Tigres , onças e gatos maracajás
por
maneco nascimento
Maputo – Moçambique - brindou a Semana da Lusofonia
com seu teatro humorado, de dramaturgia prática e de uma simplicidade de
apresentação que inteligencia, sem esforço, uma cena de concretude de domínio
ao palco. A encenação deu-se no palco do Theatro 4 de Setembro, às 20h30, na noite do dia 29 de agosto.
“Há Tigres no Congo?” se ambienta em
cenografia comum, de escritório, como ilustrativo útil para o que realmente
importa na dramaturgia de cena e nas falas sociais contidas ao diálogo travado
entre as duas personagens que constroem um texto de comédia para futura
montagem.
Com Produção de Manuela Soeiro, Direcção e
Adaptação de Graça Silva, a peça moçambicana, do Grupo de Teatro Mutumbela
Gogo, de Maputo, desempenha um enredo de 50 minutos, com uma leveza de
comunicação e naturalidade de encenar seu teatro de forma carismática que não
há como não se envolver com o enredo.
A encenação numa busca de encontrar o texto ideal, a uma nova encenação
, colhe um metateatro que se desenrola com humor perspicaz e centrado em
escolhas, aparentemente fáceis, mas definidas por estratégias inteligentes de
coesão e coerência dramáticas à construção do teatro que idealizam transformar
em história.
Diálogos indiretos para comunicação direta da carpintaria do texto, que
finge não ser ideia construtivista da cena, enquanto constroem no paralelo a
discussão séria acerca da AIDS, confundindo-se ficção e realidade, de maneira
risível, para não criar drama sobre assunto já bastante sério na vida real.
(Há Tigres no Congo?, pensa ele./divulgação)
De forma dinâmica, os actores Adelino Branquinho e
Jorge Vaz desenrolam, com competência de atuação, a história real da cena
enquanto maquinam na construção da história de ficção. Uma sacada esperta da
dramaturgia textual, falar de riscos e contágio pelo HIV sem criar ação
pedagógica de saúde, nem didática de teatro institucional.
(Não há tigres no Congo. Na cena rugem os actores/divulgação)
Só teatro como qualquer um que sabemos fazer, mas com um adicional de
tratar da SIDA, numa brincadeira séria e teatral, habituada num encontro
cotidiano de trabalho entre dois amigos.
O traquejo dos actores e a liberdade em que foram inseridos, da trama
inteligente que mapeia o exercício do fingimento, os faz dominadores da savana
para tigres, onças e gatos pintados maracajás.
Há tigres no Congo, sim. Têm listras largas e de cor ouro criativo. Há
também artistas perspicazes e concentrados na cena elaborada de assinatura
maputiana.
Eles demarcam o território de lusofonia ampliada e deixam seu rastro de
confortável entendimento e amor incondicional ao fazer teatral. Rugem
Moçambique para além dos rudimentos da cena vaidosa e devoram a assistência com
esforço felino de lamber a cria para efeito de reflexão social e arte que
discuta o coletivo à cena e além da cena.
“Há Tigres no Congo?”. Com certeza há e trazem no
peso das pegadas, que marcam terra dramática, o nome de Grupo de Teatro
Mutumbela Gogo, de Maputo no Moçambique. Rugem teatro qualificado.
Tudo se torna mais palatável no olhar artístico, o que poderia ser trágico vira obra!
ResponderExcluiro trágico é princípio natural do teatro
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