Casimira Quietinha
por maneco nascimento
O “Grupo As Petúnias de Teatro” estreou nova peça, ao repertório de direções de Marina Marques, à cena local. Dia 14 de setembro de 2012, às 19h30, no palco do Teatro Municipal João Paulo II, um público de estudantes, artistas e convidados outros puderam conferir a montagem de “Casimira Quietinha”, com texto original de Waldílio Siso.
No palco, um elenco com quem Marina Marques já mantém certa afinidade para construir projetos à cena livre. De laboratório iniciado com alunos da escola formal, onde desempenha função de educadora, a nova diretora/encenadora afinou piano para respostas destacáveis. Já havia apreciado de Marques a montagem infantil de “O Macaco Malandro” e, com “Casimira Quietinha”, confirma tino ao “mètier”.
Para obra literária de Waldílio Siso, a encenadora dedicou cuidados desde a cenografia simples, mas significativa, até figurinos, maquiagem e desenvoltura dos intérpretes que acompanham a sobriedade da construção estética escolhida.
O cenário se resume a um pé de “piquí”, que a princípio estaria sem florada. Uma árvore seca esperando sua renovação em flora. Os elementos físicos usados à árvores, cordas que contornam os relevos do tronco.
A cor do pequizeiro, o amarelo sóbrio do barbante de sisal. Em dado momento do enredo, a árvore ganha uma copa à base de guarda chuva, em gradação de maior ao menor, como composição de folhas e galhos. Cipós (fios de sisal) pendidos do interior dos guarda chuva complementam a fruteira do cerrado. Ainda dispõe de pequis que, à noitinha, ganham a licença poética de luz irradiando do fruto.
O figurino, original de Marina Marques, em companhia estreita com a cor do tronco da árvore, amarelo sóbrio. Vê-se roupas com detalhes de flores e elementos outros de identidade nordestinos, como cordão e barbante no acabamento da vestuária, etc.
As flores do pequizeiro estão impregnadas, suavemente, nas roupas, segunda “pele” das personagens. Uma transferência física do florescimento da árvore ao humano, ou simbiose entre o sertanejo e a árvore que o alimenta, acolhe em sombra e é também local de encontros fortuitos.
De material cenográfico que finalizam ao conjunto, abanos, chapéus de coro, esteira de palha de babaçu, candeeiro, entre outros objetos de identidade sertaneja. Embora possam parecer óbvios, os adereços têm função emblemática e de uso real, fogem do ilustrativo propriamente.
A maquiagem que adiciona a forma de um pequi, com sua cor original, contornado um dos olhos das personagens, outra transmutação do palpável na árvore que se sobrepõe no corpo do sertanejo e cria uma, talvez, ideia de natureza da terra tatuada na do homem. Não compromete, libera licença de inventar possibilidades de aproximação estética e lúdica na cena.
O texto de W. Siso, não só divertido mas impregnado da cultura popular picaresca e nativa rural que dá uma liberdade criadora à encenadora de trama criativa apresentada. Texto rimado e recheado de prosódia nativa. Cria um diferencial para bom riso, compreensão rápida do direto humor confeccionado. Um prato cheio de baião de dois, bem temperado, com sabor da terra.
A dramaturgia elementada, por Marina Marques, é clara e simples porque maneira + eficiente de encenar teatro. Concentrada no ator em que cada um, a seu tempo, desenvolve solo da personagem com graça particular do intérprete, em afluência com a personagem de gracejo construída.
O desenho de dramaturgia coaduna, organiza o desempenho dos intérpretes sem parecer marca forçada. O elenco está bem à vontade e diverte-se em fazer divertir o público. O narrador costureiro da cena e novidadeiro, o casal de enamorados, o pai da mocinha, o delegado, em cada uma das personagens subsídio aos atores para gracejar sem caricatura apelativa, nem caminhos que enviesem a dramaturgia assimilada.
A pesquisa musical e operação de áudio, de Lorena Campelo, também confirmam proposta de unidade da dramaturgia de palco construída. Há um esforço concentrado para melhor resultado.Cristina Pillar (Casimira Quietinha) consegue se entrosar com a personagem e domina seu tempo.
Marcos Antonio (Benjamin) tem desempenho destacável, trejeitos curiosamente histriônicos sem desandar no comum e risível. Contém construção feliz de cultura pedromalasartiana e vigor dinâmico de personagens reais da cultura popular de causos e prosódias. Tem na personagem uma távola de vitrine ao potencial de iniciado na arte de fingir.
Ary Veras (Narrador/novidadeiro) uma tranqüila intenção da personagem que desliza na cena sem ofender a práxis do teatro. José Carlos (Zé Mourão), um bonachão dono da fazenda que articula, com economia, um perfil de “coronel” brejeiro e concentrado no ouvido da terra, seu legado.
Sérgio Rêgo (Delegado) outra boa aquisição ao “Petúnias de Teatro”, compõe o conjunto e encontrou, na encenadora, um caminho de facilitação ao desejo de tornar-se ator.
Marina Marques detém nova carta à manga. A magia do teatro contaminou essa jovem diretora/encenadora e a cidade ganha + uma profissional do lado de cá do palco. A cidade agradece. Marques já sabe do seu caminho das pedras.
por maneco nascimento
O “Grupo As Petúnias de Teatro” estreou nova peça, ao repertório de direções de Marina Marques, à cena local. Dia 14 de setembro de 2012, às 19h30, no palco do Teatro Municipal João Paulo II, um público de estudantes, artistas e convidados outros puderam conferir a montagem de “Casimira Quietinha”, com texto original de Waldílio Siso.
