Loyola, 10 anos!
por maneco nascimento
Era noite do 11 de junho de 2012, lá pelas 19 horas e alguns caroços de minutos, quando o grande Loyola falaria sobre vida, memória, histórias, histórias políticas, política de cultura e memórias de melhores dias. Tudo com simplicidade e bom humor característico do nosso querido Ignácio, que não deve ao santo qualquer santidade, por o preferirmos profano, mas talvez com a mesma verve do conhecimento, do saber aprendendo a saber e da tranqüila maneira de comunicar sempre informando.
por maneco nascimento
Era noite do 11 de junho de 2012, lá pelas 19 horas e alguns caroços de minutos, quando o grande Loyola falaria sobre vida, memória, histórias, histórias políticas, política de cultura e memórias de melhores dias. Tudo com simplicidade e bom humor característico do nosso querido Ignácio, que não deve ao santo qualquer santidade, por o preferirmos profano, mas talvez com a mesma verve do conhecimento, do saber aprendendo a saber e da tranqüila maneira de comunicar sempre informando.
(Ignácio de Loyola Brandão/foto colhida de: www.parana.online.com.br)
Foi recepcionado por o músico Marcel Regis e a cantora Athenea. Ao fundo a marca temática deste ano, Centenário Jorge Amado, Luiz Gonzaga e Nelson Rodrigues (lado direito) e Ano Francisco Pereira da Silva, SALIPI 2012, O fim do mundo é não ler. Na sala de estar montada, um sofá em que Cineas era às vezes de anfitrião e um bar com banco alto em que Loyola Brandão aguardava o momento de se fazer + nosso amigo.
Abriu suas falas falando de algo que o intrigava, a saudação “boa noite a todos e a todas”, se a expressão todos já não representaria o masculino e feminino. Para o que uma amiga, sua, feminista contra argumentou ser a gramática machista. Também lembrou que em São Paulo, sua terra, ao se dizer “obrigado” a alguém, a resposta vem como “imagina!”. Claro que a gente riu desse início livre de conversa e, no mínimo, divertido, especialmente pela maneira cheia de graça com que contava as “velhas” novidades.
E mandou essa “se não nasceu ninguém entre as seis da manhã e meio dia, eu sou o mais novo piauiense nascido aqui.” Tratava do título de cidadania piauiense que recebera nesse dia, honraria possibilitada pela iniciativa da deputada estadual Margareth Coelho. Lembrou da primeira vez que veio ao Piauí, 1976, e foi recepcionado pelos amigos e transportado em um fusca. Temia que sua palestra, num sábado, talvez não tivesse assistência, mas a cidade o recebera já muito bem naqueles dias.
Constatou que alguma coisa acontecia fora do eixo Rio/São Paulo e que o SALIPI é uma das provas de que o estado está na geografia do Brasil, como todas as outras feiras nacionais. Lembrou das iniciativas de Passo Fundo, de Fortaleza, Porto Alegre e acrescentou que gostava de vir ao SALIPI, porque na Bienal de São Paulo já não acontecia nada de novo.
Tratou dos biógrafos que se apaixonam pelos seus biografado(a)s. Citou Zé Castelo que biografou Vinícius de Moraes e era apaixonado pelo poeta, sabia tudo sobre o poetinha. Assim começou a penetrar no assunto do livro “Ruth Cardoso – fragmentos de uma vida”. Voltou a sua terra natal, Araraquara, interior de São Paulo, também berço de dona Ruth.
A cidade, suas memórias, a escola de 1950 quando o professor ainda olhava no fundo do olho de cada criança e que a mãe de Ruth Cardoso, uma educadora já desempenhava uma aula criativa, ensinando biologia do entendimento a partir de histórias contadas para os que não assimilavam o assunto. Segundo ele, dali já havia uma virtuose artística da educação que dona Ruth herdaria para sempre.
