ilustrar imagens e corpos introspectos em representações de
medos, frustrações, alegrias e livre pensar para comportamentos fugazes, ou
detidos em sensações afeitas a qualquer geração em gênero e arbítrio, inclusive
a dos jovens intérpretes bailarinos.
O rito de passagem, dramática, da cena se dá no procênio, com cortina
fechada para, em seguida, mergulhar num canteiro de obras demarcado, no palco,
por fitas de sinalização zebrada. Essa entrada já demonstra uma boa novidade. As
movimentações de baixo plano sob o mapa da fita sinalizadora da construção, uma
vida sendo domada à fuga do buraco, dado e impressionismo de recepção
particular meu.
De imagens ilustrativo-pedagógicas de “rastejamento” e
conquista de corpos eréteis, uma teoria da evolução em fugas e eterno retorno à
cratera das próprias existências conturbadas a emblemas de anatomias
experimentadas. Romper as fitas do canteiro de obras, outro movimento à frente e para
o alto da conquista do novo mundo.
Na desconstrução de sentidos óbvios, as cavas prospectadas aos novos
alicerces se utilizam de signos da construção civil, como cones zebrados e os
figurinos em listras horizontais florescentes que também causam bom efeito em
contraponto com a luz.
O corpo que dança a escrita coreográfica é composto por Alex
de Jesus, Eduardo Ananias, Edimária Araújo, Maiara Castro, Isabela Martins,
Wilames Portugal e Denis Aurélio. Uma juventude que viceja tônus e curiosa força determinada
para resultado estético comum. Elementam simbiose de atração ao público.
Alex de Jesus e Edimária Araújo formam, na montagem, um duo
bonito de ver. Ele é, destacadamente, corpo e mente + empertigado e anatomia
visivelmente afinada para dança e virtuose concentrada ao belo e plástico do
movimento apreendido.
Edimária Araújo também parece muito à vontade com a
experiência escolástica de aprendiz de magia da dança. + concentração dentro da
arte e fora da vaidade particularizada, talvez lhe dê régua e compasso melhor
apurados.
Todo o conjunto que interpreta a nova peça do repertório do Art
Dança compete à mesma finalidade, alçar liberdade e representar
fuga do “Buraco” das existências comezinhas da dramaturgia apresentada e
arbitrar cultura multiplicada à força da práxis artística de melhor escolha.
Tá ai um novo projeto na rua. Sem ruas a percorrer não há caminhos a
conquistar, nem palco para brilhar. Francisco Moreno que facilita a dança a esses
jovens bailarinos, desde que tinham suas primeiras aspirações adolescentes,
sabe em que vem aplicando investimento.
Escavações protegidas por engenharia de buscas, pesquisas de raízes
d’aldeia e ciência a “mens sana corpore sano” engenham patrimônio e arquitetura edificados para corpos em
que não há cataclismo da desrazão e insensibilidade que os abalem.
“Buraco” realiza uma ponte de escape engenhosa e delibera escavações
para salto da natureza criativa e criadora. É bem, compõe arte.
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