No palco, um elenco com quem Marina Marques já mantém certa afinidade para construir projetos à cena livre. De laboratório iniciado com alunos da escola formal, onde desempenha função de educadora, a nova diretora/encenadora afinou piano para respostas destacáveis. Já havia apreciado de Marques a montagem infantil de “O Macaco Malandro” e, com “Casimira Quietinha”, confirma tino ao “mètier”.
Para obra literária de Waldílio Siso, a encenadora dedicou cuidados desde a cenografia simples, mas significativa, até figurinos, maquiagem e desenvoltura dos intérpretes que acompanham a sobriedade da construção estética escolhida.
O cenário se resume a um pé de “piquí”, que a princípio estaria sem florada. Uma árvore seca esperando sua renovação em flora. Os elementos físicos usados à árvores, cordas que contornam os relevos do tronco.
A cor do pequizeiro, o amarelo sóbrio do barbante de sisal. Em dado momento do enredo, a árvore ganha uma copa à base de guarda chuva, em gradação de maior ao menor, como composição de folhas e galhos. Cipós (fios de sisal) pendidos do interior dos guarda chuva complementam a fruteira do cerrado. Ainda dispõe de pequis que, à noitinha, ganham a licença poética de luz irradiando do fruto.
O figurino, original de Marina Marques, em companhia estreita com a cor do tronco da árvore, amarelo sóbrio. Vê-se roupas com detalhes de flores e elementos outros de identidade nordestinos, como cordão e barbante no acabamento da vestuária, etc.
As flores do pequizeiro estão impregnadas, suavemente, nas roupas, segunda “pele” das personagens. Uma transferência física do florescimento da árvore ao humano, ou simbiose entre o sertanejo e a árvore que o alimenta, acolhe em sombra e é também local de encontros fortuitos.
De material cenográfico que finalizam ao conjunto, abanos, chapéus de coro, esteira de palha de babaçu, candeeiro, entre outros objetos de identidade sertaneja. Embora possam parecer óbvios, os adereços têm função emblemática e de uso real, fogem do ilustrativo propriamente.
A maquiagem que adiciona a forma de um pequi, com sua cor original, contornado um dos olhos das personagens, outra transmutação do palpável na árvore que se sobrepõe no corpo do sertanejo e cria uma, talvez, ideia de natureza da terra tatuada na do homem. Não compromete, libera licença de inventar possibilidades de aproximação estética e lúdica na cena.
O texto de W. Siso, não só divertido mas impregnado da cultura popular picaresca e nativa rural que dá uma liberdade criadora à encenadora de trama criativa apresentada. Texto rimado e recheado de prosódia nativa. Cria um diferencial para bom riso, compreensão rápida do direto humor confeccionado. Um prato cheio de baião de dois, bem temperado, com sabor da terra.
A dramaturgia elementada, por Marina Marques, é clara e simples porque maneira + eficiente de encenar teatro. Concentrada no ator em que cada um, a seu tempo, desenvolve solo da personagem com graça particular do intérprete, em afluência com a personagem de gracejo construída.
O desenho de dramaturgia coaduna, organiza o desempenho dos intérpretes sem parecer marca forçada. O elenco está bem à vontade e diverte-se em fazer divertir o público. O narrador costureiro da cena e novidadeiro, o casal de enamorados, o pai da mocinha, o delegado, em cada uma das personagens subsídio aos atores para gracejar sem caricatura apelativa, nem caminhos que enviesem a dramaturgia assimilada.
A pesquisa musical e operação de áudio, de Lorena Campelo, também confirmam proposta de unidade da dramaturgia de palco construída. Há um esforço concentrado para melhor resultado.Cristina Pillar (Casimira Quietinha) consegue se entrosar com a personagem e domina seu tempo.
Marcos Antonio (Benjamin) tem desempenho destacável, trejeitos curiosamente histriônicos sem desandar no comum e risível. Contém construção feliz de cultura pedromalasartiana e vigor dinâmico de personagens reais da cultura popular de causos e prosódias. Tem na personagem uma távola de vitrine ao potencial de iniciado na arte de fingir.
Ary Veras (Narrador/novidadeiro) uma tranqüila intenção da personagem que desliza na cena sem ofender a práxis do teatro. José Carlos (Zé Mourão), um bonachão dono da fazenda que articula, com economia, um perfil de “coronel” brejeiro e concentrado no ouvido da terra, seu legado.
Sérgio Rêgo (Delegado) outra boa aquisição ao “Petúnias de Teatro”, compõe o conjunto e encontrou, na encenadora, um caminho de facilitação ao desejo de tornar-se ator.
Marina Marques detém nova carta à manga. A magia do teatro contaminou essa jovem diretora/encenadora e a cidade ganha + uma profissional do lado de cá do palco. A cidade agradece. Marques já sabe do seu caminho das pedras.
Olá, Maneco Nascimento! Sou o Marco Antônio Salesberg(Benjamim)e quero te dizer que estou muito feliz por essa sua inteligente atitude de comentar, muito bem, esse nosso trabalho ao qual apresentamos com muito amor. Felicito-me de ler umas coisas tão crescidas artisticamente e postadas por vc, já que é um dos maiores artistas de admiração da arte de representar. Ès rico em cultura, por isso não economizo em dizer que já sou seu grande adimirador. Obrigado.
ResponderExcluirobrigado. faço um papel de colecionador de memórias. faz bem a história da cidade e o mérito seria da posteridade e aos "futuros amantes", com diria Chico Buarque.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirlegal ler isso
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