A escolha do biógrafo de Ruth Cardoso, após algumas especulações, fechou-se na pessoa de Ignácio de Loyola, por sugestão de Fernando Henrique Cardoso, que àquele, Loyola fora o cara que fizera a entrevista que ela + gostara. Falou dos quinze anos como editor da revista feminina Vogue e de como conseguiu uma exclusiva e relutada entrevista com a grande Ruth Cardoso. Através da conversa para duas horas que se fecharam em cinco, com um café para duas pessoas.
Na entrevista, Ruth recuperara, segundo ela confessou, a cidade que tinha desaparecido. Nas palavras dela: “através dessa matéria recuperei a cidade que tinha perdido” e que não encontrara quando teve que voltar terra natal e procurou-a da janela do hotel. Sobre o livro, o papel de jornalista seria fazer um perfil da mulher que sai de Araraquara e revoluciona o estudo da antropologia brasileira.
Essa cientista da USP abordou a antropologia da periferia, do operariado, das favelas, sua pesquisa abriu novo olhar no contexto social real e suas discípulas a adoravam. Na universidade, quando estudante, conheceu Fernando Henrique, o gostosão de bela chita, no dizer ararquarense. Formaram o casal + célebre da história do Brasil.
Dessa mulher, o livro trata da participante do movimento feminista de São Paulo. Como primeira dama do Brasil criou o Comunidade Solidária, acabou com a LBA, assistencialista e cabide de empregos. Criou o 3º. Setor com entidades civis, seduziu empresários em apoio a seu projeto. Desdobrou o Projeto em Universidade Solidária, Alfabetização Solidária e Artesanato Solidário, sem o atravessador do artista e criador popular. E o serviço era voluntário e exigia profissionalismo do envolvido.
Nessa aula de memória e história nacional, Loyola ainda apontou os problemas cardíacos que Ruth apresentou em 2008 e de como depois, na cozinha de sua casa, na companhia de seu filho Paulo H. Cardoso, sem apresentar qualquer sinal de passagem, teria dito “ui!” e caído morta no chão de casa.
Para Loyola foi um dos + concorridos enterros, nunca tinha visto tantas coroas, uma montanha de coroas, telegramas do mundo inteiro. Na véspera, ela teria enviado mensagem, via celular, a amigos, dizendo que estava bem. Só na missa de sétimo dia, preparada pelos amigos em sua memória, é que sua amiga Regina Esteves, da Alfabetização Solidária, recebera no telefone a mensagem que Ruth enviara sete dias antes. Coisas que não se explicam, vaticina o biógrafo.
De certo é que a nossa conversa, de Inácio e nós público que lotou o 4 de Setembro, àquela noite, foi de um prazer inestimável. O Brasil passava por aquela noite e sua memória sendo regurgitada para deleite da assistência. E ali estava a prova de que o biógrafo se apaixona pelo(a) biografado(a). Loyola é louco pela Ruth Cardoso.
Ele, no início da conversa, lembrou que foi conceder uma entrevista a uma emissora de televisão local e que antes o repórter abriu uma preleção sobre a biografia construída e que, na altura da conversa, o jornalista perguntou se havia existido um “afair” entre o biógrafo e a biografada. Educadamente respondeu que não, porque ela já estava morta, no momento da elaboração do livro.
(Ignácio de Loyola Brandão/foto colhida de: www.folhacidade.com.br)
Profissional desavisado, ou talvez conhecedor só da história da era febril das redes sociais e simulacro do conhecimento e leituras a fluxos contínuos e, por vezes, fugazes da comunicação do silício. Não emendou o repórter que a paixão a que o autor se referia, seria a do universo do biografado(a) e não das paixões ligeiras e ficantes das novelas de tevê.
De Ignácio de Loyola Brandão guarda-se uma boa memória do intelectual, sem frescuras de vaidades ensebadas, e de um humor muito peculiar. Detentor de uma comunicação apaixonante, esse cidadão do mundo é também agora orgulho de cidadania piauiense. E, como disse Cineas, encerrando a conversa, a noite foi uma aula de bom humor.
Loyola, 10 anos!
