o olhar de Genu
por maneco nascimento
Memórias, história, política, bastidores de gabinetes, decisões da política local em consonância, ou não, com o quadro nacional, visitantes ilustres, amizades célebres e muitas lembranças vividas em viagens, festas, encontros sociais e de lazer, projetos familiares e de negócios e uma particular e, excelente radiografia do mundo dos bem nascidos na cidade, ou interior do estado, que definiram rumos sócio políticos culturais na gleba dos presentes na construção social piauiense.
Memórias dos velhos e novos troncos familiares intrincados na genealogia de Genu Moraes perpassam o livro "Genu Moraes - a Mulher e o Tempo" e vêm recheadas de humor, coragem em revelar dados guardados por longo tempo, lembranças de dias e anos dourados, encontros e despedidas de pessoas com quem cruzou laços de amizade e política e práticas comportamentais e revolucionárias para a Mulher à frente de seu Tempo e dona de sua liberdade.
A Obra, organizada a partir de depoimentos concedidos ao amigo e colega de profissão, Kenard Kruel, repercute a vida e obra da jornalista, política, atriz, mãe de família, filha de ex-Governador de estado, escritora, senhorinha carismática e de uma educação para receber e ouvir quem a procurasse na busca de informações acerca da memória da cidade.
Entremeiam fatos políticos, artísticos e culturais que deslizam por toda uma vivência genumoraeseana a árvore genealógica de sua casa de terras, família, propriedade, tradição e revela em rebuscado de memórias contadas, fatos e atos indispensáveis a novas pesquisas, olhares, recortes de academia e ciência que reverberem imersão por caminhos que tragam + luzes aos porões da história local, entrecruzadas com o eixo nacional, seja do século XIX, todo o século XX e dias de conservadas relações nesse nosso XXI.
"Família tradicional nordestina, uma família patriarcal como se lê em romances, e que existia realmente, no início do século XX. O pai de meu pai (meu avô, de quem herdei o nome), o Coronel Jozias, certamente cristão-novo, um mascate que construiu um Império, em um porto longínquo do Nordeste brasileiro, na beira do Delta do Parnaíba: Amarração, a cidade depois batizada Luiz Correia, como seu irmão mais novo, tio do meu pai. Quando meu pai nasceu, caçula de 14 irmãos, o Império já era comandado pelo filho mais velho do meu avô, o maquiavélico Zeca Moraes; meu pai, filho caçula-temporão, era como que neto do pai dele, o que lhe permitia ser um pouco mais moderno, o Antônio, o artista." (Jozias Benedicto IN Genu Moraes - a Mulher e o Tempo [Antônio Severiano de Moraes Correia, pag. 603])
As falas e vozes sociais, da autora retratada à pena da própria memória, ganham cor e respaldo pela riqueza de fatos históricos, dados novos que imbricam o memorial da cidade em construção e da sociedade que representou seu tempo político de tornar-se o Piauí em sua atualidade.
(Genu Moraes, ou, simplesmente, Genu/foto: Kenard Kruel)
O Livro é a própria história dinâmica da jornalista e combativa politica, com riquezas de detalhes e preciosos diálogos entre amigos e pares de convivência saudável, em que não podem prescindir seus bons relacionamentos com figuras importantes do cenário nacional,
"Agora, na missa de sétimo dia de dona Kiola Ferreira de Araújo Costa, mãe de Sarney, falecida em 16 de janeiro de 2004 (...) o Vidigal disse numa roda, em que estava o Sarney, em companhia de seu assessor especial no Senado Federal, jornalista Armando Sobral Rollemberg, e de muitos outros, que, quando ele esteve preso, com o Bandeira Tribuzi, no 24º. BC, em São Luís, após o golpe civil militar de 1964, eu tinha sido a primeira e das poucas pessoas a visitá-los, porque eu era uma mulher de fibra, de coragem, e... não completou a frase, quem a completou foi o Sarney, dizendo... - 'e muito louca, a Genu sempre foi uma mulher muito louca.' Eu disse: - 'ô, Sarney, deixe disso!'" (Genu Moraes - a Mulher e o Tempo [Edson Vidigal, pag. 503])
Ela, "muito louca", segundo Sarney, seu amigo pessoal, era também combativa, solidária e justa e foi assim com Juscelino, o Kubistchek. Lembra das vezes em que ele esteve em São Luis. "Na quarta vez, foi justamente no dia nebuloso de 12 de dezembro de 1968. O Dr. Juscelino Kubistchek, que se encontrava com os direitos políticos cassados e vivera no exílio de junho de 1964 a abril de 1967, foi convidado para ser paraninfo e proferir palestra na primeira turma do curso de Economia da Universidade Federal do Maranhão (...) O Dr. Juscelino Kubistchek foi nosso hóspede. Nunca vi pessoa mais simpática e simples. Passou dois dias conosco na residência do Olho D'Água (...) Antes de fazer o discurso, o Dr. Juscelino Kubistchek me perguntou qual era a tendência do auditório. Eu disse que era eclética, entretanto todos eram JK de carteirinha. Rindo muito, ele disse que estava feliz com a minha resposta." (Genu Moraes - a Mulher e o Tempo [Juscelino Kubistchek, pags. 527, 528, 529])
Essa era e sempre será a, simplesmente, Genu, como alcunhou proximidade com quem a quisesse manter às pompas. Ela está em sua inteireza de ser como sempre foi, franqueza de dizer o que pensava e queria e atitude de livre arbítrio que a tornou Genu Moraes. Está tudo lá, no Livro Genu Moraes - a Mulher e o Tempo.
Sua memória viva e sua história que perpassa pelo casarão da Rua Antonino Freire. "Este casarão representa muito para mim. Tudo nele é sagrado. Não me vejo fora dele. Aqui, em minha volta, eu tenho tudo o que eu quero de maneira rápida e fácil. Por ser central, todos os que passam pelo centro, passam por aqui. De forma que o casarão vive repleto de pessoas. Eu adoro receber visitas. Eu recebo, com a mesma distinção, estudantes, professores, pesquisadores, empresários, políticos, os ex-empregados das fazendas de papai, enfim, todos que me procuram para alguma coisa. Só não tolero mais falar sobre a Praça Pedro II e a Paissandu. No restante, eu estou sempre disponível!"(Genu Moraes - a Mulher e o Tempo [Tudo no casarão é sagrado, pag. 553])
A Obra, "Genu Moraes - a Mulher e o Tempo", é uma sala de visitas à história da cidade de Teresina e do estado do Piauí. Memórias dos guardados da senhora Genu.
É de leitura recomendável, quiçá indispensável a quem se interesse por bens tangíveis e intangíveis da memória social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário