“Louvando o que bem merece...”
por maneco nascimento
Nem tanto ao céu, nem tudo à terra. Outro dia, ouvi alguém dizer numa reunião
de trabalho “ninguém é todo bom ou todo mau”. Esse divisionismo do
caráter humano e cria da dualidade comportamental, por vezes, se sustenta,
embora não devesse ser regra de conduta explorada. Os da terra poderiam querer
todo o céu e os do céu poderiam urgir à apropriação de toda a terra não tão
disponível assim, pacatamente.
De certo é que a ascese nunca foi obra fácil e os santos purgaram velhas
culpas em nome da redenção da alma e em expiação da solidariedade aplicada ao
outro, talvez como passaporte a tempos de limpo espírito, ou natureza de
bondade fora do maniqueísmo do bom e do mau.
Nesses últimos dias, embora vivamos as mesmas e triviais
cenas e notícias de violência do homem lobo da própria espécie (Hobbes), a
banalidade do morde e assopra o cadáver, também convivemos com os
desdobramentos do fogo de poder e política do país de mensaleiros, da era Lula.
Estamos em dias de julgamento, pelo STF (céu supremo da justiça
mortal), do caso mensalão, aquela empresa de cortesias generosas
financiadas com o recurso público, que colhia apoio em democracia petista no
congresso nacional.
(Julgamento do caso mensalão/foto de Beto Barata/AE)
Já convivemos com parlamentar que teria ganhado na loteria
federal + de duas dezenas de vezes; presidente da república que pediu que o
Brasil usasse verde e amarelo e o país amanheceu de preto e cara pintada;
parlamentar que se livrava de seus detratores com serra elétrica; prefeito
sendo assassinado por desconfiar de manobras de impostos públicos na prefeitura
de sua jurisdição; negociatas e acordos com dinheiro público vazando de cuecas,
meias, malas e caixas de estorno de mercado “livre” da punidade.
País sui generis, o Brasil é também de ex-presidente petista que não acredita
na existência do mensalão. Dos fatos às circunstâncias já tivemos que
conviver com as marolas, firulas e a politização dos fatos públicos, ou
sinalização do desvio de conduta pública, orquestrados pela imprensa. Segundo os apontados no
olho do furacão do mundinho corrupto, a imprensa seria intrometida e
direcionada.
Por sorte, leis da mordaça e da imprensa não tiveram lugar de destaque
em nação insistente em ser democrática. Bem que houve boas intenções em limitar
o poder da imprensa, ou também da luz investigativa do CNJ, por exemplo. Mas
todo inferno também está cheio de boas intenções.
O Brasil sempre será país para ser lembrado como terra de futebol, samba,
mulata, generosidade, povo alegre e hospitaleiro e, + recentemente, de economia
em franca ascendência, desbancando velhas economias.
Também não poderá ser esquecido como país de altos índices de crime
no trânsito, especialmente porque o brasileiro é um motorista bêbado; violência
doméstica e sexual e terra de corrupção ativada com a quase certeza cultuada de
“green card” da impunidade.
Mas esperem, há algo de muito novo no fim do túnel. A Ficha Limpa parece
ser um ótimo começo. O julgamento do mensalão, também. E para louvação do que
mereça ser louvado, louvemos os rumos que devem tomar
esse julgamento no Supremo Tribunal Federal, com sua Corte de centrados
senhores da lei de última instância.
E louvar boas iniciativas é lei, então louvemos Roberto
DaMatta que, em seu artigo “Na porta do Céu”, publicado em O Estado de
São Paulo e, no estadão.com.br/cultura, datado de 05 de setembro de 2012, às
3h12, nos mostra fábula da chegada de um mortal ao céu, enquanto
transversaliza com os incômodos que vêm causando esse julgamento do STF, de
características à exemplaridade jurídica para boa parte dos brasileiros.
E aponta, em seu texto: “Outro dia, um velho e
querido amigo petista reclamou comigo da ‘politização’ do caso. Mas como
poderia ser de outro modo se tudo o que era do PT (e da chamada ‘esquerda’ em
geral) – do café da manhã aos desfiles carnavalescos e os jogos de futebol, sem
esquecer o amor e o sexo – era (ou deveria ser) politizado? E como não ter
desdobramentos políticos se o caso começa precisamente motivado por uma perspectiva
da política e do poder? (...)” (DaMatta, Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de
2012, 3h 12)
E continua o articulista, “Por outro lado, essa
politização está contida pelas etiquetas legais e pelos procedimentos
jurídicos. Ninguém deseja destruir ninguém e muito menos um partido com a
importância do PT. Agora, julgar aquilo que surgiu como engodo coletivo e como
um plano para evitar o jogo liberal e igualitário de ganhar para depois perder
e, em seguida, ganhar novamente, como sendo um evento trivial seria não somente
leviandade, mas uma fuga dos desafios que a democracia demanda da sociedade
brasileira (...)” (DaMatta, Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de
2012, 3h 12)
País livre para ter quem julgue o mensalão como inexistente, um mito
popular. Às vezes do saci, ou caipora? Mas, como em toda democracia, há espaço
também para os céticos, pragmáticos e científicos que, na aritmética das
provas, discorda da inexistência do mensalão, acredita que haja justiça não viciada
e vota para que mensaleiros com nomes, rostos, endereços e contas bancárias
rechonchudas, mesmo que em nome das mulheres e laranjas, não escapem de justiça
exemplar. O país vota um crédito na justiça.
Roberto DaMatta encerra seu ótimo artigo nos apresentando exemplo de que
podemos ser país probo e livre, “Por isso, não há como fugir dessas duras viagens pelos labirintos das
verdades e das mentiras. Por mais que isso aflija os que estão no mais alto
poder e os que lá estiveram e se sentiram como deuses; ou fantasiaram o mundo
como um circo de cavalinhos e pensaram que todos eram otários.” (DaMatta,
Roberto. Na porta do Céu/estadão.com.br. 05 de setembro de 2012, 3h 12)
“Louvando o que bem merece, deixando o ruim de lado...” (G.
Gil). Que
louve-se o livre pensamento!
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