Expediente de memórias:
Dias da infância em Araraquara: o avô marceneiro que construiu, talhando a ferro e força, um carrossel itinerante, na época em que não havia, ainda, os parques infantis elétricos e que era transportado a carro de boi; o carrossel incendiado; os olhos dos cavalos (bolinhas de vidro) guardados como relíquias do brinquedo coletivo e perdidas no jogo pela neto traquina e a caixa talhada, cuidadosamente, que preservava os olhos dos cavalos, dada de presente ao neto para que guardasse suas lembranças. Lembranças compartilhadas de dias de memórias + felizes.
Foi recepcionado por o músico Marcel Regis e a cantora Athenea. Ao fundo a marca temática deste ano, Centenário Jorge Amado, Luiz Gonzaga e Nelson Rodrigues (lado direito) e Ano Francisco Pereira da Silva, SALIPI 2012, O fim do mundo é não ler. Na sala de estar montada, um sofá em que Cineas era às vezes de anfitrião e um bar com banco alto em que Loyola Brandão aguardava o momento de se fazer + nosso amigo.
Abriu suas falas falando de algo que o intrigava, a saudação “boa noite a todos e a todas”, se a expressão todos já não representaria o masculino e feminino. Para o que uma amiga, sua, feminista contra argumentou ser a gramática machista. Também lembrou que em São Paulo, sua terra, ao se dizer “obrigado” a alguém, a resposta vem como “imagina!”. Claro que a gente riu desse início livre de conversa e, no mínimo, divertido, especialmente pela maneira cheia de graça com que contava as “velhas” novidades.
E mandou essa “se não nasceu ninguém entre as seis da manhã e meio dia, eu sou o mais novo piauiense nascido aqui.” Tratava do título de cidadania piauiense que recebera nesse dia, honraria possibilitada pela iniciativa da deputada estadual Margareth Coelho. Lembrou da primeira vez que veio ao Piauí, 1976, e foi recepcionado pelos amigos e transportado em um fusca. Temia que sua palestra, num sábado, talvez não tivesse assistência, mas a cidade o recebera já muito bem naqueles dias.
Constatou que alguma coisa acontecia fora do eixo Rio/São Paulo e que o SALIPI é uma das provas de que o estado está na geografia do Brasil, como todas as outras feiras nacionais. Lembrou das iniciativas de Passo Fundo, de Fortaleza, Porto Alegre e acrescentou que gostava de vir ao SALIPI, porque na Bienal de São Paulo já não acontecia nada de novo.
Tratou dos biógrafos que se apaixonam pelos seus biografado(a)s. Citou Zé Castelo que biografou Vinícius de Moraes e era apaixonado pelo poeta, sabia tudo sobre o poetinha. Assim começou a penetrar no assunto do livro “Ruth Cardoso – fragmentos de uma vida”. Voltou a sua terra natal, Araraquara, interior de São Paulo, também berço de dona Ruth.
A cidade, suas memórias, a escola de 1950 quando o professor ainda olhava no fundo do olho de cada criança e que a mãe de Ruth Cardoso, uma educadora já desempenhava uma aula criativa, ensinando biologia do entendimento a partir de histórias contadas para os que não assimilavam o assunto. Segundo ele, dali já havia uma virtuose artística da educação que dona Ruth herdaria para sempre.
A escolha do biógrafo de Ruth Cardoso, após algumas especulações, fechou-se na pessoa de Ignácio de Loyola, por sugestão de Fernando Henrique Cardoso, que àquele, Loyola fora o cara que fizera a entrevista que ela + gostara. Falou dos quinze anos como editor da revista feminina Vogue e de como conseguiu uma exclusiva e relutada entrevista com a grande Ruth Cardoso. Através da conversa para duas horas que se fecharam em cinco, com um café para duas pessoas.
Na entrevista, Ruth recuperara, segundo ela confessou, a cidade que tinha desaparecido. Nas palavras dela: “através dessa matéria recuperei a cidade que tinha perdido” e que não encontrara quando teve que voltar terra natal e procurou-a da janela do hotel. Sobre o livro, o papel de jornalista seria fazer um perfil da mulher que sai de Araraquara e revoluciona o estudo da antropologia brasileira.
Essa cientista da USP abordou a antropologia da periferia, do operariado, das favelas, sua pesquisa abriu novo olhar no contexto social real e suas discípulas a adoravam. Na universidade, quando estudante, conheceu Fernando Henrique, o gostosão de bela chita, no dizer ararquarense. Formaram o casal + célebre da história do Brasil.
Dessa mulher, o livro trata da participante do movimento feminista de São Paulo. Como primeira dama do Brasil criou o Comunidade Solidária, acabou com a LBA, assistencialista e cabide de empregos. Criou o 3º. Setor com entidades civis, seduziu empresários em apoio a seu projeto. Desdobrou o Projeto em Universidade Solidária, Alfabetização Solidária e Artesanato Solidário, sem o atravessador do artista e criador popular. E o serviço era voluntário e exigia profissionalismo do envolvido.
Nessa aula de memória e história nacional, Loyola ainda apontou os problemas cardíacos que Ruth apresentou em 2008 e de como depois, na cozinha de sua casa, na companhia de seu filho Paulo H. Cardoso, sem apresentar qualquer sinal de passagem, teria dito “ui!” e caído morta no chão de casa.
Para Loyola foi um dos + concorridos enterros, nunca tinha visto tantas coroas, uma montanha de coroas, telegramas do mundo inteiro. Na véspera, ela teria enviado mensagem, via celular, a amigos, dizendo que estava bem. Só na missa de sétimo dia, preparada pelos amigos em sua memória, é que sua amiga Regina Esteves, da Alfabetização Solidária, recebera no telefone a mensagem que Ruth enviara sete dias antes. Coisas que não se explicam, vaticina o biógrafo.
De certo é que a nossa conversa, de Inácio e nós público que lotou o 4 de Setembro, àquela noite, foi de um prazer inestimável. O Brasil passava por aquela noite e sua memória sendo regurgitada para deleite da assistência. E ali estava a prova de que o biógrafo se apaixona pelo(a) biografado(a). Loyola é louco pela Ruth Cardoso.
Ele, no início da conversa, lembrou que foi conceder uma entrevista a uma emissora de televisão local e que antes o repórter abriu uma preleção sobre a biografia construída e que, na altura da conversa, o jornalista perguntou se havia existido um “afair” entre o biógrafo e a biografada. Educadamente respondeu que não, porque ela já estava morta, no momento da elaboração do livro.
(Ignácio de Loyola Brandão/foto colhida de: www.folhacidade.com.br)
Profissional desavisado, ou talvez conhecedor só da história da era febril das redes sociais e simulacro do conhecimento e leituras a fluxos contínuos e, por vezes, fugazes da comunicação do silício. Não emendou o repórter que a paixão a que o autor se referia, seria a do universo do biografado(a) e não das paixões ligeiras e ficantes das novelas de tevê.
De Ignácio de Loyola Brandão guarda-se uma boa memória do intelectual, sem frescuras de vaidades ensebadas, e de um humor muito peculiar. Detentor de uma comunicação apaixonante, esse cidadão do mundo é também agora orgulho de cidadania piauiense. E, como disse Cineas, encerrando a conversa, a noite foi uma aula de bom humor.
Loyola, 10 anos!
Expediente de memórias:
Dias da infância em Araraquara: o avô marceneiro que construiu, talhando a ferro e força, um carrossel itinerante, na época em que não havia, ainda, os parques infantis elétricos e que era transportado a carro de boi; o carrossel incendiado; os olhos dos cavalos (bolinhas de vidro) guardados como relíquias do brinquedo coletivo e perdidas no jogo pela neto traquina e a caixa talhada, cuidadosamente, que preservava os olhos dos cavalos, dada de presente ao neto para que guardasse suas lembranças. Lembranças compartilhadas de dias de memórias + felizes.
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